A oitava edição do Tradidanças – Festival de Tradições, Dança, Música e Natureza regressa a Carvalhais, São Pedro do Sul, entre 29 de julho e 2 de agosto de 2026. A organização liderada pela Associação Turística e Agrícola da Serra da Arada (ATASA) e pelo Município de São Pedro do Sul abriu a bilheteira para o evento sem revelar ainda nomes da programação, mantendo a tradição de campismo gratuito mediante compra de bilhete de acesso. Fica em baixo uma compilação dos melhores momentos do Tradidanças.
Carvalhais volta a ser o epicentro
Quando o Andanças abandonou Carvalhais em 2013, rumo a Castelo de Vide, deixou um vazio sentido na aldeia que o acolhera durante 15 anos consecutivos. O campo de futebol local testemunhara a transformação anual da freguesia em ponto de encontro de milhares de entusiastas da música tradicional e das danças do mundo. Aquela partida parecia decretar o fim de uma era para a pequena localidade de Carvalhais, no concelho de São Pedro do Sul, Viseu.
Para milhares de pessoas ficou aquela nostalgia de voltar a Carvalhais no Verão: assistir a concertos, participar em jam sessions até às 6 ou 7 da manhã, frequentar workshops de dança e outras atividades, dar um mergulho nas piscinas naturais do Bioparque, visitar o Poço Negro ou Azul, ou explorar os pequenos paraísos perdidos na serra da Arada.
Quatro anos depois, em julho de 2017, nasceu o Tradidanças num “primeiro ensaio” organizado pela ATASA com o grupo Espíritos Inquietos. Aquela edição inaugural, realizada no mesmo campo de futebol carregado de memórias, contou com nomes como The Greyhound James’ Band, The Blasted Mechanism, Olive Tree Dance ou Tranglomango com Cantares de Sobral de Pinho. Era um recomeço, uma aposta arriscada em recuperar parte do que se perdera, uma tentativa de reconexão com todos os/as/@s saudosistas que ainda tinham gravado nas suas mentes os bons momentos que passaram em Carvalhais.
Os primeiros anos serviram para testar fórmulas, ajustar modelos, perceber que público responderia à proposta. A proximidade conceptual com o Andanças era inevitável pois ambos os festivais partilham o ADN da música de raiz, da dança participativa, de fazer mais do que um festival com concertos, e da relação com o território circundante. E assim, o Tradidanças foi desenvolvendo características próprias, afirmando uma identidade distinta.
A mudança de localização em 2023 marcou um ponto de viragem simbólico. Abandonando o campo de futebol, o festival instalou-se junto à cantina e ao parque de campismo, ganhando sombra natural em praticamente todo o recinto. Esta alteração revelou-se providencial durante os dias de calor intenso que caracterizam os verões na região, mas representou também uma libertação: o novo espaço não carregava o peso das comparações constantes com o passado.
Programação diversificada
Os números da edição de 2024 ilustram o crescimento do Tradidanças: mais de 60 concertos distribuídos por cinco locais (Serra, Arada, Abados, Carvalhais e Inatel), 71 atividades infantis e intergeracionais, 33 sessões de desenvolvimento pessoal e cerca de 70 oficinas de dança. Podes ver o teaser de 2024 em baixo:
Desde 2018 que o Tradidanças dinamiza as “Viagens de Natureza”, focadas no património natural envolvente. Estas saídas levam os participantes às piscinas naturais da região – Bioparque, Poço Negro e Poço Azul (que são paragens obrigatórias), à Serra da Arada e às margens do rio Vouga. Estas experiências guiadas por quem conhece o território de forma íntima revelam locais e histórias que não constam dos roteiros habituais.
As oficinas de dança representam um dos eixos centrais da programação. Em 2018, ofereceram-se 36 oficinas em 15 estilos diferentes – lindy hop, kizomba, danças tribais dos Balcãs, forró, salsa, valsa, bhangra, entre outras tantas danças diferentes oriundas de todo mundo. Esta multiplicidade permite aos participantes experimentar tradições coreográficas de vários continentes, sempre com instrutores especializados. As sessões acontecem em vários períodos do dia, adaptando-se aos ritmos de quem prefere manhãs calmas ou tardes mais intensas.
