The Quiet Bottom lançam “Little Things”

The Quiet Bottom lançam álbum "Little Things"

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Os The Quiet Bottom, banda de São Miguel (Açores) formada em 2017, estreiam-se agora em formato longa-duração com “Little Things”, um trabalho que condensa anos de palco e uma abordagem ao rock que não pede licença a ninguém.

A ideia inicial era simples: lançar material em doses regulares, singles ou EPs de três em três meses. Mas a saturação bateu à porta. A banda tinha composições trabalhadas, horas de ensaio acumuladas, e percebeu que fazia mais sentido consolidar tudo num álbum. Foi assim que “Little Things” ganhou forma, sem pressas, mas também sem rodeios desnecessários.

Os dois primeiros singles, “Tubarão” e “In Tandem”, já circulam nas rádios locais açorianas e começam a criar alguma curiosidade. Deixamos o vídeo de “Tubarão” dos The Quiet Bottom em baixo.

Quando “Little Things” fazem a diferença

“Little Things” não é um álbum de meias-tintas. Nas informações que nos chegaram através da Associação Basalto Cultural, este trabalho é doce como a queijada da Vila e salgado como o mar dos Açores: um contraste que a banda não tenta esconder. Há faixas que abraçam a melancolia, outras que avançam com energia, mas sempre sem levar as coisas muito a sério. A produção independente ajuda a toda esta personalidade e que resulta num trabalho bastante original.

Os videoclipes que acompanham os singles não tiveram produção milionária, as ideias vieram dos videógrafos e depois ajustadas ao gosto da banda. Com orçamentos reduzidos, o caminho foi puxar pela criatividade. O espírito DIY, tão presente na forma como os The Quiet Bottom trabalham, estende-se também à componente visual. Não há grandes efeitos nem cenários elaborados, mas há conceito e execução, e acima de tudo boa disposição. Fica o vídeo de “In Tandem”.

A formação assenta em cinco elementos: João Melo na voz, António Couto e Ben Oliveira nas guitarras, Nuno Pacheco no baixo e Jimmy Santos na bateria. Quem captou, produziu e mixou o disco foi João Melo, no Bottomless Studio. As composições são também dele, à excepção de “Devil”, que traz a assinatura de Marcos Falcão. Os arranjos ficaram a cargo da banda inteira, com excepção de “In Tandem”, onde João Melo assumiu sozinho essa tarefa.

Ian Sefchick, da Dark Sky Mastering, tratou da masterização do álbum. O nome pode não dizer muito por cá, mas o currículo fala por si: The Black Crowes, Neil Young, The Cars, Biffy Clyro. Ter um técnico com este percurso a trabalhar um disco açoriano mostra que há ambição, mas também pragmatismo. Quando há qualidade no material bruto, faz sentido ir buscar quem sabe polir.

The Quiet Bottom, capa de "Little Things"
The Quiet Bottom, capa de “Little Things”

Fazer música nos Açores

Musicalmente, os The Quiet Bottom bebem de várias fontes. Cresceram a ouvir rock dos anos 2000, mas também pop, discos antigos que os irmãos mais velhos deixaram por casa. Essa mistura aparece no som: há distorção, mas também melodia; há peso, mas também espaço para respirar. Não é um revivalismo nostálgico nem uma tentativa de soar moderno a qualquer custo.

A banda recusa rótulos apressados e prefere deixar que o trabalho fale por si. Não se apresentam como representantes de nada, apenas como um grupo que faz música da forma que lhes faz sentido. Essa honestidade atravessa “Little Things” de ponta a ponta.

The Quiet Bottom
The Quiet Bottom

Gravar e lançar um álbum a partir de São Miguel implica contornar limitações óbvias. Não há grande infraestrutura, as distâncias são um problema real, e o mercado nacional raramente olha para o arquipélago como fonte de novidades musicais. Mas os The Quiet Bottom parecem confortáveis com essa posição. A banda defende que cantar em inglês não os desliga das raízes açorianas. Pelo contrário: entendem que a língua é uma ferramenta, não uma declaração de identidade.

Esta postura pragmática estende-se à forma como encaram a visibilidade. Tocar localmente é importante, mas a ambição passa por levar o projecto para lá do arquipélago. A agenda para os próximos meses inclui concertos em Ponta Delgada, Ribeira Grande e na Cervejaria Vulcana.

O que vem a seguir

O lançamento do álbum “Little Things” é apenas o início. Os The Quiet Bottom já trabalham em novos vídeos e preparam singles adicionais para manter a rotação nas rádios. A estratégia passa por criar visibilidade gradual, sem queimar etapas. O objectivo não é viralizar da noite para o dia, mas construir um percurso sólido que permita à banda existir de forma sustentável.

Actualmente, o grupo também está a seleccionar repertório para uma tour que ainda não tem datas confirmadas, mas que deve passar por várias ilhas do arquipélago.

Para já, o disco está disponível nas plataformas digitais. É um trabalho que não tenta ser mais do que é: rock alternativo feito nos Açores, sem complexos, sem desculpas. Os The Quiet Bottom entregam um álbum de estreia que justifica os anos de espera e mostra que é possível criar algo relevante longe dos centros urbanos habituais. “Little Things” é a prova de que boas ideias não pedem autorização geográfica.

Site oficial: thequietbottom.com | Instagram: @thequietbottom | Facebook: @Thequietbottom

Nota: Este artigo foi escrito com base em materiais fornecidos pela Associação Basalto Cultural. A Associação Basalto Cultural é uma associação que visa promover a música, artes e cultura dos Açores, e que merecem toda a vossa atenção. Deixamos o link em baixo.

Associação Basalto Cultural: @BasaltoCultural 

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.