O trombonista portuense Gonçalo Nova levou para casa o Prémio Novos Talentos Ageas 2024. A final aconteceu no passado dia 1 de Outubro de 2025 na Sala Suggia da Casa da Música no Porto, onde três finalistas disputaram a distinção que vale cinco mil euros e reconhecimento num setor onde aparecer custa cada vez mais.
Gonçalo tem 21 anos e já não é propriamente uma novidade nos circuitos de competição. Mas na noite de sábado conseguiu algo diferente: convencer um júri exigente e uma sala cheia com duas peças que mostram lados opostos do que um trombone consegue fazer.
A Execução e Repertório de Gonçalo Nova
A escolha do repertório diz muito sobre um músico. Gonçalo Nova abriu com Improvisation nº1 de Enrique Crespo, uma peça bastante técnica que obriga o intérprete a sair da zona de conforto e explorar sonoridades que muita gente nem imagina que um trombone produza. Depois veio o Concerto nº2 em Lá Maior de Eugen Reiche, obra romântica que pede técnica limpa e capacidade para construir frases musicais que façam sentido.
Cristóvão Luiz acompanhou ao piano, e pelo que conseguimos apurar, a dupla funcionou bastante bem. Não foi apenas uma questão de acertar notas, mas a cumplicidade entre os 2 músicos e a capacidade de criar momentos dentro das peças – aqueles segundos em que a sala fica suspensa e toda a gente percebe que está a acontecer algo especial – que garantiram esta vitória.
Sobre a Final
A final juntou três músicos com propostas completamente diferentes. Tiago Oliveira trouxe a guitarra portuguesa, instrumento que carrega décadas de tradição e peso cultural. Pedro Sequeira apareceu com vibrafone, escolha menos óbvia mas igualmente válida.
Esta diversidade não acontece por acaso. O Prémio Novos Talentos Ageas aceita qualquer género musical, qualquer instrumento, qualquer forma de expressão desde que venha de alguém com menos de 35 anos e ligação a Portugal. Num país onde os prémios musicais costumam ter fronteiras muito definidas entre erudito e popular, entre tradicional e contemporâneo, esta abertura merece nota.
A verdade é que qualquer um dos três podia ter ganho. Nestes concursos há sempre margem para discussão e para aquela conversa de corredor sobre o que pesou mais na decisão, mas no final, Gonçalo Nova acabou por convencer e levar o prémio para casa.
Quem é Gonçalo Nova
Nasceu em 2003 no Porto e começou a tocar trombone aos seis anos (sim, 6 anos!) no Conservatório de Música do Porto. A maior parte das crianças nessa idade ainda está a descobrir se gosta de música, e Gonçalo Nova já andava com um instrumento maior que ele às costas.
Desde 2021 estuda na Hochschule für Musik Freiburg, na Alemanha, uma escola bem reconhecida a nivel Europeu e Mundial. E pelos vistos tem corrido bem, porque já tocou como primeiro trombone em orquestras que fazem qualquer músico babar: Filarmónica de Munique, Filarmónica de Freiburg, Orquestra Estatal de Estugarda.
Para quem não conhece este mundo, primeiro trombone numa destas orquestras não é um lugar que se dê a qualquer um. É preciso consistência, nervos de aço e capacidade para liderar uma secção inteira enquanto o maestro espera que tudo soe perfeito.
Gonçalo Nova também toca no EBE, um ensemble formado pela turma de trombones da Hochschule für Musik Freiburg e em janeiro deste ano andaram em digressão pelo Japão. Em 2022 ganhou a Bolsa de Mérito da Fundação Helene Rosenberg. No ano seguinte entrou para o lote de bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian, o que em Portugal significa um previlégio que muito poucos tem acesso.
Estas bolsas não são apenas dinheiro (embora isso ajude bastante quando se estuda fora), mas também sinais de que o percurso está a ir na direção certa, que há instituições dispostas a abrir portas e a apostar neste talento.
O Que Vem a Seguir
Gonçalo Nova irá certamente regressar à Alemanha para continuar os seus estudos. Tem pela frente mais anos de trabalho antes de decidir onde quer fixar-se, se é que quer fixar-se algures. Infelizmente, a tendência dos últimos anos irá continuar. Portugal tem sido padrasto e madrasta para muitos músicos, artistas e talentos, que acabam por ficar lá fora onde há mais orquestras (neste caso), mais concursos, mais condições e regra geral, mais dinheiro a circular no setor, o que permite a qualquer músico assumir essa paixão como profissão principal.
Mas esta vitória cria uma ligação que pode trazer frutos no futuro. Quando os programadores portugueses pensarem em contratar um trombonista de primeira linha, o nome de Gonçalo Nova vai aparecer na conversa. Quando houver projetos que precisem de alguém com este perfil, há um contacto guardado com o nome do Gonçalo Nova.
Teresa Thöbe, que trata de marcas e patrocínios no Grupo Ageas Portugal, explicou o que move esta iniciativa: descobrir talentos, apoiá-los e celebrá-los. Parece frase feita, mas quando se junta dinheiro a visibilidade, deixa de ser só conversa. Cinco mil euros não transformam uma carreira de um dia para o outro, mas num setor onde as oportunidades são escassas e a concorrência é feroz, fazem bastante diferença. Mais ainda quando vêm acompanhados do reconhecimento que um prémio destes traz. Portas abrem-se, programadores ficam atentos, outros músicos começam a saber quem és.
A parceria entre a Ageas e a Fundação Casa da Música já vai na sétima edição, o que significa que não foi apenas um projeto bonito que morreu ao segundo ano. Tem continuidade, tem orçamento, e tem resultados visíveis. Para a Casa da Música e para a Ageas, a aposta continua. No próximo ano haverá outra edição, outros três finalistas, outro vencedor. O ciclo mantém-se porque continua a fazer sentido: há talento em Portugal, há jovens a trabalhar seriamente na música, e alguém tem de lhes dar palco. Não te esqueças de visitar o Instagram do Gonçalo Nova, o link está em baixo!
Instagram: @gnova_trb
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