Festival Informal de Ópera (FIO) regressa em setembro com ópera contemporânea entre Loulé e Alte

Festival Informal de Ópera (FIO) em Loulé e Alte

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O Festival Informal de Ópera (FIO) prepara-se para conquistar o Algarve. Depois de duas edições bem-sucedidas no Minho, este projeto singular que mistura criação contemporânea, património e participação local instala-se no concelho de Loulé nos próximos dias 13 e 14 de setembro. Uma mudança de cenários que promete revelar novas facetas desta proposta artística que tem vindo a redefinir a forma como se olha para a ópera em Portugal.

A terceira edição do Festival Informal de Ópera (FIO) traz consigo uma novidade significativa: pela primeira vez, o festival não se limita ao contexto urbano. Se em Loulé, no sábado 13, as óperas tomarão conta de espaços emblemáticos da cidade como o Anfiteatro António Aleixo e o Santuário da Mãe Soberana, no domingo seguinte será a vez da aldeia de Alte receber esta experiência artística única. A Escola Profissional de Alte e o Anfiteatro da Fonte Pequena convertem-se em palcos improváveis para um género musical habitualmente associado aos grandes teatros.

Esta expansão geográfica não é casual. O Festival Informal de Ópera (FIO) sempre se pautou pela criação de óperas pensadas especificamente para os locais onde são apresentadas, estabelecendo um diálogo íntimo entre a música, o texto, a encenação e o património arquitetónico ou paisagístico. Em Alte, as paisagens naturais da Serra Algarvia tornam-se parte integrante do espetáculo, numa aposta que pode renovar completamente a perceção sobre onde e como se pode fazer ópera.

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Cartaz do Festival Informal de Ópera (FIO) em Loulé e Alte

Quatro óperas, quatro mundos

O programa desta edição apresenta quatro criações originais, desenvolvidas por equipas artísticas inteiramente portuguesas. Cada obra nasce do encontro entre compositores, libretistas e encenadores que trabalham em colaboração estreita, construindo peças que fogem aos cânones tradicionais do género.

Mane-Quim/Pig-Malião” abre as hostilidades no Anfiteatro António Aleixo em Loulé. A parceria entre o compositor Gerson Batista, o libretista Tiago Schwäbl e o encenador João Fino promete uma abordagem irreverente que, desde o título, brinca com códigos e expectativas. Segue-se “M.O.G.A.”, trabalho de Sara Ross (música), Inês Barahona (texto) e co-encenação de Sara Ross e Teresa Gentil, que será apresentada no ambiente solene do Santuário da Mãe Soberana (Loulé).

Em Alte, “Coisas do Verão”, da autoria de João Caldas (música), Pedro Rodrigues (texto) e Márcia Lança (encenação), estreia na Escola Profissional, enquanto “Abelardo e Heloísa” encerra o festival no Anfiteatro da Fonte Pequena. Esta última obra, com música de Fátima Fonte e texto e encenação de Patrícia Portela, revisita o célebre romance medieval numa linguagem contemporânea.

A diversidade de abordagens espelha uma das características mais interessantes do FIO: a recusa de uma fórmula única. Cada equipa criativa desenvolve a sua própria linguagem, resultando num programa eclético que desafia tanto intérpretes como audiências.

Programa Festival Informal de Ópera (FIO) em Loulé e Alte

Festival Informal de Ópera | 3ª Edição
HoraEventoLocal
LOULÉ – 13 de setembro, Sábado
10h30Flashmob OperáticaMercado Municipal de Loulé
17h00Ópera ParticipativaAuditório Solar da Música Nova
21h00Mane-Quim/Pig-MaliãoAnfiteatro António Aleixo
21h40Percurso SonoroCidade de Loulé
22h30M.O.G.ASantuário da Mãe Soberana
ALTE – 14 de setembro, Domingo
18h00Coisas do VerãoEscola Profissional de Alte
18h45Percurso SonoroAldeia de Alte
19h30Abelardo e HeloísaAnfiteatro da Fonte Pequena

Mais do que ópera

O festival não se limita às quatro óperas principais. O programa inclui uma série de “atividades satélite” que ampliam a experiência artística e envolvem diretamente a comunidade local. A manhã de sábado começa com uma flashmob operática no Mercado Municipal de Loulé, que promete ser um momento mais descontraído e que promete surpreender quem passar por ali desprevenido.

Mais estruturada é a ópera participativa que será apresentada no Auditório Solar da Música Nova, criada em colaboração com jovens locais sob a coordenação de Francisco Brazão. Esta componente pedagógica e comunitária tem sido uma constante do FIO, sublinhando a vontade de tornar a ópera acessível e participada, longe da imagem elitista que por vezes a caracteriza.

Entre as óperas principais, os “percursos sonoros” conduzem o público através das ruas de Loulé e dos caminhos de Alte, criando pontes musicais e narrativas entre os diferentes espetáculos. Estes interlúdios, longe de serem meros tempos mortos, integram-se no conceito geral do festival, transformando o próprio deslocamento numa experiência artística.

