A Universidade de Aveiro organiza a 21.ª edição do Festivais de Outono. São mais de 15 concertos, de 26 de outubro a 28 de novembro, todos eles a girar em torno de um tema central: Juventude e Tecnologia. A programação mistura música clássica, sonoridades contemporâneas e projetos experimentais que usam ferramentas digitais para explorar novos caminhos criativos.
Pedro Rodrigues, diretor artístico e professor na Universidade de Aveiro, enquadra esta edição numa reflexão sobre o lugar que a música ocupa nas vidas dos mais novos e o modo como a tecnologia pode expandir e democratizar o acesso à cultura.
“O papel da música no seio das novas gerações, bem como as tipologias de intervenção da tecnologia em contextos artísticos enquanto possibilitadora de novas formas de expansão criativa e participação, inclusiva e enriquecedora de toda a comunidade“, sublinha Pedro Rodrigues no texto de apresentação.
Festivais de Outono: Apostas na formação e no talento regional
A programação do Festivais de Outono deste ano materializa-se através de uma rede de parcerias com instituições de ensino artístico da região. Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Aveiro, Banda Amizade, Conservatório de Música e Artes do Dão e os próprios departamentos da UA juntam-se para criar um espaço de visibilidade aos jovens intérpretes que começam agora a traçar percursos profissionais. Esta malha de colaborações permite que o Festivais de Outono funcionem simultaneamente como montra e laboratório, onde a experimentação convive com a tradição e os músicos em formação partilham palco com nomes já consagrados. Fica um teaser do Festivais de Outono, edição de 2023 em baixo:
O concerto inaugural, marcado para 26 de outubro, exemplifica bem esse diálogo. A Orquestra Filarmonia das Beiras atua no Auditório Renato Araújo com a violinista Laura Peres, vencedora do 1.º Prémio no Prémio Jovens Músicos 2024, sob a batuta do maestro Jan Wierzba. Já o fecho, a 28 de novembro no Teatro Aveirense, reúne a Orquestra Filarmonia das Beiras com a Orquestra Sinfónica do DeCA da Universidade de Aveiro e o saxofonista Henrique Portovedo, numa direção de Luís Carvalho.
Nomes nacionais e latino-americanos na programação
Entre os destaques do cartaz do Festivais de Outono está Surma, que atua a 6 de novembro no GrETUA. A artista portuguesa tem-se afirmado como uma voz singular no panorama eletrónico nacional, explorando territórios onde a música de dança se cruza com narrativas intimistas. Outro momento aguardado acontece a 14 de novembro, quando Martín Sued sobe ao palco acompanhado pela Orquestra Assintomática. O projeto, nomeado para os Latin Grammys 2025, propõe uma fusão entre raízes argentinas e arranjos orquestrais, num registo que tem conquistado públicos além-fronteiras.
Daniel Bernardes, distinguido com o Prémio SPA Autores 2025, apresenta-se a 20 de novembro no Auditório do DeCA, com abertura de Mariana Rosas do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian. A diversidade estética atravessa também propostas como o Ensemble Voz de Fora (18 de novembro, Capela do Senhor das Barrocas), o Trio Sonância (25 de novembro, Teatro Vista Alegre, Ílhavo) ou o duo formado por Nuno Soares e Yuri Popov (27 de novembro, Seminário de Santa Joana Princesa).
Tecnologia e experimentação sonora
O tema Juventude e Tecnologia ganha forma concreta em projetos como “Ligados às Máquinas”, agendado para 22 de novembro. Este concerto explora as possibilidades criativas que emergem quando intérpretes e dispositivos tecnológicos trabalham em conjunto, interrogando limites entre composição, improvisação e geração algorítmica de som. “Presente(em)mente”, marcado para 11 de novembro, segue linha semelhante ao propor um diálogo entre práticas performativas e recursos digitais aplicados à música ao vivo.
A reflexão sobre o papel das máquinas na criação artística atravessa várias gerações de compositores e intérpretes. O que esta edição do Festivais de Outono parece querer sublinhar é que a tecnologia deixou de ser apenas ferramenta auxiliar para se tornar ela própria agente criativo, capaz de abrir caminhos que a interpretação tradicional não consegue alcançar sozinha.
Concertos para famílias voltam ao programa
Os “Concertos para Famílias”, que nas edições anteriores do Festivais de Outono conquistaram o público infantil, regressam com três sessões matinais. A Camerata do Dão, sob direção de Sérgio Neves, inaugura este eixo a 9 de novembro. No dia 16, sobem ao palco António Pereira e Lígia Madeira. Estes concertos, pensados para quem dá os primeiros passos na escuta musical, propõem formatos mais curtos e interativos, quebrando a distância habitual entre palco e plateia. A intenção passa por criar memórias sonoras na infância, num tempo em que a relação com a música se constrói cada vez mais através de ecrãs e algoritmos de recomendação.
