A Native Instruments surpreende a comunidade de produtores e sound designers ao anunciar o Absynth 6 no dia 9 de dezembro de 2025 (hoje), marcando assim o regresso triunfal de um dos sintetizadores mais influentes da história da música eletrónica.
Três anos após descontinuar o lendário Absynth 5, a empresa alemã decidiu trazer de volta o instrumento em parceria com Brian Clevinger, o criador original que esteve ausente do projeto desde a sua aquisição em 2001.
O novo Absynth 6 chega carregado de funcionalidades que refletem o estado da arte em 2025: suporte completo a MPE com aftertouch polifónico, espacialização surround multicanal, microafinação global via MTS-ESP e um browser de presets inteligente alimentado por deep learning. Os preços mantêm-se acessíveis: 199€ para novos utilizadores e 99€ para quem faz upgrade de versões anteriores.
Este regresso não é meramente simbólico, mas uma resposta direta aos imensos pedidos da comunidade e prova de que, mesmo na era corporativa do software de música, a história, a inovação e a ligação emocional entre artistas e ferramentas ainda importam.
De Um Garoto Radical à Ferramenta Obrigatória: A História do Absynth
Quando Brian Clevinger lançou o Absynth em 2000 pelo seu site pessoal, estava a fazer algo que poucos ousavam à época: ignorar as convenções estabelecidas de síntese e inventar algo novo. Enquanto a maioria dos sintetizadores VST de 2000 copiavam os seus interfaces digitais, Clevinger construiu um motor híbrido que combinava síntese subtrativa, FM, granular e baseada em samples tudo num único ambiente. Não era mais rápido que a concorrência, nem mais fácil de usar. Mas era completamente diferente.
Um ano depois, em 2001, a Native Instruments, então uma empresa jovem ainda sob liderança do fundador Stephan Schmitt, viu o potencial. Adquiriram o Absynth e deram-lhe a distribuição global e o apoio técnico que merecia. Durante as duas décadas seguintes, o sintetizador tornou-se ferramenta obrigatória para qualquer produtor que quisesse texturas que respiram, evoluem e parecem ter vida própria. Produtores de ambient (a especialidade que definia o som do instrumento), compositores de trilhas sonoras para cinema e videojogos, artistas de IDM e música eletrónica experimental, todos eles construíram décadas de trabalho sobre o Absynth.
Nomes que definiram épocas usaram este sintetizador. Brian Eno, o pioneiro do ambient, reconheceu-o como ferramenta essencial. O Absynth tornou-se rapidamente associado ao universo de artistas como Autechre e Aphex Twin, pela afinidade estética com a eletrónica experimental e para criar paisagens sonoras que nenhum outro instrumento conseguia replicar. Compositores de Hollywood usaram-no para design sonoro imersivo. A ferramenta ganhou status de culto: não porque fosse moderna, mas porque funcionava.

Depois, em setembro de 2022, tudo muda. Com o lançamento do Komplete 14, a Native Instruments toma uma decisão que choca a comunidade: descontinuar o Absynth 5 sem aviso prévio, sem upgrade planeado, sem cerimónia. A justificação oficial aponta para “recursos insuficientes” e “complexidade técnica de adaptar o código a sistemas operativos modernos”. Mas a comunidade entende a mensagem de forma diferente: a Native Instruments deixou morrer uma ferramenta lendária.
Os fóruns encheram-se de lamento. Produtores partilhavam histórias de décadas de trabalho construído sobre o Absynth. YouTubers fizeram vídeos de despedida. Brian Clevinger, o criador original, publicou uma declaração dizendo que teria feito um update completo se a Native Instruments tivesse pedido. Para muitos utilizadores, a decisão soou a erro estratégico pois tinha matado um ícone por questões de alocação de recursos, não de viabilidade técnica.
O Regresso: Quando a Comunidade Muda o Rumo da História
O que muda entre 2022 e 2025 é o reconhecimento de uma lenda. O regresso do Absynth 6 pode ser lido como sinal de que a Native Instruments levou a sério a reação da comunidade e reavaliou a decisão de 2022. Fóruns internacionais mantinham vivo o debate sobre a descontinuação. E, crucialmente, Brian Clevinger, o criador original, estava disponível e interessado em trazer o instrumento de volta. Quando a Native Instruments se aproximou, ele disse sim.
Esta parceria não é meramente uma reciclagem do código antigo. Clevinger participou ativamente no desenvolvimento do Absynth 6, garantindo que a essência mágica do instrumento fosse preservada enquanto se modernizava para a era do VST3, do MPE e dos workflows criativos contemporâneos. É um caso raro em que a comunidade conseguiu inverter uma decisão corporativa através de voz e persistência.
O Motor Que Ninguém Conseguiu Replicar: Porquê o Absynth É Único
Dezenas de sintetizadores surgiram desde 2001. Alguns são mais fáceis de usar. Alguns têm melhores interfaces. Alguns oferecem mais presets. Mas nenhum conseguiu replicar o que torna o Absynth singular: o seu motor semi-modular híbrido que combina múltiplos paradigmas de síntese de forma profundamente integrada.
Enquanto a maioria dos sintetizadores escolhe uma abordagem principal (subtrativa, FM, granular, etc.), o Absynth permite usar todas simultaneamente, com cada camada podendo ter a sua própria arquitectura. Isto cria possibilidades de sound design que são simplesmente impossíveis noutros instrumentos. Um som pode começar como camada subtrativa, evoluir através de granular, ser modulado por FM, tudo isso acontecendo em tempo real com controlo detalhado de cada aspecto.

