Brian Nasty e Sofie Royer lançam “I Have So Much To Tell You”

O artista londrino Brian Nasty regressa com uma nova faixa que expande o território emocional da sua mixtape em curso, “Anywhere But Here With You“, publicado pela Big Dada, imprint da Ninja Tune. Desta vez bem acompanhado pela austríaca Sofie Royer, o single “I Have So Much To Tell You” funciona como resposta melancólica ao tema anterior “I Have Nothing More To Tell You”, invertendo a paleta sonora e aprofundando a narrativa de distância e arrependimento. Fica o vídeo de “I Have So Much To Tell You” de Brian Nasty e Sofie Royer em baixo:

Um diálogo em duas partes

Se “I Have Nothing More To Tell You” apostava numa progressão de piano nostálgica e num groove suave, esta nova colaboração escolhe um caminho mais contido. Se, no tema anterior, vemos o personagem a seguir com a vida em frente rumo a novos destinos, em “I Have So Much To Tell You” sentimos o arrependimento e o regresso. A instrumentação de “I Have So Much To Tell You” assenta num loop de bateria discreto, linhas de baixo firmes e uma guitarra e teclas que pontuam o espaço com precisão cirúrgica.

Brian Nasty explica o impulso por detrás da canção: “Às vezes o silêncio chega para perceberes que as coisas não estão bem. Ainda assim, não consegues deixar de desejar dizer-lhes aquela coisa. Dói estar envolto em arrependimento.

A dualidade entre os dois temas não é coincidência. Funcionam como lados opostos da mesma moeda: um admite esgotamento comunicacional, o outro transborda de palavras não ditas. É uma tensão que atravessa todo o projecto “Anywhere But Here With You”, uma colecção de momentos capturados ao longo de três anos formativos. Fica o vídeo duplo de “Here With You“, um mini tema, e “I Have Nothing More To Tell You” com Dill a emprestar a voz a este tema de Brian Nasty.

“I Have So Much To Tell You”: O videoclipe como extensão narrativa e conceptual

Realizado por Manuel Haring, o vídeo que acompanha a faixa “I Have So Much To Tell You” adiciona mais uma camada visual ao universo estético que Brian Nasty tem vindo a construir de forma metódica.

Já tiveste alguém na vida com quem desejavas falar? E podes, mas simplesmente não é boa ideia. Desejas contar-lhes coisas novas, antigas. Qualquer coisa, na verdade. Mas ficas preso num espaço liminar. Quase parassocial. O espaço é mental, não físico. É esse sentimento que tento transmitir na música e no vídeo. Distância, mas também proximidade“, descreve Brian Nasty.

Esta abordagem cinematográfica não é novidade no seu trabalho. Cada single da mixtape vem acompanhado de uma curta-metragem, transformando o projecto numa espécie de diário visual fragmentado. São registos que misturam performance, narrativa e experimentação formal associados às varias experiências do dia-a-dia.

Sofie Royer: da formação clássica ao pop experimental

A escolha de Sofie Royer para esta colaboração faz sentido quando se conhece o percurso da artista. Nascida na Califórnia e criada entre Viena e a herança iraniana-austríaca, Sofie Royer tem formação clássica pelo Conservatório de Viena, onde estudou composição e violino de concerto. Tocou profissionalmente na Young Philharmonic e na Academic Philharmonic de Viena antes de enveredar por territórios mais experimentais.

O seu álbum mais recente, “Young-Girl Forever“, editado pela Stones Throw em Novembro de 2024, recebeu elogios consistentes e valeu nomeações nos Libera Awards em Nova Iorque e nos Amadeus Music Awards austríacos.

Mas Sofie Royer não se limita à música. Recentemente participou na adaptação de “Emmanuelle” (2024) realizada por Audrey Diwan, tanto como compositora da banda sonora como actriz, ao lado de Naomi Watts. O seu trabalho movimenta-se entre sessões ao vivo para a BBC 6 Music e KEXP, colaborações com Toro Y Moi e Kavinsky, e performances encomendadas por marcas como Cartier, Chanel e Hermès. É uma artista que transita entre mundos sem parecer deslocada em nenhum.