Orquestras académicas e conservatórios em destaque
A componente formativa marca presença forte no Festivais de Outono com várias atuações de agrupamentos ligados às instituições parceiras. A Orquestra de Sopros da UA, com a pianista Ana Telles e direção de Alberto Roque, apresenta-se a 30 de outubro. A Banda Amizade, dirigida por Carlos M. Marques, atua a 2 de novembro. Já a 23 de novembro, o Coro e Orquestra da Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian sobem ao palco da Nave Multiusos Caixa UA, sob direção de Emanuel Pacheco.
Estes concertos permitem aos estudantes confrontarem-se com públicos reais, fora do ambiente protegido das salas de aula e audições internas. Para muitos jovens músicos, representam um primeiro contacto com a pressão e a adrenalina de atuar num festival com programação profissional.
Programa do Festivais de Outono
- Concerto de Abertura
Orquestra Filarmonia das Beiras | Laura Peres (violino) | Jan Wierzba (direção)
26 de outubro | 17h00 | Auditório Renato Araújo — Edifício da Reitoria, Aveiro
- Orquestra de Sopros da UA | Ana Telles (piano) | Alberto Roque (direção)
30 de outubro | 21h30 | Auditório Renato Araújo — Edifício da Reitoria, Aveiro
- Banda Amizade | Carlos M. Marques (direção)
2 de novembro | 17h00 | Auditório Renato Araújo — Edifício da Reitoria, Aveiro
- Al Jus
4 de novembro | 21h30 | Igreja Matriz de Oliveira de Azeméis
- Surma
6 de novembro | 21h30 | GrETUA — Aveiro
- Laureados UA | Gabriela Martins | Gnose Quartet
8 de novembro | 17h00 | Auditório do Complexo das Ciências de Comunicação e Imagem — Departamento de Comunicação e Arte (DeCA), Aveiro
- Concertos para Famílias: Camerata do Dão | Sérgio Neves (direção)
9 de novembro | 11h00 | Auditório Renato Araújo — Edifício da Reitoria, Aveiro
- Presente(em)mente
11 de novembro | 21h30 | Auditório do Departamento de Comunicação e Arte, Aveiro
- Martín Sued e Orquestra Assintomática
14 de novembro | 21h30 | Auditório Renato Araújo — Edifício da Reitoria, Aveiro
- Concertos para Famílias: António Pereira e Lígia Madeira
16 de novembro | 11h00 | Auditório Renato Araújo — Edifício da Reitoria, Aveiro
- Ensemble Voz de Fora
18 de novembro | 21h30 | Capela do Senhor das Barrocas, Aveiro
- Daniel Bernardes | Abertura por Mariana Rosas (CMACG)
20 de novembro | 21h30 | Auditório do Departamento de Comunicação e Arte, Aveiro
- Ligados às Máquinas
22 de novembro | 17h00 | Auditório do Complexo das Ciências de Comunicação e Imagem, Aveiro
- Coro e Orquestra da Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Aveiro | Emanuel Pacheco (direção)
23 de novembro | 17h00 | Nave Multiusos Caixa UA, Aveiro
- Trio Sonância | Abertura por Tiago Pereira (CMACG)
25 de novembro | 21h30 | Laboratório das Artes — Teatro Vista Alegre, Ílhavo
- Nuno Soares e Yuri Popov | Abertura por Pedro Lima (CMACG)
27 de novembro | 21h30 | Seminário de Santa Joana Princesa, Aveiro
- Concerto de Encerramento
Orquestra Filarmonia das Beiras | Orquestra Sinfónica do DeCA da UA | Henrique Portovedo (saxofone) | Luís Carvalho (direção)
28 de novembro | 21h30 | Teatro Aveirense — Aveiro
Acessibilidade e distribuição geográfica
A programação do Festivais de Outono distribui-se por vários espaços da região, levando a música a Oliveira de Azeméis (4 de novembro, Igreja Matriz, com Al Jus) e a Ílhavo (25 de novembro, Laboratório das Artes). Vários concertos têm entrada livre, sujeita à lotação das salas, sem possibilidade de reserva prévia. Os restantes bilhetes para o Festivais de Outono encontram-se à venda na BOL. Esta estratégia procura alargar o acesso à programação, reconhecendo que o preço pode funcionar como barreira para quem ainda está a descobrir o gosto pela música ao vivo.
A escolha dos espaços também revela essa preocupação: igrejas, teatros históricos, auditórios universitários e equipamentos culturais municipais alternam-se no calendário, adaptando o tipo de concerto às características acústicas e simbólicas de cada lugar. A Capela do Senhor das Barrocas, o Seminário de Santa Joana Princesa ou o Teatro Aveirense ganham nova vida enquanto palcos temporários, lembrando que a música existe sempre em relação ao espaço que a acolhe.
O Festivais de Outono consolida-se assim como uma plataforma onde as gerações dialogam através do som, testando como a tecnologia pode aproximar públicos sem apagar a especificidade do gesto interpretativo. Mais informações e programação completa disponíveis em www.ua.pt/pt/festivaisdeoutono.
Instagram: @festivaisdeoutono | Facebook: @festivaisdeoutono.ua
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