O Festival O Sol da Caparica fechou a sua 10.ª edição deixando para trás números que fazem inveja a muito cartaz europeu: 110 mil pessoas em quatro dias, dois dias completamente esgotados, e uma sensação de que algo mudou definitivamente no panorama musical português. Esta não foi mais uma edição. Foi uma declaração de guerra ao conformismo dos festivais nacionais, onde ainda se faz uma aposta muito grande em nomes internacionais e se deixam esquecidos muitos nomes “da casa”.
Primeiro Dia: O Rugido de Arranque
Logo no primeiro dia, ficou claro que 2025 seria diferente. As 35 mil pessoas que encheram o Parque Urbano da Costa da Caparica não vieram apenas para ver concertos, vieram fazer parte de algo maior. O dia esgotado desde manhã cedo já dava sinais do que se avizinhava.
Neyna abriu as hostilidades no Palco Sagres com música cabo-verdiana que arrancou lágrimas da própria artista. Ver milhares de pessoas a cantar a capella cada verso em crioulo foi o primeiro sinal de que este festival consegue algo raro: unir gerações através da música lusófona.
David Carreira seguiu-se com um momento que nenhum algoritmo conseguiria prever: levar a família ao palco e deixar o filho interagir com a multidão. Houve quem chamasse marketing barato, mas quem estava lá percebeu a genuinidade do momento.

O destaque absoluto chegou com Julinho KSD, que não só aqueceu o recinto como apresentou em primeira mão “Beira Mar”, o seu novo single. Bluay e Ivandro apareceram como convidados surpresa, transformando o palco numa festa íntima de 35 mil pessoas.
Dillaz manteve a temperatura alta com temas do seu mais recente álbum “O Próprio” e uma surpresa rara: “Homem da Sirene”, música que raramente integra os seus concertos ao vivo. A colaboração com Julinho KSD em “Nota 100” foi apenas o aquecimento para o que viria a seguir.
Plutónio encerrou a primeira noite como só ele sabe fazer, começando o concerto no meio do público, com a filha Francisca no violino. Quando Dillaz voltou ao palco para “Alô, Tás Ocupada”, o recinto transformou-se numa panela de pressão pronta a explodir.

A Revolução Digital
Mas se o Palco Sagres dominava as conversas, o verdadeiro fenómeno foi o estreante Palco Digital. Os Primos levaram o formato de live streaming para o mundo real e o resultado foi explosivo: anfiteatro lotado com 4.500 pessoas presencialmente e mais de 7 mil online.
O formato habitual, reagir a vídeos em direto, foi adaptado de forma brilhante. Começaram na cabine e estenderam-se até ao exterior, interagindo diretamente com o público. Alguns sortudos subiram ao palco para viver a experiência de perto. Foi uma masterclass sobre como reinventar o entretenimento para uma geração que cresce entre o físico e o digital.
Segundo Dia: Casa Cheia Outra Vez
O segundo dia do Festival O Sol Da Caparica 2025 repetiu a dose: 35 mil pessoas, recinto esgotado, energia pelas nuvens. Bia Caboz abriu com um cenário trabalhado e interpretou “Sentir Saudade” e o novo single “Quero é Rir” perante um público já aquecido desde a primeira hora.
Matias Damásio fez o que sabe melhor – emocionar. “Como Eu Te Amo” e “Loucos” puseram o recinto a cantar em uníssono. Houve até quem subisse ao palco para dançar com o artista angolano. Momentos assim não se fabricam, acontecem.
O pagode brasileiro desembarcou em força com Menos é Mais. “Lapada Dela” foi apenas o início de um concerto que varreu idades e estilos musicais. Dos miúdos aos avós, toda a gente dançou. Esta é a magia da música, não conhece fronteiras nem gerações.

Nininho Vaz Maia manteve o nível com a sua voz inconfundível, brindando os festivaleiros com êxitos consagrados e temas recentes numa demonstração de como se mantém relevante apesar de todos os episódios recentes.
Richie Campbell fechou a noite com classe. “Sweet Like a Sugar”, “Best Friend” e “Slowly” puseram a plateia a abraçar-se e a dançar em conjunto. A participação especial de Van Zee em “Even” foi a cereja no topo de um bolo já muito doce.
No Palco Digital, Mariana Bossy e Mafalda Creative apresentaram o podcast Plágio com uma energia contagiante. A recriação da Kiss Cam dos Coldplay, inspirada no episódio viral envolvendo Andy Byron e Kristin Cabot, mostrou que o humor português também se adapta aos tempos que correm.

