A dupla portuguesa Letters From a Dead Man lançou o seu mais recente álbum, “My Only Fear Remains Unseen”, um trabalho que consolida o percurso conceptual iniciado há mais de uma década. Disponível desde 12 de setembro em todas as plataformas digitais, este disco marca um novo capítulo na narrativa emotiva que Hugo Piquer Branco e Ricardo Filipe Bóia têm vindo a construir desde 2014.
“My Only Fear Remains Unseen” e toda a discografia de Letters from a Dead Man funcionam como uma coleção de cartas escritas por alguém nos seus derradeiros momentos.
“(…)uma compilação de cartas soltas, transformadas em canções. São relatos de amor e ódio, paixão e solidão, passados para a pauta (…)” segundo referem os Letters From a Dead Man
O álbum respira autenticidade na forma como aborda memória, melancolia e aquilo que sobrevive quando o amor já não está presente fisicamente, com ambientes etéreos a remeterem-nos para momentos mais nostálgicos e sonoridades post rock. Fica o video mais recente para “Lay Down, My Love” em baixo.
“My Only Fear Remains Unseen”: Um Álbum Estruturado Como Cartas de Despedida
O álbum “My Only Fear Remains Unseen” dos Letters From a Dead Man foi apresentado ao público através de dois singles: “Lay Down, My Love” e “Many Days, Many Ways”. Ambos os temas funcionam como portas de entrada para um universo sonoro marcado por arranjos intimistas e letras que não fogem da fragilidade humana. “Many Days, Many Ways” também conta com video, uma peça visual que complementa a dimensão narrativa do projeto, mostrando-nos um pequeno recanto de um parque ou jardim onde toda a narrativa se desenrola, até que se ouve “I’m gone” e ficamos preso numa fotografia. Podes ver o video em baixo.
Os dois temas centrais do álbum, memória e melancolia, entrelaçam-se de forma natural ao longo das faixas, havendo espaço para temas instrumentais bastante cinematográficos como “Five Minutes to Arrival” ou “Two Minutes to Departure”, ou“Sweet Mary” no outro oposto, um tema com estéticas rock/post-rock bastante enérgico. Não há dramatização forçada nem tentativa de manipular emoções. O que existe é honestidade na forma como se aborda a inevitabilidade da perda e a beleza dolorosa de ter amado.
Cada faixa assume uma voz própria. Há confissões cruas, momentos onde a nostalgia e a saudade dominam, outros onde persiste uma réstia de esperança. E há também a aceitação inevitável do fim. Esta oscilação emocional traduz-se numa sequência de canções que não seguem uma linha recta, mas que espelham a complexidade de quem vive intensamente os últimos dias.
Letters From a Dead Man: Uma Década de Construção Narrativa
O percurso dos Letters From a Dead Man começou em 2014 com o EP “Chapter I: Somewhere I Was Lost”, que incluía cinco temas. “Hard Cold Kiss” foi o single escolhido para apresentar o projeto ao mundo, estabelecendo desde logo o tom emotivo e a ambição conceptual da dupla.
Cinco anos depois, em 2019, surgiu “Chapter II: The Fear of Letting You Go”, consolidando a ideia de capítulos interligados. Deste segundo trabalho destacaram-se “Goodnight, My Dear (Part I)”, tema que vê agora continuidade neste novo álbum, e “Wait for Me”, dois temas que aprofundaram a exploração de sentimentos complexos como o luto, a despedida e o medo de perder quem se ama.
Entre 2021 e 2022, a banda lançou “Unsafe Shores” e “When the Lights Go Out”, dois temas que serviram de ponte para um projeto paralelo mas igualmente relevante: “Acoustic Sessions”. Este trabalho reuniu versões despojadas de temas antigos, demos e composições inéditas, apresentadas num registo ainda mais intimista.
A escolha pelo formato acústico não foi casual. Permitiu que as canções respirassem de forma diferente, expondo camadas que ficam menos evidentes nas versões completas. É também uma forma de revisitar o passado antes de avançar para esta nova fase.

O Peso da Idade e o Futuro
“My Only Fear Remains Unseen” é o culminar de uma década de exploração temática feita pelos Letters From a Dead Man, onde a morte não surge como fim absoluto, mas como ponto de reflexão sobre o que realmente importa: os momentos vividos, as palavras ditas, os silêncios partilhados. Os arranjos são cuidados sem serem excessivos, deixando espaço para que a voz e a letra ocupem o lugar central. Esta abordagem resulta num trabalho que consegue conectar-se com quem ouve sem parecer calculista. Deixa espaço para interpretação pessoal, mas a base emocional e lírica está suficientemente sólida para que a mensagem não se perca.
Para quem acompanha o percurso de Letters From a Dead Man desde 2014, este trabalho representa um fecho de ciclo coerente. Para novos ouvintes, o álbum funciona como síntese do universo criativo que Hugo Piquer Branco e Ricardo Filipe Bóia construíram meticulosamente e sem dúvida, deixa vontade de conhecer o que está para trás.
Resta saber se este álbum conceptual marca o final definitivo da narrativa dos Letters From a Dead Man ou se haverá ainda novos capítulos por explorar. Mas mesmo que seja o ponto final, “My Only Fear Remains Unseen” deixa um legado claro: é possível fazer música emotiva e profunda sem recorrer a fórmulas gastas ou dramatizações vazias.
“My Only Fear Remains Unseen” já se encontra disponível no Spotify, Apple Music, YouTube Music e restantes plataformas digitais.
Instagram: @lettersfromadeadman_ | Facebook: @Lettersfromadeadman
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