Entre 7 e 16 de novembro chega a quarta edição do World Music Week à BOTA, nos Anjos: dez dias de concertos, catorze nacionalidades, e um evento que já marca presença assídua no calendário dos festivais de outono em Lisboa.
Nos últimos anos, a BOTA transformou-se naquele tipo de sala onde aparecem músicos que não encontras facilmente noutros palcos lisboetas. A programação foi sempre eclética, mas acabou por ganhar uma identidade própria: o espaço dos Anjos tornou-se referência para quem procura world music na capital. Podes ver o after-movie da edição de 2024 do World Music Week em baixo.
Como é que este festival nasceu
A história é simples. A BOTA sempre recebeu músicos de todo o lado. Muitos chegavam a Lisboa em tempos idos por causa do WOMEX ou do EXIB em Setúbal, e queriam tocar enquanto cá estavam. A sala dizia que sim, os concertos corriam bem, o público aparecia. Em 2022 perceberam que isto merecia nome próprio e formato estruturado. Nasceu o World Music Week.
Agora vão na quarta edição. Entre os paises participantes podemos encontrar Angola, Argélia, Argentina, Bangladesh, Brasil, Chile, Cabo Verde, Espanha, França, Guiné-Bissau, Índia, Inglaterra, Portugal, Zimbabué. Cada concerto traz uma forma diferente de pensar música, de cruzar tradição com aquilo que se faz agora.
Cinquenta anos depois das independências
Este ano há um fio condutor que atravessa a programação do World Music Week: passaram cinco décadas desde as independências dos países africanos de língua portuguesa. A BOTA pegou nesta efeméride e decidiu que não ia ser apenas pretexto, tornou-se eixo central de vários concertos. Há uma sessão especial de Poesia na Bota sobre o tema e um dia solidário com a Palestina.
No dia 15, sobem ao palco Nino Galissá, Braima Galissá e Djonsaba Kanuté. Trazem a tradição Mandinga e a cultura Griot. A kora, aquele instrumento de cordas africano com som hipnótico, fica a cargo dos dois primeiros, enquanto Kanuté trabalha a voz. Colocaram este concerto quase no fecho do festival. Não foi por acaso.
Os Libertasons aparecem mais cedo, a 11 de novembro. Luiz Caracol, Remna Schwarz e Marcos Alves juntaram-se para revisitar canção de intervenção. O reportório mistura temas próprios com composições de autores que marcaram os movimentos de libertação nos países de onde vêm. Três vozes, três percursos, uma herança comum de luta.

O cartaz cruza gerações e geografias
Quem abre o festival são os Couple Coffee. Luanda Cozetti e Norton Daiello trabalham juntos há vinte anos, começaram no jazz e bossa nova mas foram deixando entrar fado, rock, chorinho. Para o concerto de 7 de novembro convidaram Ruca Rebordão para a percussão.
O dia seguinte, 8 de novembro, traz logo dois concertos que mostram bem o espírito do festival. “Sons do Mundo” resulta de uma residência artística onde juntaram músicos de várias partes do mundo e deixaram-nos trabalhar juntos. Na mesma noite, Wako Kungo apresenta “Lusothopia vol. II”. É uma plataforma que Mistah Isaac criou para dar palco a artistas independentes como DIAZA, HANNALENE, ELLANOR e NOUÃ. Vêm com Jarrão na percussão, Neo no baixo, Jzaugust na guitarra.

Raiz e inovação no mesmo palco
João Cardoso leva O Mau Olhado à BOTA no dia 9, após ter lançado recentente o seu album “Os Cães Ladram”. É uma one man band instrumental que começou literalmente nas ruas do Porto. Agora funde música erudita com popular, ocidental com oriental, de forma virtuosa na sua guitarra. Nessa mesma noite sobe Guilherme Marta com O Marta, projecto recente onde pega nos sons tradicionais da Beira Alta e passa-os pelo filtro do indie pop.

Esta tensão entre tradição e contemporaneidade aparece várias vezes na programação. Ceumar, cantora mineira que actua a 13 de novembro, percorre os “brasis” sem ceder a modismos. Mostafa Anwar (12 de novembro) trabalha com tradições rítmicas indianas: Raga, Qawwali, Ghazal, Thumri, mas enquadra tudo numa abordagem que ele descreve como fusão entre música e ciência. Não é fácil de explicar, é melhor ouvir.

Três concertos para fechar
Os últimos dias do festival concentram intensidade. Barlovento Sur, composto por Josefa Ibarra, Jorge Pacheco, Luisina Rábago e Beatriz Raimundo, trabalham o new latin folk. Percussão tradicional, harmonias abertas, cordas e vozes. Tocam a 15 de novembro, antes de Nino Galissá e seus convidados, referidos anteriormente.
Quem fecha tudo no dia 16 de Novembro é El León Pardo, músico de sopro de Cartagena, Colômbia. Tem procurado uma interpretação moderna da gaita tradicional colombiana (Kuisi), resultou num som que ele próprio batizou de “cumbia ácida“. Mas seria erro limitar o trabalho dele a um género, as composições exploram recursos instrumentais variados, criam universos sonoros próprios.