O Laboratório da Tradição funciona como espaço de investigação e partilha de práticas culturais. Ali discutem-se questões bastante pertinentes como a transmissão oral, a preservação de repertórios em risco de desaparecimento, a adaptação de instrumentos tradicionais ou os desafios da profissionalização de músicos que trabalham com tradição. Estas conversas, aparentemente periféricas face aos concertos noturnos, são bastante necessárias e acabam por alimentar reflexões importantes sobre o futuro da música tradicional em Portugal.
O Contemporâneo encontra-se com o Tradicional
A edição do Tradidanças de 2025 trouxe uma novidade que merece destaque: o Concurso de Música Tradicional Contemporânea. Esta iniciativa desafia músicos a criar composições originais baseadas em instrumentos e estruturas rítmicas da tradição portuguesa, funcionando simultaneamente como incentivo à criação e como mecanismo de renovação do reportório apresentado no festival.
O concurso obriga os participantes a pensar a tradição não como museu estático mas como matéria viva, passível de reinterpretação e atualização. As composições submetidas passam por avaliação de um júri especializado antes de serem sujeitas a votação pública online. Os vencedores têm oportunidade de apresentar os temas criados durante o festival, ganhando exposição junto de um público particularmente recetivo a este tipo de experimentação.
A iniciativa insere-se numa tendência mais ampla de festivais portugueses que procuram estimular a criação contemporânea a partir das raízes tradicionais. Festivais como o Músicas do Mundo em Sines ou o Sons da Lusofonia em Sernancelhe têm desenvolvido programas semelhantes, criando uma rede de eventos que não se limitam a apresentar música tradicional mas investem na sua valorização e renovação.
O cartaz musical do Tradidanças tem privilegiado artistas que trabalham a música de raiz sem preconceitos estilísticos. Em 2025, Galandum Galundaina trouxe a língua mirandesa e instrumentos únicos da Terra de Miranda, muitos deles construídos e adaptados pelo próprio grupo ao longo de décadas de investigação. A Cantadeira apresentou o trabalho “Tecelã“, distinguido como Disco Antena 1 e classificado em quarto lugar na World Music Charts Europe, exaltando o feminino nas suas múltiplas dimensões através de composições que recuperam o canto de vozes de mulheres.
Os Toques do Caramulo reinventaram cantigas da Serra do Caramulo com arranjos cheios de energia, transformando o reportório tradicional em festa vibrante. Os espanhóis Los 300, vindos de Granada, cruzaram jazz, funk e eletrónica através de loops e multi-instrumentalismo, demonstrando como a tradição pode dialogar com sonoridades urbanas contemporâneas. A Orquestra de Foles, projeto da Associação Gaita-de-Foles, juntou gaitas e percussões tradicionais portuguesas em arranjos festivos que subvertem as expectativas sobre estes instrumentos.
Participação do público e residentes locais
O Tradidanças afasta-se deliberadamente do formato festival-palco onde o público assume um papel passivo. Aqui, quem participa constrói a própria experiência através das escolhas que faz. É possível passar cinco dias sem assistir a um único concerto completo, saltando entre oficinas, conversas, meditações, práticas de desenvolvimento pessoal, hidromel e experiências imersivas.
As viagens de tradição mergulham os participantes nas práticas comunitárias locais. A confeção de broa de milho nos fornos tradicionais, o conhecimento dos trajes usados nas festas e romarias, as histórias transmitidas oralmente pelas gerações mais velhas, tudo isto integra uma programação que valoriza os saberes locais como conhecimento vivo e pertinente.
O Espaço Lúdico Intergeracional funciona como ponto de encontro onde avós e netos partilham cantigas, brincadeiras e histórias. Esta dimensão surge como reconhecimento de que a transmissão cultural acontece preferencialmente nestes contextos de partilha espontânea entre diferentes gerações de filhos, pais e avós.
