A banda portuguesa MANILA acaba de lançar “Formigas”, faixa que antecipa o álbum de estreia ainda sem data confirmada. O single surge um ano depois de “Domingo à Tarde”, EP editado no final de 2024 que apresentou ao público o som da formação lisboeta: alt pop com inflexões de soul, jazz e R&B, sempre assente em letras diretas e arranjos que privilegiam o groove. Podes ver o video de “Formigas” dos MANILA em baixo.
Formigas: Ansiedade vestida de canção de amor
À primeira audição, “Formigas” pode passar por uma declaração amorosa. Mas basta escutar com atenção para perceber que o tema fala de outra coisa: ansiedade. A banda usou a estrutura de uma love song para dissecar a forma como a inquietação mental se instala, cresce e domina.
A linha vocal abre de forma quase casual “eu não sei viver sem ti, mas queria tanto sentir calma“, e o contraste entre dependência e exaustão emocional torna-se o eixo da composição. Não há dramatização gratuita. O que se ouve é uma confissão crua, sem adereços líricos desnecessários, como o seguinte verso comprova: “Falta força, falta garra, Jogo à forca, perco a espada, Vens quando queres e porque sim, E ao meu dispor é ter pena de mim“.
Musicalmente, os MANILA espelham esse processo: a faixa começa descontraída, com um groove que convida ao balanço, mas acumula tensão progressivamente. O arranjo constrói-se em camadas, reflectindo na forma como a ansiedade opera: instala-se devagar, quase imperceptível, até ocupar todo o espaço disponível. A metáfora das formigas não é arbitrária: há qualquer coisa de invasivo e incontrolável nessa presença que vai tomando conta.

Saunas e Formigas
O videoclipe que acompanha “Formigas” traz a assinatura de Pedro Filipe Lopes na animação, dando corpo visual à metáfora da banda. O cenário escolhido, uma sauna, não é inocente: espaço fechado, calor, humidade, pressão. Vários personagens-formiga desfilam ao longo da narrativa, cada um com as suas particularidades, todos confinados ao mesmo ambiente claustrofóbico. A animação reforça a ideia de desconforto crescente (ou conforto e apatia nesse estado de espirito instalado) que a música já sugere. Não há explicações a mais, nem simbolismos rebuscados. As formigas estão ali, a acumular-se, a ocupar espaço, tal como a ansiedade faz. Pedro Filipe Lopes criou uma estética própria para o vídeo, que funciona tanto como peça autónoma como complemento direto à faixa dos MANILA.
Gravação ao vivo no Namouche Studios
O registo de “Formigas” aconteceu no Namouche Studios, espaço com história na música portuguesa onde já passaram nomes como Buraka Som Sistema, Xutos & Pontapés ou Orelha Negra. A opção foi gravar em live take, ou seja, captar a performance da banda toda em simultâneo, onde Miguel Peixoto conduziu a sessão de gravação.
Essa escolha preserva a energia crua do momento, mas o tratamento posterior não abdica de sofisticação. João Sampayo assinou a produção e mistura, equilibrando o lado orgânico da captação ao vivo com uma camada de pós-produção atmosférica. Miguel Sá Pessoa fechou o processo com a masterização. Tudo soa coeso porque foi pensado enquanto banda, não como soma de partes individuais.

MANILA: Banda em crescimento
Os MANILA são um quinteto lisboeta: Carmo Braga da Costa na voz, Gerard Torres nas teclas, João Serra na guitarra, Ricardo Pedrosa no baixo e Zé Lobo da Costa na bateria.
“Domingo à Tarde”, editado há um ano, funcionou como carta de apresentação. O EP mostrou uma banda confortável tanto nos momentos introspectivos como nos mais dançáveis, sempre com letras que fogem de lugares-comuns. Agora, com “Formigas”, os MANILA reforçam essa abordagem: pop alternativo que não tem medo de ir a sítios menos óbvios, seja tematicamente ou na forma como trabalha arranjos.
Primeiro passo para o álbum
“Formigas” inaugura um novo ciclo. A banda prepara o seu primeiro longa-duração, trabalho que deverá consolidar a sonoridade apresentada até aqui e expandir o território explorado no EP de estreia. Não há informações concretas sobre datas de lançamento ou títulos, mas este single funciona como indicador do caminho: composições próprias, produção cuidada, letras sem filtros.
O quinteto não esconde influências, mas também não as replica. Há referências reconhecíveis, sim, mas filtradas através de uma perspectiva própria. É pop alternativo feito em Portugal, com preocupações e inquietações contemporâneas, mas sem forçar sotaques ou tentar soar a outra coisa que não é.
“Formigas” já está acessível em todas as plataformas de streaming. Para quem segue o percurso dos MANILA desde “Domingo à Tarde”, o single confirma expectativas. Para quem descobre agora a banda, é uma entrada sólida num universo sonoro que equilibra dança e introspecção, groove e urgência emocional. O próximo passo é o álbum. Até lá, “Formigas” deixa claro que os MANILA têm algo a dizer, e sabem dizê-lo através de metáforas fortes e bem escolhidas. Se ainda não conheces, estás à espera de quê?
Instagram: @manila.midi
Queres ver mais notícias sobre música portuguesa? Carrega aqui! Se estás interessado em concertos ou festivais, dá uma vista de olhos no Calendário de Concertos e Festivais.