Adicionalmente, o envelope de 68 pontos do Absynth é lendário. Enquanto a maioria dos sintetizadores oferece envelopes ADSR com quatro ou cinco pontos de controlo, o Absynth permite desenhar trajetórias de modulação com precisão cirúrgica. Produtores passam horas a esculpir essas curvas, transformando um som estático numa entidade viva e em constante mutação. É aqui que reside a magia: não é a tecnologia bruta, é a profundidade do controlo criativo.
O Mutator, o sistema de geração inteligente de presets que regressa no Absynth 6, é outra ferramenta única. Com controlos de profundidade e aleatoriedade, permite criar variações instantâneas de qualquer patch: descobertas acidentais que muitas vezes superam as intenções criativas originais.
Por estas razões, o Absynth 6 mantém retro-compatibilidade total com patches de todas as versões anteriores, incluindo presets do Absynth 1 de 2000. Quem acumulou bibliotecas ao longo de duas décadas pode importá-las sem perder um único som.
As Três Novidades Que Trazem o Absynth para 2025
O Absynth 6 não reinventa o instrumento. Mas moderniza-o de três formas que importam para quem produz hoje em dia.
A primeira é o suporte MPE completo com aftertouch polifónico. MPE (MIDI Polyphonic Expression) é uma revolução silenciosa em como controlamos sintetizadores. Controladores como o Roli Seaboard, o Linnstrument ou o Sensel Morph permitem tocar com bastante expressividade quase como se fosse um instrumento acústico: cada nota pode ser modulada independentemente em pitch, timbre, volume. Anteriormente, o Absynth 5 não oferecia suporte completo a esta tecnologia, deixando à margem um dos maiores avanços em performance expressiva de sintetizadores dos últimos 10 anos. Agora, cada utilizador de um controlador MPE ganha um parceiro à altura.
A segunda é a espacialização surround real. Isto não é apenas estéreo alargado, é verdadeira posição 3D. Cada efeito tem controlo surround individual, permitindo posicionar elementos sonoros num espaço tridimensional completo. Para compositores de trilhas sonoras para cinema, TV e videojogos, isto abre possibilidades imersivas que não existiam antes. O som deixa de estar “na tela” e pode envolver o ouvinte completamente.
A terceira é o suporte MTS-ESP para microafinação global. O Absynth 6 pode agora sincronizar-se com sistemas de afinação alternativa em tempo real. Isto abre portas para explorações harmónicas fora do temperamento igual de 12 notas que domina a música ocidental há séculos. Para compositores que exploram microtons, modos não temperados e sistemas de afinação exóticos, isto significa liberdade.
Estas três inovações mantêm o Absynth relevante não porque o reinventam, mas porque o conectam aos workflows modernos que importam hoje.
Preset Explorer: Inteligência Artificial Como Ferramenta Criativa, Não Como Substituto
A Native Instruments, consciente dos medos sobre IA “automática” que substitui criatividade, implementou uma abordagem ao browser de presets que é inteligente sem ser invasiva. Um modelo de deep learning analisa as características tímbricas de cada preset – conteúdo harmónico, dinâmica, evolução temporal, qualidade textural – e organiza a biblioteca num mapa visual intuitivo.
Em vez de navegar listas intermináveis ordenadas alfabeticamente, o utilizador pode explorar o “espaço sonoro” visualmente. Presets semelhantes aparecem próximos uns dos outros. Filtros simples permitem definir direcções estéticas: “Quero sons agressivos e dinâmicos“, “Quero paisagens calmas“, “Quero coisas estranhas“. O sistema faz a análise pesada nos bastidores, mas a decisão criativa permanece completamente nas mãos do artista.
Andy Sarroff, responsável pela equipa de IA aplicada da Native Instruments, resumiu a filosofia numa palavra: a inteligência artificial deve alargar o campo criativo, não colapsá-lo. O Preset Explorer não tenta ser um compositor. Tenta ser um guia, uma forma de navegar espaços de som tão vastos que a navegação alfabética se tornou obsoleta.
Brian Eno, Kaitlyn Aurelia Smith e Richard Devine: Os Guardiões do Som
Para o lançamento, a Native Instruments fez algo simbolicamente importante: convidou músicos que encarnam a criatividade inquieta do Absynth para criar presets de lançamento.
Brian Eno, o pioneiro absoluto do ambient e nome incontornável da música eletrónica experimental, contribuiu com patches que refletem cinco décadas de exploração sonora. Os seus sons evoluem lentamente, criam ambientes imersivos, respiram de forma orgânica – tudo aquilo que fez dele lenda. Ver o seu nome associado ao regresso do Absynth é uma declaração: este instrumento importa, ainda.

