Uma “Queimada” junta FeMa, Francis Salema, Malinwa e Mia Lobo à luz da vela

Já se encontra disponível “Queimada”, o tema que une FeMa, Francis Salema, Malinwa e Mia Lobo num exercício de criação coletiva que cruza a música tradicional portuguesa com a pop contemporânea e as texturas sensíveis da eletrónica. Produzida por Nuno Rancho, a canção nasce de uma residência artística no espaço SERRA em Leiria, no âmbito das Academias MIL, e foi finalista da Mostra Nacional de Jovens Criadores em 2024.

“Queimada” é uma canção sobre o luto, sobre os seus vários estágios e sobre o que acontece depois. As quatro vozes, com timbres e percursos distintos, entrelaçam-se sobre um pulsar de baixo e percussão para dar corpo a um tema que é simultaneamente íntimo e universal. O refrão em forma de mantra, funciona como fio condutor de uma canção que nasce da dor mas aponta para a luz, afirmando a resiliência como força criadora.

Tradição e vanguarda em diálogo

Apesar das abordagens líricas e musicais próprias de cada artista, todos partilham um mesmo fascínio pela palavra, pela narrativa, pela possibilidade de contar histórias com peso e verdade. “Queimada” é a síntese dessa procura. Um exercício que parte da tradição oral e da canção portuguesa para a colocar no centro da experimentação estética e emocional. A canção propõe um espaço de reconstrução, onde a dor e a perda são assumidas como matéria-prima da criação. Mais do que uma colagem de vozes, “Queimada” é um manifesto sobre o poder transformador da arte.

Quatro artistas, um território comum

FeMa é o nome artístico de Diogo Félix, artista de Alcobaça com formação em canto, guitarra, teatro e biologia. Criador do conceito ‘Tugaze’, que junta o shoegaze ao fado e à música celta, tem dois EPs editados e atua regularmente em todo o país. É uma das vozes emergentes mais destacadas da nova geração musical portuguesa.

Francis Salema é músico, ativista e artista trans. Cresceu nas Galinheiras, em Lisboa, e a sua música cruza violoncelo, guitarra e uma escrita crua e direta. Aborda temas como a transfobia, saúde mental, vício e violência institucional. Em abril de 2024 lançou o seu primeiro single, “Maçãs Podres”.

Malinwa, alter ego de Hugo Santos, natural de Leiria, é um projeto autoral que se move entre a espiritualidade, a crítica social e a música exploratória. Com dois discos editados, constrói uma estética sonora contemplativa e profundamente humanista.

Mia Lobo escreve e canta como quem precisa de se libertar. As suas canções nascem de um espaço íntimo e visceral, onde as palavras são sempre veículo de cura. Composição e performance encontram nela uma expressão intensamente pessoal.

“Queimada” é um manifesto

Mais do que uma canção, “Queimada” é um manifesto coletivo sobre renascimento, sobre o que fica depois do fim e sobre o que se ergue das cinzas. Uma celebração do poder da música como lugar de encontro, de escuta e de transformação. Uma afirmação de que, mesmo depois do fogo, ainda há manhãs por cantar.

Letras de "Queimada"com FeMa, Francis Salema, Malinwa e Mia Lobo
Letras de “Queimada”com FeMa, Francis Salema, Malinwa e Mia Lobo

Ficha técnica de “Queimada”
Letra e música: Diogo Félix, Francis Salema, Hugo Santos, Maria João Lameiras
Produção: Nuno Rancho
Voz: Diogo Félix, Francis Salema, Hugo Santos, Maria João Lameiras e Nuno Rancho
Instrumental: Diogo Félix, Francis Salema, Hugo Santos, Maria João e Nuno Rancho
Mistura e masterização: Nuno Rancho
Apoio técnico: Filipa Antão, João Silva, Mariana Lois, Rubén Lopes, Sara Fernandes
Apoio institucional: Festival MIL, SERRA
Design gráfico e material promocional: Lisa Teles

Queres ver mais notícias sobre música portuguesa? Carrega aqui!

Pedro Ribeiro
Escrito por

Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.