Os Sunflowers editaram “You Have Fallen… Congratulations!”, quinto trabalho de originais e primeira colaboração com a britânica Fuzz Club Records. O trio portuense mantém a distorção que o define, mas abandona qualquer tentativa de estrutura convencional num disco que celebra a queda como libertação.
O disco dos Sunflowers já está disponível em plataformas digitais e em edição física vinil através da Fuzz Club Records. O artwork, design e layout ficaram a cargo de Carlos de Jesus. Clara Araújo assinou a adaptação para vinil. O single escolhido para este lançamento é “I Got Friends”, e podes ver o vídeo em baixo:
Demos transformadas em manifesto
O processo começou sem protocolo. Carlos de Jesus e Carolina Brandão gravaram demos na Casa do Soto, em Arouca, sem pressão de calendário ou conceito definido. Quando revisitaram as gravações, encontraram tensão suficiente para construir um álbum inteiro. A banda optou por preservar essa imperfeição, preferindo captar o momento em vez de polir arestas.
“Havia uma leveza nessas primeiras sessões que seria impossível recriar num ambiente controlado”, explica Carlos de Jesus.
A escolha de dois espaços distintos para as gravações revela estratégia deliberada. A Casa do Soto, afastada do bulício urbano, permitiu sessões longas sem limitações horárias. O Electric Cloud, no Porto, entrou para gravações adicionais e mistura, trazendo equipamento que complementou o material inicial. Carlos de Jesus e Carolina Brandão assumiram a produção integral, mantendo controlo total sobre o som final.
Greg Saunier, baterista dos Deerhoof, assinou a masterização. A ligação faz sentido: ambos os projetos partilham fascínio por estruturas que colapsam e se reconstroem, por ruído transformado em melodia. Greg Saunier compreende a linguagem que os Sunflowers falam, e essa cumplicidade estética atravessa o disco inteiro.
“You Have Fallen… Congratulations!”: Oito faixas, nenhuma rede de segurança
O título “You Have Fallen… Congratulations!” funciona como troféu irónico e fatia de bolo de anos entregue a quem sobrevive à própria desintegração. As letras exploram a dissociação contemporânea, a exaustão performativa e a tentativa absurda de funcionar num mundo que parece entrar em colapso e contradição em directo. O álbum reserva momentos onde a tensão explode em libertação física, onde gritar deixa de ser desespero e passa a ser resposta. Carolina Brandão resume: “Gritar também pode ser uma alegria. É uma libertação.“
O alinhamento evita previsibilidade. Nenhuma faixa replica a anterior, nenhuma oferece descanso prolongado. O disco move-se como organismo instável, em permanente mutação entre noise rock direto, punk desconstruído e psicadelismo que surge como alçapão no meio do caos.

“Chameleon Kid” abre o álbum estabelecendo território instável, brindando-nos com o refrão orelhudo “Beep Beep I’m a Chameleon Kid” que acaba num crescendo de noise e distorção. “I Got Friends”, o single que antecedeu o lançamento do álbum, e “Corpse Light” avançam em registos contrastantes, oscilando entre explosões de energia e momentos de contenção fantasmagórica onde a secção rítmica segura o andamento das faixas. “A Therapist’s Special” engana pelo título pois há pouco de reconfortante e terapêutico na forma como a faixa se apresenta e desenvolve, entre o para-arranca e a resolução quase celestial (dentro deste universo distorcido, claro está), para depois terminarmos num universo diferente de onde começámos.
“March of the Drones” , a quinta faixa, embala-nos na mesma cadência, e tal como o nome indica, numa espécie de marcha onde as vozes quase servem de cânticos religiosos e discurso autoritário ao mesmo tempo. O final da faixa mais uma vez nos leva para outro sítio completamente diferente, com aquele plot twist nervoso que fica sempre bem. “Workworkwork” leva-nos de volta ao ruído e distorção em dois minutos e 26 segundos rápidos e cortantes.
“You Have Fallen…” funciona como descida acidentada entre planícies de feedback e prepara o território para “Congratulations!”, que remata o álbum com a ironia amarga que o título anuncia desde o início. Este bolo de aniversário vem recheado de distorções ao máximo e com a bateria/crashes a serem espancados quase até à morte.
“É música para quem está sempre a um passo do colapso“, afirma a banda. “Uma celebração de cair, para depois se levantar. Mas, se é para cair, ao menos que seja com um estrondo.“

