Os Yuuf regressam com “Calima”, o mais recente single extraído do EP “Mt. Sava”, previsto para 29 de outubro pela Technicolour, sub-label da Ninja Tune. Os Yuuf, quarteto instrumental radicado em Londres mas de origens dispersas pela Europa, continua a esculpir uma sonoridade que cruza ambientes mediterrânicos com texturas desérticas, numa abordagem que privilegia a construção atmosférica sem comprometer a urgência rítmica. Podes ver o video de “Calima” em baixo.
Um EP Concebido Como Irmão Espiritual de “Alma’s Cove”
Depois de terem lançado “Alma’s Cove” no início de 2025, uma coleção de seis faixas centrada em paisagens costeiras e momentos introspetivos, os Yuuf viram-se agora para cenários mais áridos e imponentes. “Mt. Sava” funciona como contraponto direto ao trabalho anterior, transportando o ouvinte das margens tranquilas para extensões montanhosas marcadas por extremos térmicos e pelo silêncio absoluto de noites estreladas.
A banda define este novo trabalho “Mt. Sava” como a “irmã espiritual” do EP precedente “Alma’s Cove”, mantendo a coerência conceptual mas alterando radicalmente o ambiente sonoro. Se “Alma’s Cove” convidava à contemplação junto ao mar, “Mt. Sava” exige que nos percamos em desfiladeiros rochosos e planícies cobertas de areia vermelha, onde a presença humana é residual e a natureza impõe os seus ritmos brutais, e onde as notas da guitarra nos remetem a cenários e escalas orientais.
Podes ver em baixo a performance dos Yuuf em Creta, na Grécia, a tocarem o EP “Alma’s Cove” ao vivo.
“Calima”: Quando os Ventos do Saara Atravessam Continentes
O single “Calima” apresenta-se como um momento de calma calculada dentro da narrativa do EP “Mt.Sava”. O título refere-se aos ventos saarianos que transportam partículas de areia através de milhares de quilómetros, tingindo céus europeus de tons alaranjados e alterando temporariamente ecossistemas distantes – fenómeno que estamos bem habituados em Portugal. Esta escolha conceptual traduz-se musicalmente numa composição que privilegia espaços abertos, deixando respirar cada instrumento enquanto constrói camadas subtis de tensão e alívio.

A estrutura de “Calima” evita progressões previsíveis, optando por desenvolvimentos graduais que espelham a própria movimentação dos ventos: constante mas imprevisível, capaz de transportar algo tão pesado quanto areia do deserto para latitudes completamente diferentes. Anthony Boatright (baixo), Hugo Cottu (guitarra), Andrin Haag (handpan e percussões) e Oliver Overgaard (bateria) exploram aqui timbres mais contidos do que noutras faixas do EP, demonstrando contenção interpretativa que só músicos seguros das suas capacidades conseguem manter.
“Mesa Mesa”: Guitarras Pesadas Encontram o Deserto Tuaregue
Antes de “Calima”, os Yuuf já tinham revelado “Mesa Mesa”, primeiro single de “Mt. Sava” que anuncia as ambições sonoras mais robustas do quarteto. A faixa presta homenagem às formações geológicas características dos desertos norte-americanos e africanos: aquelas montanhas de topo plano que dominam horizontes e servem de referência visual em paisagens onde tudo o resto parece uniforme.
Musicalmente, “Mesa Mesa” marca uma viragem deliberada para territórios mais pesados. As influências declaradas vão desde Mdou Moctar (guitarrista nigeriano que electrificou a tradição tuaregue) até pesos-pesados do rock como Led Zeppelin e Black Sabbath. Esta combinação não é acidental: existe uma linha histórica que liga os blues desérticos do Norte de África às distorções de Birmingham, passando pelas apropriações e transformações que o rock anglo-saxónico operou sobre tradições musicais africanas e orientais.
Os Yuuf não procuram replicar nenhuma destas abordagens de forma literal. Absorvem elementos rítmicos do desert blues, a densidade harmónica do hard rock setentista e a liberdade improvisativa que caracteriza ambas as tradições, fundindo tudo numa proposta que mantém a identidade atmosférica que os define enquanto projeto.
