John Wolf apresenta esta sexta-feira, 31 de outubro, o álbum de estreia “Welcome To The Underworld Inn” num concerto na Little Big Apple, em Lisboa. O disco, que cruza jazz, blues e influências latinas através de dez narrativas cinematográficas, chega acompanhado pelo single final “Buckle Your Seatbelt” e por uma exposição de memorabilia do videoclipe. Trata-se de um trabalho conceptual que funciona simultaneamente como parque de diversões sónico e galeria de retratos humanos onde o bizarro e o belo coexistem sem hierarquias. Podes e deves vê-lo em baixo, é perfeito para-te inspirares para o Halloween.
Narrativas que habitam entre o mito e o quotidiano
“Welcome To The Underworld Inn” de John Wolf funciona como caderno de apontamentos ficcionais onde cada faixa abre uma porta diferente. John Wolf assume o papel de anfitrião deste espaço liminar, guiando o ouvinte através de histórias que recusam resoluções simples ou moralismos óbvios.
“Buckle Your Seatbelt”, o quarto e último single extraído do disco, revisita o arquétipo do músico faustiano que negocia a alma pela grandeza artística. O videoclipe constrói-se em torno de Dr. Valentine, cientista-alquimista que procura materializar as criaturas da imaginação. A referência a figuras como Frankenstein, Jekyll, Hyde ou Dorian Gray não serve apenas propósitos estéticos: coloca o trabalho numa linhagem de narrativas onde a criação artística exige sacrifício e transformação.
A faixa-título surge como rito de passagem. Os medos infantis transformam-se em matéria-prima para crescimento, numa inversão onde o terror se torna ferramenta pedagógica. “New Ways Of Romance” equilibra-se entre comédia e tragédia ao dissecar encontros românticos que nunca chegam a realizar-se completamente, enquanto “Day Of The Dead” assume contornos autobiográficos ao explorar a relação triangular entre memória, perda e renascimento. Fica o vídeo de “Welcome To The Underworld Inn” em baixo.
Geografias emocionais e deslocações físicas
Várias faixas trabalham o tema da deslocação geográfica como metáfora para deslocações interiores. “Jessie’s Blues” constrói-se sobre um paradoxo: o protagonista abandona a Europa para seguir os mestres americanos do blues, apenas para descobrir que esses mestres idolatravam precisamente os fantasmas musicais europeus. É um olhar agridoce sobre circularidades culturais e a impossibilidade de encontrar origens puras.
“Tomorrow Might Be Gone” ancora-se na figura histórica de Bartolomeu Português, bucaneiro do século XVII, para construir um latin blues sobre aceitar a derrota como forma de paz. “House By The Sea” funciona como hino coral para aqueles que ficaram em terra enquanto outros navegavam, com vozes que ecoam como ondas na costa.
“The Voice In Lil’ Henry’s Head” mergulha sem romantizações na experiência da esquizofrenia, tratando a doença mental como território onde dor e crescimento coexistem sem que um anule o outro. “Dead Man’s Lament” apresenta-se como carta póstuma de um marido para a companheira, escrita desde o outro lado da morte. O disco encerra com “I Just Can’t Wait to Get Off Work”, ode à libertação quotidiana que todos reconhecemos: a urgência de abandonar a rotina para encontrar o que realmente importa. Deixamos o vídeo de “I Just Can’t Wait to Get Off Work” em baixo:
Concerto de lançamento transforma Halloween numa experiência multidisciplinar
A escolha da data não surge por acaso. O concerto de apresentação acontece na noite de Halloween, transformando a Little Big Apple num espaço onde música e artes visuais dialogam em coerência com a música de John Wolf. A exposição que acompanha o espectáculo reúne adereços e figurinos utilizados no videoclipe de “Buckle Your Seatbelt”, criando uma ponte entre o universo gótico vitoriano e steampunk do vídeo e a performance ao vivo.
Informação prática
Data: 31 de outubro de 2025
Local: Little Big Apple, Lisboa
Artista: John Wolf
Evento: Concerto de apresentação de “Welcome To The Underworld Inn” + Exposição de memorabilia
Contexto: Noite de Halloween
John Wolf: Identidade musical que recusa catalogações fáceis
John Wolf constrói uma sonoridade que bebe do jazz e do blues sem se limitar a reproduzir códigos estabelecidos. As influências latinas aparecem não como ornamento exótico, mas como camada estrutural e conceptual que redefinem os géneros de origem.
O próprio músico sublinha “Gosto que as minhas canções contem histórias, que transportem o ouvinte para um espaço cinematográfico, distorcido como um sonho, onde as coisas não são lineares nem óbvias.“
Esta recusa de linearidade manifesta-se tanto nas estruturas musicais como nas narrativas. As canções funcionam como pequenos filmes sonoros onde a lógica onírica substitui a causalidade convencional. O desconforto torna-se acolhedor, os monstros revelam humanidade, o bizarro descobre beleza própria.
Um disco para quem já não tem medo do escuro
“Welcome To The Underworld Inn” posiciona-se deliberadamente fora das cartografias comerciais habituais. Pelo contrário, habita zonas de ambiguidade onde histórias são contadas, perguntas permanecem sem resposta e personagens existem em estados de transformação permanente.
O trabalho de John Wolf confirma que ainda há espaço para narrativas complexas na música popular portuguesa. Ao assumir o papel de mestre de cerimónias deste parque de diversões sónico e visual, o músico não apenas convida o público a entrar: transforma o acto de escuta numa experiência imersiva onde cada audição e visualização pode revelar novas camadas e significados. Não percas!
Instagram: @johnwolfmusic | Facebook: @johnwolf
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