Terrible Mistake: “Super Fly” abre caminho para disco de estreia

Terrible Mistake. Crédito Fotografia: Sal Nunckachov

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Os Terrible Mistake, dupla de Leiria, lançaram “Super Fly”, primeiro single do álbum “I Have An Atomic Bomb Inside Me“, que chegará a 21 de novembro em formato digital e vinil. O tema, acompanhado de videoclipe, funciona como primeira janela para um trabalho que explora as tensões entre a criação artística e a procura de identidade, num registo onde a eletrónica psicadélica se cruza com narrativas intimistas. Podes ver o vídeo de “Super Fly” dos Terrible Mistake em baixo:

Entre a pista de dança e a introspeção

“Super Fly” encerra duas dimensões aparentemente contraditórias: por um lado, a dificuldade de encontro amoroso; por outro, o percurso interior que se desenha durante o processo criativo. Esta dualidade marca a abordagem dos Terrible Mistake, que recusam simplicidade nas temáticas e apostam numa sonoridade densa, onde batidas envolventes convivem com atmosferas que remetem para clubes londrinos às três da manhã, esse território ambíguo onde a noite ainda resiste e o dia já ameaça entrar.

O início do tema fez-nos lembrar uma homenagem a uns cartoons que existiram no início dos anos 2000/fins dos 90’s (será que ainda existem? vamos confirmar depois!) feitos por um senhor chamado Joe Cartoon, onde uma das personagens era exactamente a Super Fly. Who’s your daddy?

Terrible Mistake, capa do single "Super Fly"
Terrible Mistake, capa do single “Super Fly”

Para além da lembrança que nos arrancou umas boa gargalhadas, há algo de sombrio na construção sonora, também uma sensualidade que nunca se torna óbvia – os pads ambiente fizeram-nos lembrar dos franceses AIR em algumas partes do “Moon Safari”. As vozes e ambientes surgem etéreas, envolvidas em tape delays e efeitos que criam camadas sobre ritmos hipnóticos. O resultado afasta-se do convencional, procurando antes um espaço próprio dentro da eletrónica alternativa.

“Super Fly” funciona, neste contexto, como manifesto inicial. O tema serve de porta de entrada ao álbum e representa bem as coordenadas estéticas do projeto: acessível q.b. para funcionar como apresentação, mas suficientemente denso para garantir que não se esgota numa primeira audição e prometer um vislumbre do que aí vem. O resto do álbum, que já pudemos ouvir em avanço, conta com algumas supresas inesperadas, com vários momento enérgicos a surgirem – mas depois falaremos disso a seu devido tempo, quando o álbum for publicado.

Colaborações ampliam a paleta sonora

André Pires e Nuno Dionísio, núcleo dos Terrible Mistake, assumem vocais e sintetizadores, com André Pires a acumular ainda samples, baixo, guitarra e percussões, uma polivalência que explica a densidade das composições. Para “Super Fly“, contaram com contributos decisivos: Vasco Silva na bateria, João Bento nas guitarras e Zara Furtado em vocais adicionais. O videoclipe de “Super Fly” mantém-se dentro da visão da dupla, realizado por André Pires e Nuno Dionísio, reforçando o controlo artístico total sobre o projeto.

Terrible Mistake. Crédito Fotografia: Sal Nunckachov
Terrible Mistake. Crédito Fotografia: Sal Nunckachov

Uma dupla que foge às categorias fáceis

Definir os Terrible Mistake exige mais do que etiquetas genéricas. Há influências de eletrónica experimental, mas também elementos que remetem para o trip-hop dos anos 90 e para certas vertentes do industrial mais melódico. O que une estas referências é uma abordagem que coloca a atmosfera acima da estrutura convencional de canção.

O próprio título do álbum, “I Have An Atomic Bomb Inside Me“, sugere tensão interna, algo prestes a explodir mas ainda contido. Esta metáfora estende-se à música: há sempre uma energia latente, mesmo nos momentos mais contidos, como se cada tema guardasse potencial para se transformar noutra coisa.

Em “I Have An Atomic Bomb Inside Me” o processo criativo surge como matéria temática. Não se trata apenas de canções sobre experiências vividas, mas sobre o próprio ato de criar: as incertezas, as descobertas, a solidificação gradual de uma identidade artística.

Esta auto-reflexividade poderia resultar em exercício conceptual distante, mas os Terrible Mistake equilibram-na com elementos sensoriais fortes: os graves que se sentem no corpo, as melodias que prendem a atenção, os ritmos que convidam ao movimento.

Terrible Mistake, capa do álbum "I Have an Atomic Bomb Inside Me"
Terrible Mistake, capa do álbum “I Have an Atomic Bomb Inside Me”

Terrible Mistake ao vivo: primeiras datas confirmadas

Após o lançamento do disco, os Terrible Mistake levam o projeto aos palcos em três datas já confirmadas. A tournée de apresentação arranca a 22 de novembro no Centro de Artes de Guimarães, seguindo-se o Maus Hábitos no Porto a 28 de novembro e o Stereogun em Leiria a 5 de dezembro. Uma data em Lisboa será anunciada em breve.

Datas e Locais confirmados

  • 22 de novembro: Centro de Artes de Guimarães
  • 28 de novembro: Maus Hábitos, Porto
  • 5 de dezembro: Stereogun, Leiria

Uma proposta que merece atenção

Com “Super Fly” e “I Have An Atomic Bomb Inside Me“, os Terrible Mistake afirmam-se como um novo nome a seguir na cena eletrónica portuguesa. Num território frequentemente dominado por fórmulas bastante seguras, a dupla de Leiria arrisca numa abordagem pessoal que não procura aprovação fácil. A conjugação de eletrónica psicadélica, trip-hop, e narrativas introspetivas resulta num trabalho que se distancia tanto do experimentalismo hermético como da eletrónica de dancefloor mais previsível, e que faz bem falta à musica nacional.

Resta saber se o público responderá a uma proposta que exige disponibilidade para entrar num universo específico, mas os sinais iniciais apontam para um projeto que tem potencial para voos maiores. A bomba atómica que os Terrible Mistake trazem dentro de si pode bem estar prestes a detonar na cena portuguesa, e convém prestar atenção ao estrondo. Não percas!

Instagram: @terrible_mistakee

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.