A relação com os habitantes de Carvalhais não se resume apenas ao apoio logístico ou à tolerância face ao ruído até às tantas da madrugada e ao movimento incessante. Os residentes são extremamente acolhedores e também participam nos bailes noturnos, integram oficinas e contribuem para as viagens de tradição. Esta simbiose é rara no panorama dos grandes eventos musicais nacionais, onde habitualmente existe tensão entre organizadores, participantes e comunidades locais.
Sustentabilidade como ponto central do Tradidanças
A sustentabilidade ambiental estrutura o Tradidanças desde a conceção até à execução. A escolha de um espaço florestal com sombra natural reduz a necessidade de estruturas artificiais e diminui o consumo energético. Os materiais de construção privilegiam madeira e elementos reutilizáveis. A gestão de resíduos inclui separação seletiva e compostagem de matéria orgânica.
Para além das boas práticas implementadas pela organização do Tradidanças desde o início, existem oficinas sustentáveis que ensinam os participantes a reduzir o impacto ambiental: desde a confeção de produtos de higiene naturais até técnicas de reparação de roupa e calçado, entre outras. Estas oficinas reconhecem que a sustentabilidade não se resume a gestos individuais mas exige transformações mais profundas nos modos de consumo e relação com os recursos que nos rodeiam. Podes-te ainda inscrever como voluntário e participar e perceber como se constrói o festival até ao seu encerramento.
A água disponível no recinto provém de nascentes locais, dispensando o uso de garrafas de plástico. Os participantes são incentivados a trazer cantis reutilizáveis, e existem vários pontos de abastecimento espalhados pelos diferentes espaços do festival. Esta medida, aparentemente simples, elimina milhares de garrafas de plástico descartáveis durante os cinco dias do evento. Para além disso, podes sempre comprar uma caneca do Tradidanças e levar como recordação (temos umas quantas), pois não existem copos de plástico no recinto.
Bilheteira e Disponibilidade
A bilheteira do Tradidanças para 2026 funciona com várias categorias tarifárias que procuram equilibrar a sustentabilidade económica do festival com o acesso de diferentes públicos. Crianças até 12 anos entram gratuitamente, enquanto jovens entre 13 e 16 anos e público sénior acima de 65 anos beneficiam de condições especiais, alargando o espectro geracional de participantes.
A categoria público local reserva-se a residentes em São Pedro do Sul e sócios da ATASA, funcionando como reconhecimento do papel da comunidade na viabilização do evento. O público parceiro abrange residentes nos concelhos de Arouca, Castelo de Paiva, Castro Daire, Cinfães, Lafões, Oliveira de Frades, Sever do Vouga, Vale de Cambra, Viseu, Vouzela e territórios das Montanhas Mágicas.
A compra nas categorias local e parceiro exige apresentação de documento de identificação e comprovativo de residência, mecanismo que evita abusos mas gera também alguma burocracia. A aquisição pode ser feita presencialmente em vários pontos: Bilheteira do Festival, Posto de Turismo das Termas de São Pedro do Sul, Posto de Turismo de São Pedro do Sul, Biblioteca Municipal de São Pedro do Sul e Papelaria São Tiago em Carvalhais.
Os bilhetes também estão disponíveis online no site oficial do Tradidanças e na plataforma See Tickets. O sistema de venda online funciona por fases, com preços progressivamente mais elevados à medida que a data do festival se aproxima.
O campismo gratuito mediante aquisição de bilhete mantém-se como um dos atrativos principais. As infraestruturas incluem chuveiros com água aquecida e zonas amplas com sombra natural, criando condições confortáveis para quem passa os cinco dias no recinto.
Tradidanças 2026: Informação Prática
Datas: 29 de julho a 2 de agosto de 2026
Local: Carvalhais, São Pedro do Sul (junto à cantina e parque de campismo)
Horários: Programação inicia diariamente ao início da tarde e prolonga-se até à madrugada. Bilheteira fecha às 02h00.
Campismo: Gratuito mediante compra de bilhete de acesso ao festival. Infraestruturas incluem chuveiros com água aquecida, zonas com sombra natural, pontos de água potável e instalações sanitárias.
