Cavalheiro acaba de lançar “D’El Rei”, uma colaboração com Marta Moreira que marca o primeiro capítulo do seu próximo trabalho de estúdio. O single chegou às plataformas digitais acompanhado por um videoclipe da autoria de João Freitas, servindo de apresentação para “Pequena Sorte”, álbum previsto para novembro.
O título do tema remete diretamente para o lugar onde ganhou forma: a Serra D’El-Rei. A escolha deste local para pano de fundo parece ter moldado o ambiente criativo da composição, uma procura por espaços que favoreçam a concentração, contemplação e a escrita genuína fora do burburinho e agitação urbanos.
A letra resulta de um trabalho conjunto entre Cavalheiro e Marta Moreira, algo que o músico procurou deliberadamente. A intenção passou por incorporar uma perspetiva 100% feminina na narrativa, criando um diálogo onde as diferentes partes vocais não competem, mas complementam-se até ao crescendo final. Este cruzamento vocal torna-se num dos elementos centrais da faixa, construindo camadas de sentido que se complementam. Podes ver o video do tema “D’el Rei” de Cavalheiro e Marta Moreira em baixo
.Um disco de múltiplas vozes
“D’El Rei” funciona como porta de entrada para “Pequena Sorte”, um projeto descrito pelo próprio autor como heterogéneo. Ao contrário de álbuns anteriores com maior coesão conceptual, este trabalho reúne uma coleção de visões distintas, materializadas através de várias colaborações. Para além de Marta Moreira, o disco contará com participações de Graciela Coelho, José Pedro Vinagre e João Costeira, entre outros nomes.
Esta aposta na pluralidade vocal e criativa surge como resposta à vontade de explorar diferentes ângulos sobre temas contemporâneos. As relações humanas, a forma como se desenvolvem e transformam no contexto atual, servem de fio condutor para estas canções. Não se trata de um disco conceptual no sentido tradicional, mas de um mosaico onde cada peça traz uma abordagem própria.
Sonicamente, “Pequena Sorte” promete desafiar categorizações fáceis. A diversidade de colaboradores sugere uma variedade de texturas e ambientes que ampliam o território musical de Cavalheiro, apontando para uma fase de experimentação e abertura a novas linguagens.
O percurso de Cavalheiro
Natural do Porto mas criado em Santo Tirso, Tiago Ferreira fixou-se em Braga, cidade que se revelou determinante para o desenvolvimento da sua carreira sob o nome Cavalheiro. O projeto arrancou em 2009 com um EP homónimo e uma estreia ao vivo que lançaram as bases para uma trajetória consistente, construída à margem das pressões comerciais.
A discografia de Cavalheiro caracteriza-se por uma sonoridade intimista onde a economia de meios serve uma densidade emocional considerável. “Primeiro”, “Farsas”, “Ritmo Cruzeiro” e “Trégua” estabeleceram um universo lírico centrado nas fragilidades humanas, explorando sentimentos de isolamento e a necessidade de conexão numa época cada vez mais fragmentada.
“Mar Morto”, lançado em 2015, consolidou essa identidade autoral, seguido três anos depois por “Falsa Fé”, onde a introspeção característica do músico se entrelaçou com uma observação crítica sobre o mundo contemporâneo. Em 2021, “Ilha Digital” representou uma mudança mais evidente na paleta sonora, incorporando elementos eletrónicos e sintetizados para refletir sobre o isolamento provocado pela era digital.

Entre o analógico e o digital
A evolução musical de Cavalheiro reflete uma procura constante por formas de expressar inquietações sobre o tempo presente. Se os primeiros trabalhos privilegiavam arranjos mais acústicos e despojados, os discos mais recentes têm vindo a integrar texturas eletrónicas sem abandonar a essência melancólica que define o projeto.
Esta capacidade de adaptação sem perder coerência é um dos traços distintivos do músico. A melancolia permanece, mas as ferramentas para a expressar vão variando, respondendo às mudanças no mundo que observa e nas questões que o inquietam.
O que esperar de “Pequena Sorte”
Com “D’El Rei” já disponível, começam a desenhar-se algumas pistas sobre o que “Pequena Sorte” poderá trazer. A abertura a múltiplas colaborações sugere um disco menos centrado numa única voz e mais interessado em criar diálogos. A heterogeneidade assumida aponta para uma obra que não procura a uniformidade, mas antes a riqueza que nasce do contraste.
As relações humanas na contemporaneidade surgem como tema central, um território que Cavalheiro já explorou anteriormente mas que aqui parece ganhar novas dimensões através dos olhares dos seus colaboradores. A forma como nos relacionamos, os obstáculos à conexão genuína, a solidão no meio de toda a hiperconectividade digital dos dias que correm. Todas são questões bastante pertinentes que deverão atravessar o álbum sob diferentes perspetivas.
A dificuldade em caracterizar sonicamente o disco pode ser vista como um sinal de maturidade artística: a recusa em repetir fórmulas e a vontade de arriscar em territórios menos mapeados. Para quem acompanha o percurso de Cavalheiro, esta abertura representa uma evolução natural de um artista que sempre privilegiou a autenticidade sobre a previsibilidade.
Novembro promete trazer respostas a estas questões, mas por agora “D’El Rei” oferece um primeiro vislumbre de um projeto que se anuncia como um dos mais ambiciosos e diversificados na discografia de Cavalheiro. Não percas!
Instagram: @cavalheiro_musica
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