Estela Alexandre Orquestra estreia-se com “Cantomilo”

Estela Alexandre Orquestra, Cantomilo

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A jovem pianista e compositora Estela Alexandre e o projeto Estela Alexandre Orquestra lançaram no passado dia 9 de maio o seu aguardado álbum de estreia, “Cantomilo”. O trabalho foi apresentado ao vivo dois dias depois, a 11 de maio, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, e marca um momento de afirmação para uma artista que se posiciona como uma das novas promessas do jazz português. Cantomilo e um disco ambicioso, poético e orquestral que marca o início de um projeto unico no panorama do jazz nacional

Estela Alexandre Orquestra

Depois de uma estreia arrebatadora no I Festival de Jazz de Oeiras, com casa cheia, Estela Alexandre Orquestra dá agora corpo a um projeto de grande fôlego: uma orquestra original e independente, algo ainda raro no panorama nacional, tradicionalmente mais associado a estruturas institucionais.

“Cantomilo” reúne cerca de 50 músicos de referência, entre os quais se destacam Bernardo Moreira, João Moreira, João Mortágua, Bernardo Couto, André Santos, Luís Cunha, Desidério Lázaro, Bernardo Tinoco e Diogo Alexandre. Uma constelação de talento que se junta à sensibilidade da jovem compositora para criar um disco ambicioso e delicado, onde convivem complexidade e emoção.

Uma linguagem pessoal, entre o jazz, tradição e cinema

A música de Estela Alexandre Orquestra desafia classificações fáceis. Ainda que enraizada no jazz, a sua abordagem à composição e orquestração cruza géneros, linguagens e geografias. Em temas como “Coisas”, dos Ornatos Violeta, a artista presta homenagem a uma banda marcante da sua geração, reinventando o tema com uma nova carga emocional.

“Ornatos Violeta têm um lugar especial para mim. Fazem parte da minha identidade musical. Têm frequentemente uma melancolia doce que me apaixona, por isso, é injusto escolher uma canção preferida em Ornatos, mas arriscaria Coisas pela frescura. Esta é uma homenagem à banda, mantendo a essência da canção original.”, diz a artista

Já em “Dedicatória”, a inspiração vem do universo de Carlos Paredes, enquanto “Strange Fruit”, imortalizada por Billie Holiday e Nina Simone, surge aqui numa leitura minimalista ao piano e voz, com Estela a revelar também a sua faceta como intérprete.

Cantomilo: paisagem sonora e intimidade

Mais do que um disco de estreia da Estela Alexandre Orquestra, “Cantomilo” é uma viagem pessoal. Inspirado pelo lugar real com o mesmo nome, o álbum propõe ao ouvinte um percurso contemplativo, onde a Natureza, o tempo e o silêncio se entrelaçam com a música numa banda sonora interior.

Com uma estética próxima do universo cinematográfico, cada faixa é como uma cena, um plano ou uma memória em construção. Harmonias densas, texturas subtis e atmosferas melancólicas dão forma a um mundo íntimo, mas aberto à interpretação de quem escuta.

“Cantomilo” é mais do que um disco de estreia — é um registo documental da entrada de Estela Alexandre no universo da composição e da Estela Alexandre Orquestra. Criado ao longo de quatro anos, em plena travessia pandémica, o álbum reflete a evolução da sua escrita e guarda a autenticidade de um tempo marcado pelo isolamento e pela introspeção.

“Durante o confinamento, reunir uma orquestra seria impossível. Por isso, o álbum começa com gravações caseiras, registadas individualmente no isolamento das nossas casas”, partilha a compositora, que decidiu manter esses registos como memória viva do processo criativo.

Foi em Cantomilo, zona da freguesia das Cortes, em Leiria, que Estela redescobriu a natureza e iniciou a sua jornada de escrita para grandes formações, inspirando-se em paisagens, património e sentimentos do lugar.

Uma nova voz a descobrir

Natural de Leiria, Estela Alexandre iniciou-se no piano de forma autodidata antes de prosseguir estudos formais no Orfeão de Leiria e mais tarde no Conservatório de Música de Coimbra, onde concluiu o curso profissional de jazz. Licenciada em Piano Jazz pela Escola Superior de Música de Lisboa, foi aí que começou a explorar com mais profundidade a escrita para orquestra — uma linguagem que hoje domina com assinatura própria. Ao longo do seu percurso, tem integrado e colaborado com diversas orquestras como a Orquestra de Jazz de Matosinhos, Hot Clube de Portugal, Espinho, Off Limits e Orquestra de Jazz de Leiria, sendo atualmente compositora e arranjadora da Basel Jazz Orchestra, na Suíça.

Fotografia Estela Alexandre, créditos Maria Bicker
Fotografia Estela Alexandre, créditos Maria Bicker

O seu trabalho como compositora tem sido amplamente reconhecido: venceu o Concurso Internacional de Composição Musical de Leiria em 2023 e 2025, e foi finalista da prestigiada JazzComp Graz (Áustria) em 2024. Colaborou com artistas como Bernardo Moreira, João Mortágua, Bernardo Couto ou Luís Represas, e integrou o Cinematic Pocket Orchestra na musicagem ao vivo de filmes de Charlie Chaplin. Atualmente leciona na School of Rock (Lisboa), depois de ter passado pelo Conservatório Nacional. A sua música cruza rigor técnico, intuição melódica e uma sensibilidade cinematográfica que a tornam numa das mais promissoras compositoras da nova geração do jazz nacional, atraindo agora ainda mais atenções com”Cantomilo”, o primeiro lançamento da Estela Alexandre Orquestra.

Com “Cantomilo”, Estela Alexandre afirma-se como compositora, pianista, orquestradora e intérprete, abrindo espaço para uma carreira que promete não seguir atalhos fáceis. É um disco que exige atenção, mas recompensa com beleza, verdade e profundidade. O álbum de Estela Alexandre Orquestra já se encontra disponível em todas as plataformas digitais.

Podes seguir a Estela Alexandre Orquestra no Instagram e no seu site estela-alexandre.com.

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.