Fulha lança “(P)lenitude” e reafirma-se como voz incontornável do Hip Hop algarvio

Fulha

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O rapper farense Fulha, Diogo Lima, acaba de disponibilizar “(P)lenitude”, a primeira faixa oficial do álbum “Prefácio”. Este lançamento marca um novo capítulo na carreira de um artista que há mais de uma década tem vindo a representar a cena Hip Hop no sul do país, sempre com a mesma premissa: transformar experiências dolorosas em narrativas de superação.

O título “(P)lenitude” não é casual. A palavra entre parênteses remete para a estrutura conceptual do álbum, onde cada canção representa uma página virada, um episódio confrontado. É literatura aplicada ao formato musical, com Fulha a assumir-se como narrador da própria jornada, sem filtros nem concessões ao politicamente correto. Podes ver o vídeo de “(P)lenitude” em baixo.

O que podemos esperar de “Prefácio”

Ainda sem data marcada para o lançamento de “Prefácio“, “(P)lenitude” serve como aperitivo e mantém a linha estabelecida nos lançamentos anteriores: produção sóbria que não ofusca a palavra, batidas que respiram e dão espaço à dicção precisa de Fulha, entre métricas lentas e rápidas a contrastar. Não há artifícios desnecessários nem auto-tune, apenas a voz crua e camadas sonoras que servem a narrativa.

A sua abordagem vocal continua a destacar-se pela entrega emocional. Não se trata de virtuosismo técnico vazio, mas de uma presença que transmite convicção. Cada barra soa como afirmação conquistada através de experiência vivida, não como fórmula replicada de manuais de escrita lírica.

Fulha, capa de "Prefácio"
Fulha, capa de “Prefácio”

“(P)lenitude” surge após a “Intro Prefácio” e “(A)mor”, formando uma trilogia de abertura que estabelece o tom confessional do trabalho. Enquanto “(A)mor” explorava as dimensões afetivas da vulnerabilidade, esta nova faixa concentra-se na busca pelo equilíbrio interior, aquele estado que se atinge quando finalmente se consegue olhar para trás sem rancor e para a frente sem medo paralisante.

Quem já assistiu a um concerto de Fulha sabe que a experiência transcende o formato tradicional de espetáculo. Há uma intensidade palpável na forma como se relaciona com o público, uma troca energética que transforma apresentações em rituais de partilha e combustão espontânea que varia consoante a química da sala. Deixamos o vídeo/teaser de “Prefácio” em baixo.

Fulha: Das ruas da Atalaia aos palcos nacionais

A trajetória de Fulha começou em 2008, nos espaços comunitários do bairro social da Atalaia, onde o freestyle servia de válvula de escape e entretenimento para quem praticava graffiti ou breakdance. Um ano depois, três temas partilhados via SoundCloud e ficheiros MP4 ganharam tração entre os jovens da região, muito antes das plataformas de streaming dominarem a distribuição musical.

Foi em 2011 que fundou os WTDPG (Wolf Thugz Dreampack Gang), coletivo que se tornaria incubadora de talento local e plataforma de afirmação identitária. Desde então, somou mais de setenta atuações ao vivo, entre diversos eventos e festivais como a Fatacil, onde abriu para Plutónio em 2022 e Matias Damásio em 2025, até ao Avante, onde foi cabeça de cartaz do palco Paz Avante em 2023. Participou também em concursos, saindo como vencedor do Música Já, Palco Rua e Bandas ao Figuras, validando assim o reconhecimento orgânico que já tinha na rua num hat trick de distinções.

Fulha nunca se contentou em ser apenas rapper. Paralelamente à carreira musical, desenvolveu iniciativas nos setores cultural e empresarial que reforçam a sua visão de comunidade e autonomia criativa. Estes projetos, embora raramente mencionados nas suas letras, informam a maneira como pensa a cultura urbana, não como produto de consumo, mas como ferramenta de transformação social.

Fulha
Fulha

Filantropia como extensão da arte

Crescer em contexto de escassez não o impediu de desenvolver uma ética de solidariedade que mantém até hoje. Fulha envolveu-se desde cedo em ações de apoio comunitário, organizando iniciativas que já beneficiaram milhares de pessoas. Estas campanhas que incluíram resposta a situações de emergência como incêndios florestais não são publicitadas como estratégia de imagem, mas fazem parte integral da sua pessoa e do seu entendimento sobre responsabilidade coletiva.

Fulha mostra-nos um tipo de coerência raro: pregar resiliência e simultaneamente criar estruturas concretas para que outros também possam superar os seus obstáculos. A música inspira, mas as ações sustentam essa inspiração com impacto mensurável.

Essa autenticidade explica porque continua a ser convidado para dividir palcos com nomes estabelecidos da música portuguesa. Não é apenas tecnicamente competente; é magneticamente presente. E essa presença cria memórias duradouras em quem assiste.

O que aí vem

“Prefácio” promete ser o trabalho mais pessoal de Fulha até à data. Depois de anos a construir reputação e a afinar a voz artística, chegou o momento de abrir completamente o arquivo biográfico e expor as cicatrizes que moldam a visão. Não será disco fácil de digerir, mas também não é essa a intenção. Será, isso sim, um documento honesto sobre o custo de persistir quando tudo empurra na direção oposta, um manual de resiliência e de conselho quando tudo parece ir da forma que menos se espera.

“(P)lenitude” funciona como portal de entrada para esse universo, estabelecendo desde logo que não haverá escapismo nem idealização romântica da luta. Apenas verdade crua, servida com a urgência de quem sabe que silenciar seria mais cómodo, mas infinitamente menos necessário.

Instagram: @fulha_wt

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.