“Anywhere But Here With You”: três anos de mixtape em diferido

A mixtape de Brian Nasty funciona simultaneamente como cápsula temporal, caderno de sonhos e carta aberta ao processo de transformação pessoal. Os singles anteriores “Wipe My Tears” com Eyedress, “Two”, “Here With You”, e “Good Boy” com Wiki mapeiam um período marcado pela quietude, pelo caos e por uma evolução que raramente faz barulho.

Brian Nasty, capa da Mixtape "Anywhere But Here With You"
Brian Nasty, capa da Mixtape “Anywhere But Here With You”

“Esta mixtape toda tem sido uma tentativa de me compreender melhor, libertar-me da culpa, fazer as pazes com quem fui, e documentar esse processo de forma honesta. Foram anos intensos, mas precisava de deixar um registo que dissesse: senti tudo. Vivi-o. E tentei”, resume Brian Nasty.

Deixamos o vídeo de “Wipe My Tears” com Eyedress em baixo:

Brian Nasty: A escolha deliberada da lentidão

Num contexto de ciclos de lançamento cada vez mais acelerados e consumo frenético de conteúdo, Brian Nasty posiciona-se na contracorrente. Dois anos entre projectos podem parecer uma eternidade na indústria actual, mas o artista londrino prefere privilegiar autenticidade a velocidade.

Isso não significa inactividade. Entre 2020 e agora, colaborou com Metronomy no “Posse EP Volume 1“, desfilou para Vivienne Westwood, Carhartt, Adidas Originals e Marc Jacobs, e lançou a curta-metragem “Moon” com Luke Casey, parte de uma trilogia sobre lobos, monstros e apocalipse iminente, na qual também contribuiu para a banda sonora original.

O seu EP de 2020, “Not Here 2 Play!“, e a mixtape “Pyjama Party” posicionaram-no como voz singular no rap experimental DIY. A fusão de indie rock e hip-hop, sempre ancorada em experiências pessoais, chamou a atenção de publicações como The FADER, NME e Crack Magazine. O apoio de Nilüfer Yanya e Jamz Supernova nas rádios BBC consolidou a sua presença.

Brian Nasty, fotografia tirada na gravação do vídeo de "Here With You". Crédito fotografia: Instagram, @nastybrian
Brian Nasty, fotografia tirada na gravação do vídeo de “Here With You”. Crédito fotografia: Instagram, @nastybrian

O Que Aí Vem

O som de Brian Nasty desafia categorizações fáceis. A sua abordagem à produção bebe tanto do indie rock orientado por guitarras como do hip-hop, criando uma linguagem própria que se recusa a encaixar em moldes pré-definidos. Em “Time I Leave”, por exemplo, voltou-se para a soul de Marvin Gaye e jazz de Herbie Hancock dos finais dos anos 70 e início dos 80, procurando entender o que faz certas faixas ressoarem de forma tão visceral.

A soul music para mim toca literalmente a alma, e por isso quis tentar combinar esse sentimento com o que estava a fazer. Que a música existisse nesse mundo mas de uma forma que faça sentido para mim“, explica Brian Nasty

É esta capacidade de misturar e transitar entre décadas e géneros, sempre ancorado em experiências pessoais genuínas, que o distinguem e caracterizam a sua sonoridade única.

Em Outubro, acompanha Chuck Strangers numa digressão pelo Reino Unido e Europa, depois de ter actuado na Serpentine Gallery em Setembro. Brian Nasty abrirá para Loyle Carner a 4 de Novembro na O2 Academy Brixton e a 24 de Novembro no O2 Victoria Warehouse.

A colaboração de Brian Nasty com Sofie Royer em “I Have So Much To Tell You” representa mais um capítulo neste arquivo de emoções, um exercício de honestidade que recusa pressa e abraça a contradição do arrependimento. Se ainda não conheces Brian Nasty, fica o convite. Não te vais arrepender.

Instagram: @nastybrian | Facebook: @briannasty

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Pedro Ribeiro
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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.