O duo aveirense Soul ID regressa com novo single. Diana Silva e Inês Bola, acompanhadas por Álvaro Rojas na guitarra, apresentam “És a Cura e a Saudade”, que nasceu de um desafio criativo em 2022 e representa a primeira composição conjunta do duo. A canção explora o equilíbrio delicado entre passado e futuro, ancorando-se no poder transformador do presente. Este é o terceiro single do projeto, depois de “Melting Like Butter” e “Mais Perto de Vencer”.
“És a Cura e a Saudade” é uma balada pop acústica que já chegou às plataformas digitais e veio acompanhada por um videoclipe, que já se encontra no YouTube e podes ver em baixo.
Uma composição nascida do desafio e da amizade, para abraçar quem mais precisa
Sendo a primeira canção que Soul ID compõe em conjunto, o tema ganha forma definitiva e foi lançado num momento particularmente significativo: Setembro, Mês da Prevenção do Suicídio.
A escolha do timing de lançamento não foi casual. “És a cura e a saudade” funciona como abraço para quem carrega o peso do mundo nos ombros. Fala diretamente a quem já se sentiu à deriva ou desejou simplesmente desaparecer. Não há dramatismo gratuito nem soluções fáceis, apenas a oferta de um espaço seguro dentro desta música, um colo metafórico para processar a dor.
As Soul ID (Diana e Inês) tentam-nos lembrar a todos para estarmos atentos uns aos outros, para oferecer apoio quando necessário, e para criarmos redes de cuidado que nos sustenham nos momentos mais difíceis.
Nota: Se Precisares de Ajuda
Se esta canção ressoa contigo de forma demasiado próxima, se te sentes sozinho ou sem saída, há sempre alguém do outro lado. A Linha SOS Voz Amiga (213 544 545, 912 802 669 ou 963 524 660) está disponível todos os dias entre as 15h30 e as 00h30. O Telefone da Amizade (228 323 535) funciona diariamente das 16h à 23h. Para situações de emergência, o SNS24 (808 24 24 24) está operacional 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Pedir ajuda não é fraqueza. É coragem. E nunca é tarde demais.
Instrumentação Despojada, Impacto Amplificado
A escolha das Soul ID por uma produção acústica com voz, piano e guitarra serve perfeitamente a intenção da canção. Não há artifícios desnecessários nem camadas de produção a tapar fragilidades. O que ouvimos é honesto, direto, vulnerável, bem construído, pensado, com todos os ingredientes que realmente uma canção pop deveriam ter.

A interpretação de Diana, Inês e Álvaro é irrepreensível. Ao piano da Inês tocado com a sensibilidade e técnica, mas força necessária, junta-se a guitarra de Álvaro a acompanhar na perfeição o piano, sem exageros. A isto junta-se a voz de Diana com uma prestação vocal exímia e que nos refrões e ponte cresce com a subtileza das backing vocals.

Este despojamento permite que a força da composição se revele sem distrações. Cada elemento tem o seu espaço, cada nota respira. É precisamente esta contenção e descarga que amplifica o impacto emocional do refrão.

Muito Importante!
Não é segredo que o pop contemporâneo raramente surpreende. A fórmula repete-se, as progressões de acordes tornam-se previsíveis, e a estrutura musical fica refém do algoritmo. Mas o trabalho da dupla Soul ID em “És a Cura e a Saudade” rompe com essa monotonia de forma extremamente elegante, subtil e inteligente, como dificilmente se vê nos dias que correm, tanto a nivel nacional como a nível internacional.
O trabalho de composição musical de Diana Silva e Inês Bola neste tema merece atenção redobrada (ou “re-triplicada”). Ao ouvir este tema pela primeira vez tive um momento “Rick Beato”, em que tive de pegar na guitarra e ver o que andava ali a acontecer – e podem ter a certeza que não chegam muitas músicas à nossa redação que realmente nos façam ir tentar perceber que “fenómeno” passou ali, e nem tão pouco chegámos lá em 3 segundos.
Os pequenos grandes detalhes (o momento nerd do artigo que tem de acontecer)
A verdade é que raramente nos chega música Pop assim, e tem de ser relevado – este tipo de composição não é um luxo que possamos ouvir todos os dias dentro do género.
A transição do verso para o refrão esconde uma modulação elegante que transforma completamente a energia da canção. O que começa numa escala maior, luminosa e aparentemente reconfortante – C/Dó que anda ali a rondar o G/Sol maior, portanto vamos buscar os modos e chamar-lhe C/Dó Lídio (no fundo, G/Sol maior) – cria tensão na modulação para a escala menor no refrão, Gmin/Sol menor, uma escolha corajosa que adiciona camadas de profundidade emocional à mensagem.
E como se não fosse suficiente, podemos considerar ali uma terceira mudança, Bb/Si bemol, numa pequena ponte entre refrões, que embora seja relativa a Gmin/Sol menor, nota-se um sunset/força acrescida que porventura virá dessa transformação/mudança de base tonal para uma escala maior.
Este tipo de construção harmónica, onde certas notas ficam “quase-escondidas” e depois se vão revelando inesperadamente em diversos momentos, cria tensão e resolve-a de forma orgânica. É raro encontrar este nível de sofisticação e inteligência na música pop moderna, onde a tendência é simplificar até ao osso. Aqui, as Soul ID provam que não estão para brincadeiras, e, sem dúvida, têm um futuro brilhante à espera delas no mundo da música (esperamos nós), e já ao virar da esquina.
Créditos “És a Cura e a Saudade”
Letra e Voz Principal: Diana Silva
Composição: Inês Bola e Álvaro Rojas
Piano: Inês Bola
Guitarra Acústica: Álvaro Rojas
Segundas Vozes: Diana Silva, Inês Bola e Diana Martinez
Produção: Álvaro Rojas
Produção Vocal: Diana Martinez
Mix e Master: Rúben Teixeira
Soul ID: Uma Lufada de Ar Fresco no Pop Nacional
Depois de “Melting Like Butter“ ter demonstrado a capacidade das Soul ID para trabalhar sonoridades R&B contemporâneas com um potencial e talento acima da média, este novo single “És a Cura e a Saudade” mostra talento, versatilidade, inteligência e técnica ao explorar território mais intimista. A escolha por uma produção minimalista realça a qualidade vocal e permite que a mensagem chegue sem filtros desnecessários.
Num mercado saturado de produções maximais e encharcadas de auto-tune, esta é uma Canção com C grande: acústica, orgânica, construída na contenção-tensão-descarga. Destaca-se pela riqueza harmónica e melódica, lembrando-nos que não é preciso mais. Basta isto.

Longe dos clichés que durante anos dominaram a pop nacional, projectos como as Soul ID fazem-nos parar e pensar 2 vezes. E ainda bem. Este lançamento insere-se numa nova vaga de artistas portugueses que privilegiam a vulnerabilidade como força criativa, e acima de tudo, fazem música. Da boa. Se ainda não ouviste, estás a espera de quê?
Para mais informações: Página oficial Soul ID | Instagram: @soul___id
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