Kaitlyn Aurelia Smith, conhecida pelo trabalho profundo com sintetizadores modulares e pela fusão única do orgânico com o eletrónico, contribui com texturas que exploram a fronteira entre o belo e o estranho. O seu trabalho com o Buchla, um dos sintetizadores modulares mais complexos e completos do mundo, prepara-a perfeitamente para explorar as possibilidades do motor híbrido do Absynth.
Richard Devine, o sound designer de culto que trabalha entre o experimental e o cinematic, representa o lado do design sonoro para cinema e produção. Os seus presets traçam caminhos para quem usa o Absynth em contextos narrativos.

A empresa promete adicionar mais artistas em atualizações futuras: uma sinalização de que o Absynth 6 não é um produto “lançado e esquecido”, mas um instrumento que vai evoluir com a comunidade que o criou.
Weird by Design: A Estética Visual do Regresso
A campanha de lançamento do Absynth 6 merecia uma estética que refletisse a natureza “estranha, experimental e visionária” do instrumento. Nasce em colaboração entre Weirdcore, um artista visual conhecido pelo trabalho com Aphex Twin, Radiohead, Charli XCX e Oneohtrix Point Never (nomes que definem a estética do experimental) e o designer Swarmm.
O vídeo principal é um viajar por uma geografia urbana distorcida, intervencionada por glifos surreais e renders gaussian-splat que evocam um mundo criativo escondido sob a superfície do ordinário. É a estética “vaporwave meets digital surrealism” que comunica visualmente o que o Absynth oferece: um portal para espaços sonoros que não existem noutro lado.
Weirdcore continuará a dar vida à filosofia “Weird by Design” através de visualizers comissionados para composições originais criadas no Absynth 6 por DJs e produtores de renome. A primeira faixa é da australiana HAAi, uma DJ e produtora que trabalha nas fronteiras entre técnica precisa e caos controlado. Mais artistas serão anunciados nas próximas semanas: uma forma de transformar o lançamento de um instrumento numa campanha criativa contínua.

Informação Prática: Preços, Formatos e Disponibilidade
| Tipo de Licença | Preço | Equivalentes |
|---|---|---|
| Versão Completa | 199€ | $199 USD / £179 GBP |
| Upgrade (v2–v5) | 99€ | $99 USD / £89 GBP |
O Absynth 6 já está disponível no site da Native Instruments. Funciona como plugin VST3, AU e AAX em sistemas Windows (10/11) e macOS (Intel e Apple Silicon). É compatível com todas as DAWs principais: Ableton Live, Logic Pro, Cubase, FL Studio, Reaper, Bitwig e qualquer outra que suporte os formatos padrão.
A integração com o Native Access da Native Instruments é automática: quem compra é imediatamente reconhecido, pode descarregar e instalar, e os presets de artista aparecem organizados na biblioteca.
O Regresso Que a Comunidade Merecia
Mais do que um upgrade técnico, o Absynth 6 é um símbolo de algo raro em 2025: uma empresa que ouve, reconhece o potencial, e inverte o curso. Quando descontinuou o Absynth em 2022, a Native Instruments presumiu que era o final. A comunidade provou o oposto.
Esta é também uma vitória para a ideia de que as ferramentas que criamos importam. Não são neutras. O Absynth moldou o som de décadas de música eletrónica experimental. Descontinuá-lo era apagar parte dessa história. Trazê-lo de volta é uma afirmação: a história importa, a inovação importa, e o que os artistas constroem sobre as nossas ferramentas merece ser preservado.
Para quem nunca trabalhou com o Absynth, este é o momento ideal para descobrir um sintetizador que não se parece com mais nada no mercado. Não é o mais simples. Não é o mais intuitivo. Mas oferece possibilidades de sound design que nenhum outro instrumento consegue replicar: texturas que respiram, evoluem, e parecem ter uma inteligência própria.
Para os veteranos que mantiveram o Absynth 5 instalado contra todas as probabilidades, que continuaram a construir sobre ele apesar da descontinuação, o upgrade traz finalmente as funcionalidades modernas que faltavam sem sacrificar o carácter singular do instrumento.
O Absynth está de volta. E continua tão estranho, visionário e criativo como sempre foi.
Mais informações: native-instruments.com | Instagram: @nativeinstruments
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