No dia que antecede as celebrações do 25 de Abril, Capicua revela o vídeo da canção “Danúbio”, com a participação especial de Gisela João. O tema integra o mais recente álbum Um Gelado Antes do Fim do Mundo e surge como um alerta musical poderoso sobre o crescimento da extrema-direita e os fantasmas que pairam sobre a Europa contemporânea.
Um fantasma chamado passado
Inspirada por uma notícia real sobre a seca que atingiu o centro da Europa há três verões e que expôs os destroços de navios nazis submersos no Danúbio, Capicua constrói uma metáfora inquietante sobre a repetição histórica. “Temos o passado todo pela frente”, canta-se, enquanto as imagens daqueles barcos ferrugentos ecoam o regresso das ideias retrógradas, armadilhadas pelo ódio.
A canção, com letra de Capicua, conta com a produção de Luís Montenegro e a guitarra de Pedro Geraldes. O refrão, marcado pela voz grave e intensa de Gisela João, mistura o fado com a estética cinematográfica de um western spaghetti, criando uma atmosfera densa e dramática — tão urgente quanto necessária.
Uma semana para não esquecer
Capicua apresenta “Danúbio” ao vivo esta quarta-feira, 24 de abril, nas comemorações do 25 de Abril na Avenida dos Aliados, no Porto. Segue-se Fafe, no dia 26, na Praça 25 de Abril. Com o álbum em digressão, a artista passará ainda por vários festivais nacionais nos próximos meses, incluindo o NOS Alive, o Festival Músicas do Mundo e o Festival Paredes de Coura.
O vídeo oficial é realizado por André Tentugal e acompanha um lyric video que reforça o impacto visual da mensagem. O tema chega como um murro lírico e musical, um lembrete em plena semana da Liberdade: a História não se apaga — mas pode repetir-se, se deixarmos.
Capicua – Concertos e Datas confirmadas
- 24 Abril – Porto, Avenida dos Aliados
- 26 Abril – Fafe, Praça 25 de Abril
- 28 Abril – Aveiro, Semana do Enterro
- 17 Maio – Castelo Branco, CT Avenida
- 31 Maio – Seixal, Festival do Maio
- 11 Julho – Lisboa, NOS Alive
- 25 Julho – Sines, Festival Músicas do Mundo
- 26 Julho – Mêda, Festival Mêda +
- 13 Agosto – Paredes de Coura, Festival Paredes de Coura
Capicua: da sociologia ao rap com consciência e poesia
Ana Matos Fernandes, conhecida como Capicua, é uma das vozes mais marcantes e singulares do hip hop e música portuguesa contemporânea. Natural do Porto, formou-se em Sociologia no ISCTE e concluiu o doutoramento em Geografia Humana em Barcelona. Desde muito jovem Ana mergulhou no universo das palavras, escrevendo poemas e explorando a linguagem, cultivando um espírito crítico aguçado, inteligente e mordaz. Cresceu a ouvir música de intervenção e ainda adolescente, apaixonou-se pela cultura hip-hop onde descobriu um espaço de liberdade e expressão. Começou por editar mixtapes e EPs de forma independente no início dos anos 2000, mas foi com o álbum homónimo lançado em 2012, através da Optimus Discos, que alcançou o grande público.
Com influências que vão desde Zeca Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco até referências internacionais como Erykah Badu, Capicua construiu uma identidade própria, onde a poesia, o ativismo e a sonoridade urbana se cruzam. Os seus álbuns “Sereia Louca” e “Medusa” consolidaram-na como uma das principais MCs do país, reconhecida pela sofisticação lírica e pela consciência social que imprime nas suas letras.
O seu percurso académico e a sua vivência pessoal entre Portugal e Espanha deram-lhe uma visão plural e crítica do mundo, que se reflete na sua obra. Capicua vê o rap como uma ferramenta de emancipação, capaz de elevar as palavras de quem habitualmente não tem espaço no discurso público. Para ela, fazer música é também uma forma de intervenção e de construção de sentido coletivo.
Ao longo da sua carreira, colaborou com nomes como Sam The Kid, DJ Ride, Sérgio Godinho, entre muitos outros. E embora se destaque num meio tendencialmente masculino, Capicua nunca se quis limitar ao papel de exceção — pelo contrário, tem sido uma voz ativa pela representatividade das mulheres no rap e na cultura em geral.
Mais do que uma rapper, Ana é uma artista que transforma o mundo em palavras e rima com a consciência de quem sabe que a arte também pode ser um gesto político. Podes seguir a Capicua no seu Instagram e no seu site, Capicua.pt.
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