Os Gatafunho lançaram “GATAFF”, o primeiro registo de longa duração que documenta os anos mais recentes de uma banda cuja trajetória tem sido qualquer coisa menos linear. Formados no Porto durante o verão de 2021, o projeto enfrentou mudanças na formação e pausas inesperadas, mas conseguiu reunir material suficiente para fixar oito faixas que agora ganham forma definitiva.
“Isto e Aquilo” é o single que serve de cartão de visita para quem ainda não conhece o som dos Gatafunho. A faixa coloca em evidência uma mescla de punk e grunge onde se notam referências ao universo noise dos Sonic Youth, cruzadas com uma atitude vocal claramente punk. A repetição insistente de “Eu Sou Isto e Aquilo” funciona quase como mantra, reforçada por um coro que mantém a mesma urgência punk hardcore. Não há rodeios nem floreados, apenas a energia bruta que a banda transporta dos palcos para o estúdio. Fica o vídeo em baixo.
“GATAFF”: Da Cafetra Records para o mundo
A gravação aconteceu em 2024 nos estúdios da Cafetra Records, com a colaboração de Miguel Abras e Leonardo Bindilatti na produção. A opção por trabalhar através de live takes procurou capturar algo da intensidade que caracteriza os concertos da banda, embora o resultado final inevitavelmente se distancie do caos controlado que acontece ao vivo. O lançamento chega em cassete e nas plataformas digitais, numa altura em que o formato físico volta a conquistar espaço entre quem procura algo tangível.

As oito músicas que compõem “GATAFF” resultam de anos de trabalho. São composições moldadas em ensaios e testadas em palco, agora registadas numa versão que contrasta com a postura imprevisível e física que a banda assume nos concertos. Aqui, as guitarras mantêm-se livres mas encontram ordem, as vozes rasgam sem perder clareza, e a secção rítmica, baixo e bateria, sustenta tudo com solidez. O disco começa com uma versão de Atirei o Pau ao Gato, neste caso, “Atirei o Pau ao Facho“, tema intitulado como “Pau”. Podemos também encontrar possíveis hinos do mosh pit como “Ginbagass”, “Frango do Continente” ou “Feijão Fraude”. Para os curiosos e amantes do(s) género(s), é sem dúvida um álbum que deve ser ouvido.
Tracklist Gatafunho – “GATAFF”:
- Pau 03:27
- Ginbagass 02:48
- Lua Cheia 04:07
- Frango do Continente 02:30
- Feijão Fraude 02:31
- Confuso Horário 02:47
- Isto e Aquilo 03:22
- Adeus 05:19
Gatafunho: Cinco pessoas, uma química particular
A atual formação dos Gatafunho junta Miguel Ferreira na bateria, Luís Gigante na guitarra e voz, André Pereira no baixo, Xavier Paes na eletrónica e Valley Rosário nos vocais. Esta combinação específica de personalidades trouxe estabilidade a um projeto que já passou por várias reconfigurações. O disco conta ainda com participações pontuais de Ana Salt, Miguel Abras, Xavier Paes e Dória, acrescentando piano, clarinete e vozes adicionais em momentos estratégicos.
A ficha técnica revela um processo colaborativo. Kellzo e Miguel Ferreira dividiram responsabilidades na captação, produção, mistura e masterização, enquanto Vera Marmelo assinou a fotografia que acompanha o trabalho. Este ambiente de colaboração entre amigos transparece na música, “GATAFF” não soa a produto calculado, mas sim a registo honesto de um grupo que encontra satisfação genuína em tocar junto.

Apresentações ao vivo já marcadas
O álbum “GATAFF” será apresentado em várias cidades portuguesas nos próximos meses. A primeira data acontece a 23 de outubro na Lovers & Lollypops, no Porto, seguida por Lisboa no Damas, dia 7 de novembro. O Barreiro recebe os Gatafunho a 15 de novembro na Cooperativa Mula, e Guimarães fecha o ano com um concerto no CAAA a 27 de dezembro. Há mais datas por confirmar.
Quem já viu a banda ao vivo sabe que os concertos funcionam num registo diferente do disco. A imprevisibilidade, os momentos de quase-catástrofe e uma energia contagiante fazem parte do espetáculo. Há uma componente física nestes concertos que o formato de estúdio não consegue replicar, nem pretende. “GATAFF” existe como documento paralelo, complementar à experiência presencial. Podes ver um registo dos Gatafunho ao vivo em baixo.
Datas de concertos:
- 23 de Outubro – Porto, Lovers & Lollypops
- 7 de Novembro – Lisboa, Damas
- 15 de Novembro – Barreiro, Cooperativa Mula
- 27 de Dezembro – Guimarães, CAAA
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Entre o registo e o impulso
O disco funciona em dois planos. Por um lado, cristaliza versões definitivas de músicas trabalhadas ao longo do tempo, oferecendo um ponto de entrada acessível para quem procura conhecer os Gatafunho. Por outro, sugere algo do potencial destrutivo e libertador que a banda liberta em palco, mesmo sabendo que essa tradução em álbum gravado nunca será completa.

As guitarras de Luís Gigante movem-se entre estrutura e ruído, as vozes de Valley Rosário e do próprio Gigante assumem posturas frontais, e a base rítmica de André Pereira e Miguel Ferreira garante que nada descarrila por completo. Xavier Paes adiciona camadas eletrónicas que expandem a paleta sonora sem comprometer a urgência punk que atravessa o disco.
“GATAFF” chega num momento em que os Gatafunho conseguiram finalmente estabilizar formação e intenções. Não se trata de reinventar seja o que for, mas de registar com honestidade e energia o que cinco pessoas conseguem criar quando se juntam sem grandes pretensões. O resultado é direto, por vezes abrasivo, por vezes com final infeliz (o facho acaba por não morrer), mas sempre comprometido com a ideia de que fazer música deve ser, acima de tudo, satisfatório para quem a faz.
Se a tua segunda feira é daquelas do costume e se o café matinal não foi suficiente, mete-te a ouvir “GATAFF” dos Gatafunho. Cura garantida. Não percas o lançamento em todas as plataformas digitais do costume!
Bandcamp: @gatafunho | Instagram: @gatafunh0
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