Quando a oficina vira concerto
A 14 de novembro há algo diferente. Os Jazzopa nascem de uma oficina anual colaborativa centrada no improviso: jazz, hip-hop e spoken word a cruzarem-se. Carlos Martins e André Fernandes dirigem artisticamente, a produção é da ASL. Este ano juntam-se Cynthia Perez (spoken word), jedza (rap), Gabriel Gomes (voz), André Murraças (saxofone), Vicente Pechorro (teclas), Joseph Indi (baixo) e João Parracho (bateria).
Este formato encaixa bem na filosofia da BOTA. O espaço sempre se posicionou como lugar de encontro, não apenas de apresentação. Os números das edições anteriores mostram que o público adere cada vez mais a este tipo de eventos e as lotações tendem a esgotar bastante rápido.

Lisboa continua cidade de passagem
A BOTA assumiu desde cedo essa característica da cidade, Lisboa tem muitos sotaques e o espaço dos Anjos fez disso missão. O World Music Week não surgiu de decisão estratégica numa reunião de programação. Foi constatação: os artistas procuravam naturalmente a sala, muitas vezes porque estavam em Portugal para outros eventos da área.
O World Music Week transformou-se em ponto de encontro entre músicos em circulação pela Europa e público lisboeta que procura música fora das categorias comerciais habituais. Cada edição do World Music Week confirma que há procura para isto, desde que haja curadoria coerente e ambiente que favoreça um bom espétaculo.

Alinhamento do Festival World Music Week na Bota, Anjos
- 7 de novembro – Couple Coffee (com Ruca Rebordão) – Começo: 21h
- 8 de novembro – Concerto à Pergunta | Sons do Mundo + Wako Kungo – Começo: 17h
- 9 de novembro – O Mau Olhado + O Marta – Começo: 17h
- 11 de novembro – Libertasons – Começo: 21h
- 12 de novembro – Mostafa Anwar – Começo: 21h
- 13 de novembro – Ceumar – Começo: 21h
- 14 de novembro – Jazzopa – Começo: 21h
- 15 de novembro – Barlovento Sur + Nino Galissá com Braima Galissá e Djonsaba Kanuté – Começo: 17h
- 16 de novembro – El León Pardo – Começo: 17h
Informações para quem vai
- Local e Horas: O World Music Week decorre entre 7 e 16 de novembro na BOTA, Largo Santa Bárbara 3 D, 1150-287 Lisboa . Os concertos começam habitualmente às 21h00 ou 17h00, mas convém sempre confirmar os horários específicos no site oficial da BOTA ou no Instagram para qualquer alteração de último minuto.
- Bilhetes: Há bilhetes para concertos individuais e passe geral para quem quiser ver tudo. Compram-se no site da BOTA e nas bilheteiras habituais. A sala não é grande, com capacidade limitada, portanto os concertos mais aguardados do World Music Week costumam esgotar. Vale a pena comprar com antecedência.
- Para lá chegar: Metro Anjos (Linha Verde) é o mais prático. Há também autocarros 706, 742, 767, 783 e 794 que param por perto. Quem vier de carro encontra estacionamento na zona, embora nos Anjos isso nem sempre seja fácil a certas horas.
Perguntas que costumam aparecer
- O que é exatamente o World Music Week?- É um festival anual organizado pela BOTA que junta artistas de várias nacionalidades durante dez dias. Esta quarta edição decorre entre 7 e 16 de novembro. A ideia é celebrar diversidade musical através de concertos que não cabem facilmente nas categorias comerciais habituais. 
- Tenho de comprar passe ou posso ir só a um concerto?- As duas coisas funcionam. Há passe geral para quem quiser ver tudo e bilhetes individuais para cada noite. 
- Qual é o tema deste ano?- Os 50 anos das independências dos países africanos de língua portuguesa. Não é só pretexto, atravessa mesmo a programação, especialmente em concertos como os Libertasons ou Nino Galissá. 
- Quantos artistas participam?- São músicos de 14 nacionalidades: Angola, Argélia, Argentina, Bangladesh, Brasil, Chile, Cabo Verde, Espanha, França, Guiné-Bissau, Índia, Inglaterra, Portugal e Zimbabué. 
- A sala tem condições para pessoas com mobilidade reduzida?- Para informações sobre acessibilidades é melhor contactar directamente a BOTA através dos canais oficiais. 
- Há descontos?- Convém consultar o site da BOTA para informação actualizada sobre tarifários especiais para estudantes ou outras situações. 
Dez dias, dez concertos
Entre 7 e 16 de novembro, a BOTA volta a fazer aquilo que melhor sabe: juntar músicos de todo o lado num espaço que favorece encontros. O World Music Week é um festival que cresceu e que marca o calendário de quem segue world music em Lisboa. São artistas de catorze países, e a programação centra-se nos 50 anos das independências africanas, reunindo nomes como Nino Galissá, Ceumar, El León Pardo, O Mau Olhado, O Marta e Couple Coffee, entre outros, entre concertos e conversas que celebram a diversidade cultural e musical.
Os bilhetes do World Music Week já estão à venda mas tem atenção! A sala não é grande e as edições anteriores costumam ter boa adesão, portanto convém não deixar para última hora os concertos que mais interessam. Daqui a menos de duas semanas começa e tu não vais querer perder.
Site Oficial: botaanjos.com | Instagram: @bota.anjos | Facebook: @bota.anjos
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