André Louro regressa com “Estrelas”, gravado ao vivo

André Louro lança “Estrelas”, primeiro single de 2025 que marca o regresso do artista português depois de um ano dedicado à escrita e introspecção. O tema chegou às plataformas digitais com uma abordagem minimalista, gravado ao vivo durante uma residência artística na The Groove House, e posiciona-se como peça fundamental no caminho para o álbum que o músico prepara.

A canção nasceu de um processo criativo colectivo, onde André Louro reuniu Célio Cardoso e João Sampayo nas guitarras acústicas, Gennaro Cassano no cajón e Emilio Lobo no ukebass. O resultado é uma construção orgânica que privilegia a respiração dos instrumentos e o ambiente que os rodeiam, sem artifícios de produção que possam mascarar a intenção original. Deixamos “Estrelas” em baixo:

Carta pessoal para tempos conturbados

“Estrelas” funciona como diálogo interno, onde André Louro procura reconectar-se com si próprio enquanto observa o estado actual do mundo. A letra encontra na metáfora das estrelas uma âncora possível para quem navega tempos incertos.

O verso “Na pressa do chegar / Chego sempre tarde” abre o tema com uma admissão honesta sobre a velocidade moderna e a sensação de desencontro constante. Há uma tensão entre o desejo de voar alto e a consciência de que esse céu aparentemente infinito existe apenas em determinados momentos, não como estado permanente.

A estrutura da letra constrói-se em volta da aceitação da despedida como constante inevitável. Não há drama excessivo nessa constatação, apenas o reconhecimento de que as mudanças acontecem independentemente da nossa vontade, e que as estrelas servem de orientação quando o caminho se torna difuso.

André Louro, capa do single "Estrelas"
André Louro, capa do single “Estrelas”

A letra, escrita em parceria com João Sampayo, evita os lugares-comuns que frequentemente aparecem em canções sobre superação ou esperança. O verso “Eu não sei se vejo o mundo / Ou se é o mundo que se vê” coloca em causa a própria percepção, reconhecendo os limites da nossa capacidade de compreender aquilo que nos rodeia. Não há respostas definitivas, apenas a sugestão de aceitar as coisas como são: “E venha quem vier / Que o deixe como é”.

O título “Estrelas” funciona como elemento agregador. Apesar das despedidas e das mudanças constantes, há algo permanente que pode servir de guia. Não se trata de salvação garantida, mas de uma referência possível quando tudo o resto parece em movimento.

Produção amplifica registo

A decisão de gravar ao vivo na The Groove House revela uma escolha consciente de privilegiar a autenticidade e preservar aquele momento mágico para “sempre”. André Louro assume também as funções de mistura e masterização, garantindo controlo total sobre o resultado final. A captação, dividida entre Spencer Zachary, João Sampayo e o próprio André Louro, procurou preservar a energia do momento em que a música aconteceu.

O arranjo, trabalhado em conjunto pelos cinco músicos presentes, distribui os instrumentos de forma equilibrada. As guitarras acústicas criam a base harmónica, o cajón marca a pulsação sem sobrepor-se aos outros elementos, e o ukebass adiciona profundidade sem pesar. João Sampayo contribui ainda com segundas vozes que reforçam os momentos chave sem competir com a linha vocal principal de André Louro.

Esta abordagem minimalista permite que a voz se destaque naturalmente. O que se ouve é exactamente o que aconteceu na sala, com todas as imperfeições que tornam a gravação ao vivo num registo honesto.

“Estrelas”

“Estrelas” insere-se num percurso onde André Louro procura consolidar uma voz própria dentro da música portuguesa. Depois dos lançamentos de 2024, este single confirma a intenção de construir um corpo de trabalho coerente, onde cada canção funciona como degrau na direcção de um álbum que represente integralmente a sua visão artística.

André Louro demonstra com este single que está disponível para explorar territórios onde a vulnerabilidade não é disfarçada por produções densas ou letras vagas. “Estrelas” oferece-se sem grandes pretensões, mas com a clareza de quem sabe exactamente o que quer dizer e escolhe as ferramentas certas para o fazer.

O single já se encontra disponível nas plataformas digitais e antecipa um álbum que, a julgar por esta amostra, pode vir a confirmar André Louro como um nome a acompanhar na nova geração de cantautores portugueses. Não percas!

Instagram: @andrelouroo

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Pedro Ribeiro
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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.