Alinhamento de “You Have Fallen… Congratulations!” dos Sunflowers:
- Chameleon Kid
- I Got Friends
- Corpse Light
- A Therapist’s Special
- March Of The Drones
- Workworkwork
- You Have Fallen…
- Congratulations!
Sobre os Sunflowers
Desde a formação em 2014, os Sunflowers construíram percurso marcado pela recusa em repetir fórmulas. Carlos de Jesus e Carolina Brandão começaram como duo, expandiram-se em trio com Frederico Ferreira em 2018. A entrada do baixista alterou a dinâmica de forma permanente, com o som a ganhar densidade, as composições a explorarem camadas e bases ritmícas que antes eram impossíveis. A química entre os três membros consolidou a identidade que se mantém reconhecível mesmo quando experimentam terrenos novos.
A casa que Carlos e Carolina partilham funciona como sala de ensaios e estúdio, espaço onde vida e música se fundem sem fronteiras definidas. Foi desse ambiente que nasceu também O Cão da Garagem, editora DIY fundada pela banda para apoiar novos projetos e fortalecer a rede criativa portuguesa. Dez anos depois, o coletivo permanece ativo, reflexo de uma banda que sempre encarou a música como forma de existir, sem limites criativos.

A discografia comprova a evolução constante. “The Intergalactic Guide to Find the Red Cowboy” (2016) e “Castle Spell” (2018) solidificaram a presença na cena underground. “Castle Spell” teve edição pela Stolen Body Records, editora londrina especializada em psych e garage, sinal do interesse internacional que já se desenhava. “Endless Voyage” (2020) mergulhou em distopias sci-fi semanas antes do confinamento global, editado pela Only Lovers Records e novamente pela Stolen Body. “A Strange Feeling of Existential Angst” (2023) equilibrou caos e precisão cirúrgica, mantendo as mesmas editoras.
A coletânea “SFHC 2014–2024 Vol. 1 & 2”, editada em 2024, funciona como mapa de uma década sem concessões. A mudança para a Fuzz Club Records representa novo capítulo. A editora britânica, dirigida por Casper Dee, especializou-se em noise, psych e post-punk desde 2015, construindo catálogo que inclui nomes como The Black Angels, Gnod e Acid Mothers Temple. Os Sunflowers juntam-se a um catálogo onde a experimentação e distorção são regras, não exceção.

Barulho como linguagem
“You Have Fallen… Congratulations!” confirma os Sunflowers como força imparável. Não há tentativa de conforto ou de facilitar a digestão, o disco exige rendição total. Durante anos, o trio explorou volumes que ultrapassam qualquer limite de segurança auditiva, abraçando o feedback e a distorção como elementos compositivos centrais. O resultado é uma banda que transformou o ruído em vocabulário próprio, onde cada camada de saturação conta uma história que palavras não conseguiriam articular.
Os Sunflowers vão apresentar ao vivo “You Have Fallen… Congratulations!” por Portugal e têm também digressão Europeia (quase non stop) marcada para várias salas e países entre 5 de fevereiro e 15 de Março. Quem os for vêr ao vivo vai perceber rapidamente que não se trata de volume gratuito. A intensidade sonora funciona como ferramenta de imersão, obrigando o corpo a reagir antes do cérebro processar. É esse compromisso visceral que os Sunflowers agora transferem para este lançamento, convidando quem ouve a experimentar o mesmo grau de entrega física que eles próprios colocam em cada concerto.
O quinto álbum funciona simultaneamente como culminar de uma década de trabalho e como recomeço, num trabalho que celebra a imperfeição como método e o colapso como ponto de partida. Os Sunflowers nunca jogaram pelo seguro e neste disco, nem sequer fingem considerar essa opção. Não percas este lançamento, já disponível em todas as plataformas digitais do costume!
Instagram: @sunflowers.theband | Facebook: @sunflowerstheband
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