O músico portuense Henrique Tomé lançou “Edge”, a segunda faixa revelada do seu disco de estreia a solo “Thin Ice”. O tema chegou às plataformas digitais como antecâmara da edição completa de “Thin Ice”, prevista para 7 de novembro pela Biruta Records.
“Edge” funciona como fecho do primeiro momento narrativo de “Thin Ice” de Henrique Tomé. Sonoramente mais pesado e rock do que o anterior “Rope“ (disponível desde julho e que noticiamos também na altura), o tema mergulha numa sonoridade densa que acompanha o estado emocional da personagem retratada no álbum. Aqui, o colapso mental ganha forma através de guitarras distorcidas, baixo pesado e uma bateria que empurra tudo para o limite.
A canção explora aquele momento em que alguém deixa de viver para apenas existir. É o resultado de um crescendo de tensão interna, onde o medo paralisa e o abismo atrai. Henrique Tomé descreve essa queda não como rendição pacífica, mas como rebelião inconsequente, uma tentativa desesperada de recuperar controlo através da desvalorização da própria vida. A música (e visualizer) ficam em baixo para ouvires.
Criação coletiva de “Edge”
A composição de “Edge” nasceu da colaboração entre Henrique Tomé, Gabriel Valente e João Freitas. A letra, totalmente escrita por Henrique, ganha corpo através das contribuições instrumentais dos restantes elementos. Inês Pinto da Costa empresta a voz em camadas de apoio que adensam a atmosfera sufocante do tema, enquanto João Freitas assegura as guitarras e vozes adicionais. Gabriel Valente comanda a bateria e sintetizadores, adicionando texturas eletrónicas que dialogam com a urgência rock da base instrumental.
Henrique Tomé assume voz principal e baixo, mantendo o controlo sobre a narrativa enquanto a distribuição de tarefas reflete a dinâmica colaborativa que marca o projeto. A produção ficou nas mãos de Gabriel Valente e João Freitas, que também gravaram o tema no Estúdio Cedofeita, no Porto. Gabriel Valente tratou da mistura, procurando equilibrar a agressividade sonora com clareza, enquanto João Guimarães finalizou o processo com a masterização.
A identidade visual de “Edge” reflete a mesma intensidade emocional da música. Rafaela Gomes assinou a fotografia e edição, criando uma imagem que captura a tensão do tema. A iluminação ficou a cargo de Henrique Queirós, que trabalhou contrastes e sombras para reforçar o clima opressivo. Matilde Santiago fechou o conceito com o design final da capa.
“Thin Ice”: um álbum conceptual em dois atos
Com dois singles já divulgados (“Rope” e “Edge”), Henrique Tomé vai revelando a estrutura de “Thin Ice”. O disco foi concebido como narrativa conceptual dividida em conflito e resolução, seguindo princípios de dramaturgia clássica. Se “Rope” iniciou a jornada com introspeção e vulnerabilidade, “Edge” fecha o primeiro capítulo com explosão e caos.
O segundo ato, ainda por desvendar, promete trazer alguma forma de resolução a este percurso emocional. Entre paisagens sonoras densas e descargas viscerais, Henrique Tomé usa a música para examinar fragilidade, ansiedade e o difícil caminho até à superação. Não se trata de receitas fáceis nem de narrativas lineares, mas de alguém que tateia no escuro à procura de saída.

Do underground portuense para o primeiro disco a solo
Henrique Tomé não é figura desconhecida na cena musical portuense. Compositor, baixista e produtor, tem participado ativamente em projetos como Balter Youth, Silentide e Vitoria Vermelho. Esta bagagem de trabalho coletivo moldou a sua abordagem musical, mas chegou o momento de apresentar algo profundamente pessoal.
“Thin Ice” representa essa mudança. Aqui, Henrique Tomé não partilha holofotes nem dilui visão artística em consensos de grupo. As questões existenciais e de saúde mental que atravessam o disco são exploradas sem filtros, através de canções que oscilam entre sussurro intimista e grito desesperado. A experiência acumulada nos outros projetos manifesta-se na maturidade compositiva e na capacidade de construir atmosferas complexas, mas a coragem de expor fragilidades é nova.

Edição física e concerto de apresentação
A Biruta Records vai editar “Thin Ice” também em vinil, formato cada vez mais valorizado por quem procura experiência auditiva completa e objeto físico para colecionar. A edição física permite apreciar o trabalho gráfico e acompanhar a narrativa do disco como foi concebida: sequencial, imersiva, exigindo atenção do início ao fim.
A apresentação oficial ao vivo está marcada para 14 de novembro no RCA – Radioclube Agramonte. O concerto promete traduzir para palco a intensidade emocional do registo. Bilhetes já disponíveis através da BOL permitem garantir lugar numa noite que se antevê carregada de eletricidade.
Até 7 de novembro, Henrique Tomé pode ainda revelar mais material de “Thin Ice”. Cada single funciona como peça de puzzle maior, construindo expectativa sobre como soará o álbum completo e que caminhos tomará o segundo ato narrativo.
Para quem acompanha música independente portuguesa, este disco representa mais do que estreia a solo. É afirmação de maturidade artística, compromisso com narrativa conceptual e vontade de explorar territórios emocionais que muitos preferem evitar. Num panorama musical frequentemente dominado por imediatismo e singles descontextualizados, a aposta num álbum-narrativa é corajosa. “Edge” mostra um músico disposto a arriscar, a criar desconfortos e a não facilitar. E isso, por si só, já vale a atenção.
Instagram: @henriquetome__
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