Festival Informal de Ópera (FIO). Crédito Fotografia: FIO.
Festival Informal de Ópera (FIO). Crédito Fotografia: FIO.

Talentos emergentes e veteranos

A direção musical fica a cargo de Jan Wierzba e Rita Castro Blanco, uma dupla que combina experiência internacional com conhecimento profundo da cena portuguesa. Os cantores solistas – Ana Caseiro, Sara Afonso, António Lourenço Menezes e Ricardo Rebelo da Silva – representam diferentes gerações da ópera nacional, garantindo um leque interpretativo variado.

A participação da Orquestra do Algarve confere qualidade instrumental às produções, enquanto a presença do Coro da Aldeia, grupo musical comunitário algarvio, reforça a ligação às comunidades locais. Esta mistura entre profissionais e amadores, entre estruturas estabelecidas e iniciativas de base, caracteriza o espírito do Festival Informal de Ópera (FIO).

Sara Ross, uma das mentoras artísticas do projeto, não esconde o entusiasmo com esta nova etapa: “Depois do sucesso das primeiras edições no Minho, levamos o FIO à região do Algarve com uma enorme expectativa, prometendo transportar toda a dinâmica que conquistou o público nas primeiras edições, acrescentando a essa dinâmica ainda mais atividades.”

Festival Informal de Ópera (FIO). Crédito Fotografia: FIO.
Festival Informal de Ópera (FIO). Crédito Fotografia: FIO.

Um modelo em evolução

O FIO nasceu de um coletivo informal de artistas que questionavam as fronteiras tradicionais da ópera. As primeiras experiências em Braga (2021) e em Braga e Barcelos (2023) confirmaram que existe público para propostas artísticas que conjuguem qualidade musical, inovação cénica e proximidade comunitária.

Fátima Fonte, outra das criadoras do festival, sublinha a importância da itinerância: “A itinerância é um dos conceitos nucleares do FIO e estamos confiantes de que seremos muito bem recebidos pelo público louletano.” Esta filosofia itinerante não serve apenas objectivos de descentralização cultural – é também uma forma de testar o conceito em contextos diferentes, permitindo que o projeto evolua e se adapte.

O apoio da Direção Geral das Artes e da Câmara Municipal de Loulé garante as condições necessárias para que esta experiência se concretize. Mas o verdadeiro teste será a reação do público algarvio, tradicionalmente mais habituado a propostas turísticas e de entretenimento descomprometido do que a experimentação artística envolvente e operática.

Festival Informal de Ópera (FIO). Crédito Fotografia: FIO.
Festival Informal de Ópera (FIO). Crédito Fotografia: FIO.

Ópera sem preconceitos

O que o Festival Informal de Ópera (FIO) propõe, no fundo, é uma democratização da ópera que passa não pela simplificação, mas pela reimaginação dos seus contextos de apresentação e recepção. As óperas mantêm a complexidade musical e dramática do género, mas despem-se dos rituais e convenções que podem intimidar espectadores menos familiarizados.

Ao criar obras de pequeno formato, tipicamente com duração inferior a uma hora, e apresentá-las em espaços não convencionais, o festival torna a ópera mais acessível sem a descaracterizar. Ao mesmo tempo, oferece aos criadores portugueses uma plataforma para experimentar com formas operáticas contemporâneas, área onde as oportunidades são tradicionalmente escassas.

Os percursos entre espetáculos, a ópera participativa e a flashmob contribuem para criar uma atmosfera festiva que contrasta com a solenidade habitual das salas de ópera. O público não assiste passivamente, mas participa numa experiência cultural mais ampla que transforma temporariamente a cidade e a aldeia em palcos operáticos.

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Festival Informal de Ópera (FIO). Crédito Fotografia: FIO.

Encontro marcado

Nos próximos dias 13 e 14 de setembro, Loulé e Alte convertem-se em território operático. Para quem nunca assistiu a uma ópera, o Festival Informal de Ópera (FIO) oferece uma porta de entrada acolhedora. Para os já iniciados, propõe uma perspectiva renovada sobre as possibilidades do género.

O festival comprova que a ópera, longe de ser um género estático, mantém capacidade de reinvenção e adaptação. Ao sair dos teatros tradicionais e abraçar novos contextos, novos públicos e novas formas de criação, o Festival Informal de Ópera (FIO) contribui para a vitalidade de uma arte que, afinal, sempre se alimentou de mudança e inovação.

Duas cidades, quatro óperas, múltiplas experiências. O convite está lançado para quem estiver no Algarve e quiser descobrir o que acontece quando a ópera vai ter connosco, em vez de esperarmos que nós vamos ter com ela.

Instagram: @fio_festivalinformaldeopera | Facebook: @festivalinformaldeopera

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.