A Artway apresenta esta noite o seu novo catálogo dedicado ao jazz e à música improvisada portuguesa. O lançamento da Artway Jazz acontece às 19h30 no The Alchemist, no Porto, e marca a expansão da editora que até aqui se focava exclusivamente em música clássica e contemporânea. À frente do projecto está João Esteves da Silva, produtor e crítico que assume a curadoria de um catálogo pensado para colocar o jazz nacional no mapa europeu.
A iniciativa surge com ambição declarada: documentar e promover uma cena que, apesar da qualidade reconhecida por quem a acompanha, continua discreta no contexto internacional. Nomes como Carlos Bica, Mário Laginha ou Bernardo Sassetti criaram obra distinta nas últimas décadas, mas a sua projeção além-fronteiras não corresponde ao mérito artístico. A Artway Jazz quer mudar isso.
Quatorze anos a construir reputação
Fundada em 2011, a Artway firmou-se como editora de referência através dos catálogos Artway Records e Artway Next. Estes selos documentaram o trabalho dos principais compositores e intérpretes portugueses de música de concerto, construindo um arquivo que se tornou incontornável para quem procura compreender a produção nacional nesta área. A decisão de alargar o espectro ao jazz não surge por acaso: há um património criativo que merece tratamento semelhante.
O produtor João Esteves da Silva traz ao projecto experiência e conhecimento profundo da cena. A curadoria não se limita a juntar nomes estabelecidos. Há vontade expressa de estimular colaborações entre músicos portugueses e figuras estrangeiras, apostando na criação de pontes que ampliem o alcance desta música. Ao mesmo tempo, abrir espaço a valores emergentes que já mostram voz própria faz parte da estratégia.
Som como prioridade absoluta
Um dos compromissos assume particular relevo: a qualidade técnica das gravações. A Artway Jazz vai trabalhar com estúdios e engenheiros de som de topo do panorama europeu, garantindo que o registo áudio não trai a performance. Esta atenção ao detalhe técnico distingue o projecto num mercado onde muitas edições sacrificam qualidade sonora em favor de custos reduzidos.
O catálogo inicial inclui Carlos Bica, contrabaixista com carreira sólida na Europa e colaborações com músicos de várias geografias. João Barradas traz a sua abordagem pessoal ao acordeão, Ricardo Toscano a bateria, João Paulo Esteves da Silva o piano. Duarte Ventura e Nazaré da Silva completam um primeiro leque de artistas que representa diferentes gerações e sensibilidades dentro do jazz português.
Além do jazz tradicional
A designação “música criativa improvisada” não é casual. O catálogo não se fecha em definições estreitas de jazz, abrindo-se a territórios onde a improvisação dialoga com outras linguagens. Esta flexibilidade reflecte a própria natureza da cena portuguesa, onde as fronteiras entre géneros raramente são rígidas e os músicos transitam entre projectos de natureza diversa.
A Artway Jazz reconhece que os últimos quarenta anos produziram música portuguesa inspirada e distintiva, obra que merece ocupar lugar central nas discussões sobre jazz europeu. Compositores-instrumentistas desenvolveram linguagens próprias, criaram sonoridades que não replicam modelos importados. Este património continua, porém, pouco conhecido fora de Portugal (e até mesmo dentro dele).
Estabelecer um cânone
Falar em “cânone da música criativa portuguesa” implica responsabilidade editorial. Significa escolher o que documentar, que obras merecem fixação discográfica, que artistas representam momentos essenciais desta história. A curadoria de João Esteves da Silva terá de equilibrar reconhecimento de percursos consagrados com atenção aos desenvolvimentos recentes, sem perder de vista o objectivo de projecção internacional.
O modelo passa por edições cuidadas, que valorizem não apenas o conteúdo musical mas toda a apresentação do produto final. Em tempos de streaming dominante, apostar no disco físico como objecto de qualidade representa escolha deliberada. Há público para isso, sobretudo quando se trata de música que pede escuta atenta.
Apresentação marca arranque do projecto
O evento desta noite no The Alchemist não é apenas lançamento formal. É também oportunidade para a comunidade musical do Porto se reunir em torno de um projecto que a todos diz respeito. A sala no Cais de Gaia tem acolhido programação de jazz com regularidade, tornando-se ponto de encontro natural para quem acompanha a cena.
Resta saber que discos abrirão efectivamente o catálogo, que colaborações se concretizarão nos próximos tempos, como reagirá o mercado internacional a esta aposta. A Artway chega ao jazz com credenciais sólidas no campo da música de concerto. Agora terá de provar que consegue aplicar a mesma seriedade editorial a um território diferente, com as suas próprias dinâmicas e exigências.
Artway: artway.pt | Instagram: @artway_editions_
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