Terceiro Dia: O Regresso dos Reis
A terceira noite d’O Sol da Caparica 2025 trouxe 25 mil pessoas para testemunhar algo histórico: o regresso dos Da Weasel a casa. E que regresso foi este.
Rich & Mendes abriram com música eletrónica que preparou terreno para Soraia Ramos, que se emocionou ao pisar o “maior palco dedicado à música lusófona”. “Nha Terra” ecoou pelo recinto como um hino de resistência cultural.

Lon3r Johny manteve a energia com temas do álbum colaborativo com Plutónio, provando que as parcerias entre artistas portugueses estão a atingir níveis de maturidade impressionantes.
Mas tudo parou às 23h25. Os Da Weasel subiram ao palco para um concerto especialmente pensado para O Sol da Caparica. Durante duas horas, os clássicos incontornáveis da banda ecoaram pelo recinto num espetáculo que uniu três gerações diferentes. Pais e filhos cantaram lado a lado músicas que marcaram a história da música portuguesa.
Miguel Luz protagonizou um dos momentos mais insólitos da noite no Palco Bandida ao atirar pastéis de nata ao público durante “Pastel de Nata”. Só mesmo num festival português isto faria sentido.
Mundo Segundo celebrou 20 anos de “Brilhantes Diamantes” com convidados surpresa e momentos de pura emoção.

Quarto Dia: O Fecho em Grande
O último dia do Festival Sol da Caparica trouxe 20 mil pessoas determinadas a despedir-se em grande. Pikika e Tabanka Djaz abriram com ritmos africanos que incendiaram o público desde a primeira hora.
MC PH mostrou porque é um dos nomes em ascensão do rap português, enquanto Bispo confirmou o seu estatuto de estrela nacional com um concerto bem forte que deixou marca no público que via e dançava.
Curt Davis no Palco Bandida e Sippinpurpp fecharam o festival com a energia necessária para Wet Bed Gang entregar o golpe final. O coletivo encerrou O Sol da Caparica 2025 com um concerto que ficará na memória de quem lá esteve. Os Primos voltaram ao Palco Digital para mais uma transmissão que encheu o anfiteatro, confirmando que este formato veio para ficar.

O Dia da Criança: Apostas no Futuro
A manhã de 17 de agosto do Sol da Caparica foi dedicada aos mais novos com música e atividades circenses. Por apenas 3€, as crianças puderam descobrir que a música portuguesa tem muito para lhes oferecer. Esta aposta nas gerações futuras mostra que o festival pensa além do imediato e também permite aos pais terem um bocadinho de descanso.
O Que Mudou
Esta 10.ª edição provou que é possível construir um cartaz com nomes de peso do panorama nacional a preços justos.
André Sardet, promotor do festival, resume bem: “esta 10.ª edição foi a afirmação de que O Sol da Caparica é um festival nacional”.
Mais de 35 artistas passaram pelos palcos Sagres e Bandida, mostrando a diversidade cultural que caracteriza o espaço lusófono. Do cabo-verdiano ao brasileiro, do angolano ao português, todas as vertentes da nossa música estiveram representadas.
A parceria entre Domingo no Mundo e Music Mov, com apoio da Câmara Municipal de Almada, criou algo único no panorama nacional – um festival que celebra a música lusófona sem complexos de inferioridade. A localização privilegiada junto ao mar oferece um cenário natural que poucos festivais conseguem igualar e o sol a pôr-se por detrás do Palco Sagres tornou-se um dos momentos mais aguardados de cada dia.

O Futuro Já Tem Data
O Sol da Caparica 2026 está marcado para 13 a 16 de agosto, com surpresas prometidas. Depois desta edição, as expectativas estão em altas. O festival provou que a música portuguesa e lusófona tem público, muita procura e futuro. Não é preciso importar tantos headliners estrangeiros quando se tem tanto talento em casa.
Esta 10.ª edição ficará na história como o momento em que O Sol da Caparica deixou de ser apenas mais um festival de verão para se tornar numa referência incontornável da música lusófona.
110 mil pessoas em quatro dias não mentem. O Sol da Caparica incendiou a costa (passe-se a expressão) e deixou toda a gente com vontade de mais.
Para mais informações: festivalosoldacaparica.pt | Instagram: @osoldacaparicafestival
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