Humberto, persona musical de Bruno Humberto, acaba de editar o seu album de estreia, “Mau Teatro” e que já está disponível em todas as plataformas digitais, acompanhado pelo single “Amarrotado”. Humberto escolheu a Casa Capitão, em Lisboa, para apresentar o seu novo registo esta quinta-feira, 16 de outubro, às 21h00.
O terceiro single extraído do disco chama-se “Amarrotado” e funciona como síntese do conceito do álbum. A canção fala sobre os jogos de poder e manipulação dentro das relações amorosas, sobre a tendência humana para cair sempre no mesmo sítio. Há aqui uma ironia fina: o amor, que supostamente seria o território mais espontâneo, acaba transformado em coreografia previsível. Podes ouvir “Amarrotado” de Humberto em baixo.
“MAU TEATRO”: Um disco construído entre falhas e repetições
“MAU TEATRO” é uma declaração de intenções e princípios. Humberto interessa-se pelo lado torto das coisas, pela simulação que atravessa tanto os discursos políticos como as relações privadas. O álbum reúne nove canções escritas ao longo dos últimos anos, todas em português, todas a orbitar temas como impotência política, absurdo quotidiano e os gestos que teimamos em repetir, mesmo quando sabemos que vão dar errado. Fica o vídeo de “Peça Triste” em baixo.

A sonoridade cruza indie-folk e pop com traços de música tradicional e fado, sem tentar parecer-se com nenhum desses géneros em particular. O que resulta é algo permeável, íntimo e sujo de propósito. Humberto não procura o acabamento impecável, prefere deixar entrar a luz e a sombra em doses iguais.
Antes de “Amarrotado”, Humberto tinha já revelado “Peça Triste”, que aborda o populismo e a repetição mecânica dos gestos de quem quer chegar ao poder, e “FOLA”, palavra usada pelos pescadores para designar mar bravo. Esta última tem espírito popular e carga interventiva, evocando a solidariedade entre quem vive do oceano e a resistência inscrita na paisagem de Peniche.
O álbum abre com “Peça Triste” e fecha com “O Dia Adiado”, cinco minutos dedicados ao adiamento perpétuo das decisões importantes. Pelo meio, há canções como “Creme”, “Mão Cheia” ou “A Luz Através do Cimento”, esta última a mais extensa do disco com 5:15 minutos. “Peça Sem Refrão” dispensa o formato mais óbvio da canção pop e explora uma estrutura menos previsível.
A gravação, produção e mistura ficaram a cargo de Miguel Nicolau. A bateria foi gravada por Pedro Ferreira e tocada por Diogo Arranja em sete das nove faixas. A masterização dividiu-se entre Hugo Valverde e Nuno Monteiro. O design de capa foi assinado por Paulo Mariz, com fotografia de João Hasselberg e do próprio Bruno Humberto.
Um percurso que atravessa disciplinas
Bruno Humberto não se limita à música. Nascido nas Caldas da Rainha, o seu trajeto passa pelas artes performativas, pela escrita e pela experimentação sonora. Estudou e lecionou Performance Making na Goldsmiths College, em Londres, onde cofundou a Orchestra Elastique. Com esta formação lançou dois álbums, um EP e compôs a banda sonora de “A Fallible Girl” (2013), filme apresentado no Festival Internacional de Cinema de Roterdão.

De regresso a Portugal, colaborou em instalações sonoras com Allard van Hoorn no Lisboa Soa (2016) e na inauguração do MAAT (2017). Compôs também para peças do coreógrafo Gustavo Ciríaco, apresentadas em festivais como Todos, Walk & Talk e Alcântara. Fundou as bandas Catarata e Vicious Lodge e mantém-se ativo em projetos de improvisação.
“MAU TEATRO” vem dar sequência ao EP “A Demolição das Casas”, editado em 2021. Nesse trabalho anterior, Humberto já explorava a ideia de ruína e reconstrução, mas aqui o foco expande-se para o teatro social, aquele que acontece quando fingimos ter tudo sob controlo, quando ensaiamos frases para parecer seguros, quando repetimos padrões que já não nos servem.
A citação de Erving Goffman que abre a apresentação do disco não é decorativa.
“No palco as coisas que se mostram são simuladas; na vida, provavelmente, as coisas que surgem são reais e nem sempre foram bem ensaiadas.” , Erving Goffman
É precisamente essa tensão que atravessa o álbum: o espaço entre o que mostramos e o que somos, entre o que preparamos e o que nos escapa.

Concerto de apresentação na Casa Capitão
O formato ao vivo é onde estas canções ganham outra dimensão. Humberto não esconde que prefere o palco à gravação, porque é lá que o improviso e a falha têm lugar garantido. Esta noite, na Casa Capitão às 21h00 o disco será apresentado na íntegra, com a presença dos músicos que o gravaram.
Lisboa recebe assim um disco que fala de Portugal sem postais turísticos, que olha para a política sem slogans, que aborda o amor sem romantismo fácil. “MAU TEATRO” é um álbum feito para quem já desconfia das encenações mas continua a comparecer, noite após noite, para ver como a peça termina. Já compraste o teu ingresso?
Instagram: @humberto_oh_humberto
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