André Carvalho regressa com “Of Fragility and Impermanence”

André Carvalho. Crédito Fotografia: João Hasselberg

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O contrabaixista e compositor André Carvalho prepara-se para revelar ao público português uma das suas criações mais pessoais. Of Fragility and Impermanence“, que chegará às plataformas digitais e às lojas a 7 de Novembro pela Robalo Music, representa uma viragem introspectiva na carreira do músico portuense, que desta vez mergulha fundo nos temas da vulnerabilidade humana e do carácter efémero da vida.

Longe dos conceitos mais abstractos dos trabalhos anteriores, este novo álbum nasce de observações quotidianas que qualquer ouvinte reconhecerá como suas. André Carvalho construiu cada uma das sete faixas como meditações independentes, explorando desde a angústia da paternidade até àqueles momentos fugidios em que a beleza surge nos gestos mais simples. É música que exige silêncio à volta, que pede tempo para ser digerida.

A abertura do disco acontece com “No man crosses the same river twice, for it’s not the same river and he’s not the same man“, título emprestado ao filósofo Heraclitus que funciona quase como manifesto estético. Aqui, André Carvalho traduz literalmente o conceito de impermanência: nada se repete exactamente, tudo muda, tudo flui. A composição evolui constantemente, reinventa-se a cada compasso, num jogo entre estrutura e acaso que se tornou marca registada do compositor.

Residência em Serpa molda estética crua do novo trabalho

O processo criativo beneficiou de uma residência no Centro Musibéria em Serpa, onde o isolamento e a tranquilidade do Alentejo permitiram a André Carvalho trabalhar sem pressas. O resultado mostra-se na textura final do disco “Of Fragility and Impermanence”: sons captados ao vivo misturam-se com camadas electrónicas subtis, criando paisagens sonoras que oscilam entre a intimidade do quarto e a vastidão do cosmos.

José Soares empresta o seu saxofone a várias passagens cruciais, enquanto Raquel Reis adiciona profundidade melancólica com o violoncelo. Samuel Gapp surge ao piano em momentos-chave, e João Hasselberg molda o ambiente electrónico que atravessa todo o trabalho. Não se trata de um álbum de jazz tradicional, nem de música erudita contemporânea pura. André Carvalho continua a habitar essa zona indefinida onde as fronteiras se esbatem.

André Carvalho, capa do álbum "Of Fragility and Impermanence"
André Carvalho, capa do álbum “Of Fragility and Impermanence”

A estética crua que caracteriza grande parte das faixas resulta de uma abordagem minimalista à produção, com André Carvalho a privilegiar a naturalidade dos timbres e deixando que os silêncios respirem, permitindo que pequenas imperfeições técnicas permaneçam se servirem a narrativa emocional. É uma escolha consciente que reflecte a filosofia central do álbum: aceitar a imperfeição como parte intrínseca da beleza.

Sobre André Carvalho

Depois dos aclamados Lost in Translation (Volumes I & II) e The Garden of Earthly Delights, André Carvalho consolida a sua posição como um dos compositores portugueses mais interessantes da actualidade. Paralelamente, o trabalho para cinema tem-lhe granjeado reconhecimento internacional, com destaque para a banda sonora de Atom & Void, nomeada para os Prémios Sophia 2025.

A dimensão cinematográfica da sua música transparece claramente em Of Fragility and Impermanence. Há algo de visual nestas composições, como se cada faixa fosse pensada para acompanhar imagens que nunca chegamos a ver. Talvez seja essa capacidade de evocar narrativas sem palavras que torna a música de André Carvalho tão envolvente.

O álbum chega num momento em que a música portuguesa ganha cada vez mais visibilidade internacional, e André Carvalho posiciona-se numa vertente que poucos exploram com esta profundidade. Não procura o reconhecimento fácil nem as fórmulas comerciais; prefere o caminho mais árduo de quem constrói uma linguagem própria, peça a peça, nota a nota.

As apresentações ao vivo prometem ser especiais. O Guimarães Jazz, a 8 de Novembro, será a estreia oficial, seguindo-se actuações no BOTA Anjos (28 de Fevereiro de 2026) e no Teatro Municipal de Bragança (18 de Junho de 2026). Em palco, estas composições ganharão nova vida, beneficiando da espontaneidade que André Carvalho sempre privilegiou nas suas actuações.

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André Carvalho. Crédito Fotografia: João Hasselberg

Of Fragility and Impermanence” confirma André Carvalho como um artista singular no panorama musical português. Num disco que funciona tanto como banda sonora para momentos de contemplação quanto como obra autónoma de arte sonora, o compositor prova que é possível fazer música profundamente pessoal sem cair no hermetismo, universal sem perder a especificidade.

Para quem procura alternativas ao ruído constante do quotidiano, este novo trabalho oferece exactamente isso: um espaço de silêncio povoado por sons que importam, reflexões musicais sobre o que nos torna humanos. Carvalho conseguiu transformar fragilidade em força, impermanência em eternidade – pelo menos durante os 47 minutos que dura o disco. A não perder, com lançamento marcado para 7 de Novembro.

Instagram: @andrecarvalho.bass | Facebook: @carvalhobass

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.