Seis Faixas, Um Território Vasto Para Explorar
O EP completo “Mt. Sava” desenrola-se ao longo de seis composições que funcionam como momentos distintos numa jornada através de ambientes extremos. Para além das mencionadas “Mesa Mesa” e “Calima”, “Moon Dive” abre o trabalho com uma abordagem meditativa, capturando os últimos instantes antes do amanhecer, quando o deserto ainda respira frio e o céu começa a clarear nas extremidades do horizonte.
“Night Aïr” representa o contraponto noturno, inspirada nas alterações dramáticas de temperatura e humidade características de regiões montanhosas e desérticas. A banda sublinha como estas variações térmicas criam uma atmosfera particular após o pôr-do-sol: aquele momento em que o calor acumulado durante o dia se dissipa rapidamente e o ar adquire uma qualidade cristalina, quase palpável. Esta consciência ambiental traduz-se numa composição que respira de forma diferente, explorando dinâmicas que imitam as oscilações naturais destes ecossistemas.
“Ørken Bloom” (derivada da palavra dinamarquesa para deserto) assume um ritmo mais acelerado, reflectindo a energia ascendente do sol nascente. É uma faixa que contrasta com a abertura contemplativa do EP, acelerando o pulso e preparando o ouvinte para os momentos finais desta travessia sonora.
Alinhamento do álbum “Mt.Sava” dos Yuuf
- Moon Dive
- Night Air
- Ørken Bloom
- Calima
- Mesa pt.1
- Mesa Mesa
Raízes Multiculturais ao Serviço de uma Visão Colectiva
A formação dos Yuuf reflecte a própria diversidade que procuram incorporar na música. Anthony Boatright vem de Inglaterra, Hugo Cottu de França, Andrin Haag da Suíça e Oliver Overgaard da Dinamarca. Esta dispersão geográfica e multi-culturalidade espelha diretamente a forma como o quarteto aborda a composição, trazendo referências culturais distintas que se fundem no melting pot criativo londrino.

Londres funciona como ponto de convergência, cidade onde estes quatro músicos se estabeleceram e onde desenvolvem o trabalho colaborativo que define os Yuuf. A capital britânica, com a sua histórica capacidade de absorver e transformar influências globais, oferece o contexto perfeito para um projeto que nunca quis encaixar em categorizações geográficas ou estilísticas estreitas.
O percurso dos Yuuf inclui momentos que transcendem o formato convencional de promoção musical. A sessão ao vivo do EP de estreia “In The Sun” foi filmada em Surrey Hills, Inglaterra, e está disponível no YouTube onde acumula cerca de dois milhões de visualizações orgânicas: número expressivo que demonstra como a proposta visual da banda complementa eficazmente a dimensão sonora. Podes ver esse concerto em baixo.
Esta atenção ao contexto visual não é meramente estética. Os Yuuf compreendem que música instrumental depende frequentemente de associações imagéticas e cinemáticas para criar narrativas coerentes na mente do ouvinte. Escolher uma floresta para filmar material relacionado com “In The Sun” ou referenciar explicitamente paisagens desérticas em “Mt. Sava” são decisões que ajudam a orientar a escuta, oferecendo pontos de entrada conceptuais sem impor interpretações fechadas.
O Futuro Passa Por Continuar a Expandir Horizontes
Com “Mt. Sava” agendado para 29 de outubro, os Yuuf consolidam uma trajectória que privilegia coerência artística e exploração sonora. Cada lançamento funciona como capítulo de uma narrativa mais ampla sobre lugares, ambientes e as respostas emocionais que estes provocam. Não se trata de música descritiva no sentido literal, mas de composições que capturam sensações e atmosferas através de escolhas tímbricas, rítmicas e harmónicas cuidadosamente calibradas.
“Calima” já está disponível nas plataformas digitais, oferecendo uma primeira incursão pelo território desértico que “Mt.Sava” dos Yuuf promete mapear com maior detalhe.
Instagram: @yuuf.official | Facebook: @YUUFOFFICIAL
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