Ricardo Reis Soares faz da memória uma dança em “A Velha Bailarina”

Ricardo Reis Soares. Crédito Fotografia: Vítor Martins

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“A Velha Bailarina” é o novo tema de Ricardo Reis Soares e o terceiro avanço do EP Contra Tempo, com lançamento previsto para o final de 2025. Natural de Braga e atualmente a viver em Lisboa, o cantautor continua a explorar uma escrita intimista, sensível ao detalhe e às histórias silenciosas que habitam o quotidiano. Desta vez, é o corpo que dança com o tempo, e uma bailarina que resiste à passagem dos dias, com a memória cravada nos gestos.

A nova canção, já disponível nas plataformas digitais, retrata a velhice com ternura e melancolia. A protagonista é uma mulher idosa, ex-bailarina, que reencontra a dança no reflexo do seu corpo envelhecido. Em cada movimento, carrega a memória do palco, da juventude e da beleza que o tempo não apagou, mas transformou. É uma reflexão delicada sobre o envelhecimento e a dignidade inscrita nas marcas do tempo.

“A Velha Bailarina”: Um vídeo emotivo no theatro-club da Póvoa de Lanhoso

O videoclipe de “A Velha Bailarina” foi filmado no histórico theatro-club da Póvoa de Lanhoso, com realização de Luís Castro. A narrativa visual conta com duas presenças especiais: Margarida Braz, bailarina que interpreta a figura da protagonista, e a avó Guida, avó de Ricardo Reis Soares, cuja presença confere ainda mais autenticidade e emoção ao tema. O resultado é um retrato tocante, onde a memória e o afeto se fundem em movimento.

Ricardo Reis Soares, capa do single "A Velha Bailarina"
Ricardo Reis Soares, capa do single “A Velha Bailarina”

Letra de “A Velha Bailarina” de Ricardo Reis Soares:

Um sopro cansado no silêncio

Solta memórias que o velho tempo

Desfaz em pó

O rosto pesado de momentos

Grita as histórias que o velho medo

Refaz tão só

Fecho os olhos, já não sei

Se o meu corpo balança

Se roda no vazio

Mesmo que encharcado e frio

Embalo as horas só para ver

Se o pé descalço dança

Se enche o céu de flores

Espalhe cores num só rodopio

E me lembre quem sou

As mãos enrugadas, desalento

Vestido amarrotado que já não assenta

Já não serve bem

O corpo curvado e sedento

Dum palco iluminado, uma plateia atenta

Não se vê ninguém

Fecho os olhos, já não sei

Se o meu corpo balança

Se roda no vazio

Mesmo que encharcado e frio

Embalo as horas só para ver

Se o pé descalço dança

Se enche o céu de flores

Espalhe cores num só rodopio

E me lembre quem sou

Bengala ao chão

Cabelo ao vento

Talvez canção

Talvez lamento

Se mais não digo

Falo do tempo

Dos males antigos

Sacudo o medo

São horas demasiado lentas

Contra a pressa de cada dia

Se a memória não me falha

Já Saramago dizia

E sem querer incomodar

Só uma coisa vos pedia

Neste resto de solidão

Um resto de companhia

Ricardo Reis Soares

Desde muito novo que a música acompanha Ricardo Reis Soares. Primeiro com um teclado Casio aos quatro anos, depois com aulas de piano, até encontrar na guitarra a sua maior confidente. Estudou na Academia Valentim de Carvalho e mais tarde mergulhou no jazz no Hot Clube de Portugal.

Ricardo Reis Soares ao vivo. Crédito Fotografia: João Vieira
Ricardo Reis Soares ao vivo. Crédito Fotografia: João Vieira

A sua escrita parte da escuta atenta do mundo: os gestos mais simples, as personagens discretas, as cidades por onde passa. As suas canções são histórias que se desdobram com honestidade e subtileza. Depois de se dar a conhecer com “Diz-me Quanto Tempo” e A Noite, temas que abordam a inquietação, a solidão e a procura interior, “A Velha Bailarina” confirma o seu talento para olhar o mundo com delicadeza.

Enquanto o EP Contra Tempo não chega, Ricardo continua a apresentar as suas canções em formato solo ou com banda. Os próximos concertos estão marcados para Lisboa: a 19 de julho na Cossoul e a 3 de agosto na Tasca das Artes. Uma oportunidade para ouvir ao vivo canções que falam baixo, mas dizem muito. Não te esqueças de seguir o Ricardo Reis Soares no seu Instagram!

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.