Bilhetes:
- Crianças até 12 anos: entrada gratuita
- Jovens 13-16 anos e seniores +65 anos: condições especiais
- Público local (residentes São Pedro do Sul e sócios ATASA): tarifas específicas
- Público parceiro (residentes concelhos Arouca, Castelo de Paiva, Castro Daire, Cinfães, Lafões, Oliveira de Frades, Sever do Vouga, Vale de Cambra, Viseu, Vouzela e Montanhas Mágicas): tarifas específicas
- Sistema de fases com preços progressivos
- Consultar valores exatos em tradidancas.pt
Pontos de venda físicos:
- Bilheteira do Festival (durante o evento)
- Posto de Turismo das Termas de São Pedro do Sul
- Posto de Turismo de São Pedro do Sul
- Biblioteca Municipal de São Pedro do Sul
- Papelaria São Tiago (Carvalhais)
Venda online: tradidancas.pt e seetickets.com
Acesso:
- Automóvel: A25 com saída para São Pedro do Sul. Carvalhais encontra-se sinalizada a partir da saída. Parqueamento gratuito.
- Transportes públicos: Rede Expressos e Flixbus (cerca de 3h desde Lisboa, 1h30 desde Porto até São Pedro do Sul, depois táxi ou transporte local até Carvalhais).
Espaços: Cinco locais principais (Serra, Arada, Abados, Carvalhais, Inatel), mais concertos na igreja local e eiras comunitárias. Zona de restauração, feira de artesanato, espaço de desenvolvimento pessoal, área infantil.
Recomendações: Traz cantil ou caneca reutilizável (também podes comprar no local), protetor solar, chapéu, calçado confortável para caminhar, dançar e andar pelos diversos caminhos florestais. Roupa para temperaturas elevadas durante o dia e possivelmente frescas durante a noite. Toalha e artigos de higiene para campismo. Traz ainda boa disposição (claro), instrumentos para jam sessions e não te esqueças de provar o Hidromel local.
Tradidanças 2026
O Tradidanças chega à oitava edição com um modelo testado e refinado ao longo de quase uma década. Enquanto a maioria dos festivais de música apostam na escalada de dimensão e no investimento em cabeças de cartaz internacionais, este evento mantém-se fiel à escala humana, cultural, tradicional e local.
A abertura de bilheteira vários meses antes do anúncio da programação demonstra a confiança que a organização deposita no seu público. Quem compra bilhetes em novembro do ano anterior, ou janeiro, para um festival em agosto fá-lo pela experiência memorável que o Tradidanças traz. Os filhos que há 20 anos foram ao Andanças, voltam agora ao Tradidanças enquanto pais, e assim o ciclo vai se perpetuando e renovando.
Esta fidelização resulta de anos a construir uma proposta coerente, onde cada elemento (já falamos do Hidromel?) reforça os restantes. A música de qualidade atrai público interessado, que por sua vez participa em oficinas e atividades, criando dinâmicas de convívio que transformam desconhecidos em comunidade e familia temporária. A relação respeitosa com o território, natureza, e com as comunidades locais garante que o Tradidanças seja percecionado como um evento que traz benefícios múltiplos: económicos, culturais e sociais.
Para quem frequenta o Tradidanças já sabe mais ou menos o que esperar: no fundo não interessa quem vai tocar, ou que workshops vão haver. A festa é garantida, sempre. Quando muitos eventos culturais se tornam indistinguíveis uns dos outros, o Tradidanças é uma proposta única e genuína, num cenário lindissimo e que vale bem apena visitar pelo seu ambiente festivo.
Esta edição do Tradidanças 2026 promete manter as linhas orientadoras que definem o evento desde o “primeiro ensaio” de 2017: música roots portuguesa e internacional, oficinas diversificadas em múltiplas tradições coreográficas, ligação sistemática à natureza envolvente através de viagens e caminhadas, sustentabilidade ambiental como princípio operativo e participação ativa das comunidades locais, e tu não podes perder.
Nota: As três referências ao Hidromel não pretendem incentivar o consumo alcoólico, servem apenas de comic relief/inside joke para quem já conhece a “poção mágica” e sabe o que esperar. O consumo de bebidas alcoólicas deve ser feito com moderação.
Website Oficial Tradidanças: tradidancas.pt | Instagram: @tradidancas
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