Clarinetes Ad Libitum levam “DesConcerto” ao Sardoal no Festival Província Sonora

Clarinetes Ad Libitum na Casa da Música, Porto

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No próximo dia 11 de outubro, pelas 21h30, o Centro Cultural Gil Vicente, Sardoal, acolhe os Clarinetes Ad Libitum com o espetáculo “DesConcerto”, inserido na terceira edição do Festival Província Sonora. A atuação conta com a participação especial da Filarmónica União Sardoalense e dos clarinetistas que integraram a Academia Ad Libitum.

Chamar-lhe concerto seria redutor. Classificá-lo como teatro musical ficaria aquém do que realmente acontece. O “DesConcerto” vive numa zona indefinida, propositadamente ambígua, onde a música se mistura com humor, poesia e uma certa filosofia de estar no mundo.

A descrição que o grupo Clarinetes Ad Libitum faz do espetáculo dispensa interpretações académicas. Falam de um “gato em soleira de porta, espreguiçando-se ao sol“, do “doce far-niente“, da pausa como equilíbrio do movimento. Há aqui uma celebração do momento presente, da improvisação (des)controlada, do imprevisto que se torna essencial.

Que são cinco. E traz um amigo também” resume a abordagem inclusiva do grupo. Cada apresentação torna-se única porque incorpora elementos locais, colaborações inesperadas, diálogos com o público que transformam o palco num território partilhado. A atuação no Sardoal não será exceção, com a Filarmónica União Sardoalense a integrar-se nesta proposta artística que desafia convenções. Vê o vídeo de apresentação do “DesConcerto” dos Clarinetes Ad Libitum em baixo.

A história dos Clarinetes Ad Libitum

Tudo começou em julho de 1998, quando quatro estudantes da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo decidiram juntar-se. Nuno Pinto, José Ricardo Freitas, Luís Filipe Santos e Tiago Abrantes formaram o Quarteto Gingão, projeto que rapidamente ganhou identidade própria no panorama musical português.

A mudança aconteceu em fevereiro de 2000. Com a entrada de Luís Felipe Santiago e a incorporação de percussões e voz nas suas composições, o grupo reinventou-se. Nascia assim o nome Clarinetes Ad Libitum , uma declaração de princípios que reflete a liberdade criativa que sempre os caracterizou. Esta designação traduz exatamente aquilo que são: músicos que exploram diferentes formações, mantendo o clarinete como fio condutor, mas sem medo de atravessar fronteiras estilísticas.

Um repertório que atravessa mundos

Os Clarinetes Ad Libitum construíram uma carreira baseada na versatilidade. Do norte ao sul do país, já atuaram nos mais diversos contextos: salas de concerto tradicionais, festivais ao ar livre, espaços culturais alternativos. Esta capacidade de adaptação não compromete a qualidade musical – pelo contrário, enriquece-a.

O clarinete, instrumento central do grupo, revela-se surpreendentemente maleável. Serve tanto para interpretar composições eruditas como para explorar sonoridades populares, jazz ou música experimental. As percussões e a voz são elementos tão importantes quanto o clarinete, criando camadas texturais que transformam cada peça num pequeno universo. Nuno Pinto toca clarinetes em Si bemol e Mi bemol, enquanto Tiago Abrantes se dedica ao clarinete baixo, expandindo as possibilidades harmónicas do ensemble. José Ricardo Freitas, Luís Filipe Santos e Luís Felipe Santiago dividem responsabilidades entre clarinetes, percussões e vozes, numa rotação que mantém a frescura das interpretações.

Festival Província Sonora: descentralização cultural em ação

O concerto no Sardoal insere-se num projeto maior que merece destaque. O Festival Província Sonora, organizado pela Artway, representa uma abordagem diferente à programação cultural em Portugal. Desde maio que percorre o território nacional e até internacional, com uma estreia em Badajoz, levando música a locais que raramente figuram nos circuitos convencionais.

Vieira do Minho, Póvoa do Lanhoso, Chaves, Vila Verde: estas localidades tornam-se palcos temporários onde a música acontece em contextos invulgares. Igrejas centenárias, praças históricas, espaços ao ar livre transformam-se em salas de concerto improvisadas. Esta escolha certamente pretende criar experiências que o público urbano dificilmente encontra nas grandes cidades.

A descentralização cultural vai além da distribuição geográfica. Trata-se de aproximar músicos e público, eliminar barreiras, criar momentos de partilha genuína. Os workshops que acompanham os concertos permitem que a comunidade local participe ativamente, não apenas como espectadora mas como parte integrante do evento.

Cartaz "DesConcerto", pelos Clarinetes Ad Libitum
Cartaz “DesConcerto”, pelos Clarinetes Ad Libitum. Este concerto é inserido no Festival Província Sonora.

Apoios e bilhética

O Festival Província Sonora conta com o apoio da Direção-Geral das Artes e da Antena 2, além dos municípios parceiros que acolhem as diferentes etapas. Este suporte institucional garante a continuidade de um projeto que já vai na terceira edição, consolidando-se como referência no panorama dos festivais alternativos portugueses.

Os bilhetes para o concerto dos Clarinetes Ad Libitum no Centro Cultural Gil Vicente encontram-se disponíveis através da plataforma Ticketline. Dada a singularidade da proposta e o espaço limitado da sala, recomenda-se a aquisição antecipada.

Uma noite para recordar

O Sardoal prepara-se para receber música que foge aos padrões habituais. Os Clarinetes Ad Libitum trazem consigo 27 anos de experiência, mas mantêm intacta a irreverência dos tempos do Quarteto Gingão. A colaboração com a Filarmónica União Sardoalense e os jovens clarinetistas da Academia Ad Libitum promete criar pontes entre gerações musicais, num encontro que celebra simultaneamente tradição e inovação.

“DesConcerto” é mais do que um título espirituoso, é uma declaração de intenções dos Clarinetes Ad Libitum. Numa época dominada pela perfeição técnica e pela previsibilidade dos espetáculos formatados, os Clarinetes Ad Libitum ousam apresentar algo genuinamente diferente. A espontaneidade, o humor, a capacidade de surpreender: qualidades cada vez mais raras nos palcos portugueses.

O Festival Província Sonora encerra em outubro, mas deixa sementes. Cada concerto, cada workshop, cada conversa informal após os espetáculos contribui para construir redes culturais mais densas no interior do país. O Sardoal integra-se assim num mapa cultural que valoriza a proximidade, a autenticidade e a convicção de que a música de qualidade não deve restringir-se aos grandes centros urbanos. Não percas!

Instagram: @clarinetesadlibitum | Facebook: @ClarinetesAdLibitum

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.