O projeto português Tempo Livre acaba de lançar o seu primeiro álbum de originais. “Terra Nova” chega às plataformas digitais com nove faixas que misturam rock progressivo, folk e eletrónica experimental, consolidando a parceria criativa entre Pedro Tavares (funcionário) e Luís Neto. A apresentação do disco traz ainda o single “Ruminação“, uma composição que serve de porta de entrada para um universo sonoro denso e multifacetado.
“Ruminação” destaca-se pela estrutura pouco convencional e pela letra que opera por repetição e introspecção. A faixa funde elementos de rock progressivo com texturas folk e ambientais, sem perder um lado pop que a torna acessível. A repetição funciona aqui como ferramenta: não é decorativa, mas cria um espaço mental onde a reflexão se instala e demora. É uma música que pede tempo e atenção, características que definem também o resto do trabalho.
O single acompanha o lançamento integral de “Terra Nova“, um disco que resulta de uma colaboração extensa e detalhada entre dois músicos com percursos bem diferentes, mas que encontraram terreno comum na experimentação sonora. Fica o video em baixo.
Tempo Livre: Dois percursos, uma visão partilhada
Pedro Tavares tem vindo a desenvolver o projeto funcionário, focado na exploração sensorial da vida quotidiana. As suas composições funcionam como colagens onde memória e imaginação se sobrepõem sem hierarquia clara. Não há narrativa linear, mas antes atmosferas construídas a partir do cruzamento entre o real e o onírico. É uma abordagem intimista que procura dar forma ao que é impalpável.
Luís Neto, por outro lado, traz uma bagagem técnica sólida. Músico, produtor e engenheiro de som, o seu trabalho atravessa territórios como o jazz fusão, o metal progressivo e a música experimental. Cofundador da editora turva e metade do duo eletrónico AG.R97, Neto colaborou já com nomes como Pedro Ricardo, Shell From Oceanic ou redoma. A sua abordagem é rítmica, precisa, e adiciona uma camada de rigor ao processo criativo de “Terra Nova“.
Processo de gravação: do acústico ao expansivo
O álbum dos Tempo Livre nasceu em sessões onde predominaram instrumentos acústicos. Bateria, percussão, kemenche, duduk, santur e guitarra formaram a base inicial, criando uma atmosfera ambient com raízes folk. Sobre essa fundação, foram adicionadas camadas vocais processadas com autotune, bateria expansiva, guitarra de 12 cordas, nyckelharpa e baixo. O resultado é um disco onde tradição e modernidade coexistem sem conflito.

Esta construção em camadas revela-se essencial para perceber “Terra Nova“. Não se trata de um álbum que escolhe um género e nele se acomoda. Pelo contrário, os Tempo Livre movem-se entre referências: rock progressivo, eletrónica, música experimental, folk, sem que nenhuma delas domine completamente. Há uma fluidez que permite ao disco respirar e mudar de tom consoante a faixa.
Nove faixas entre suspensão e explosão
Ao longo das nove músicas, “Terra Nova” alterna entre momentos de suspensão e picos rítmicos. Há faixas como “Introdução” e “Campo Dourado“, que já tinham sido reveladas pelos Tempo Livre antes do lançamento integral, e que funcionam como entradas progressivas neste universo. Mas é em temas como “Ruminação” e “Em Apneia” que a dimensão introspetiva do disco ganha maior visibilidade.
As letras dos Tempo Livre abordam temas como memória, medo, transformação e perda. Há uma dimensão poética que não se traduz em evasão, mas antes numa confrontação com aquilo que é difícil de nomear. A escrita é direta, mas não simplista, com textos que não oferecem respostas ou consolações fáceis (e ainda bem).
Musicalmente, o álbum permite-se experimentar sem perder coesão. Há passagens onde a instrumentação se reduz ao mínimo, criando vazio e tensão. Noutras, a sonoridade dos Tempo Livre expande-se, ocupando todo o espaço disponível. Esta alternância mantém o disco “Terra Nova” imprevisível, mas nunca caótico.
Colaborações e produção
“Terra Nova” foi produzido por Pedro Tavares e Luís Neto, com masterização assinada por Carlos Nascimento na Qualia Audio Lab. O disco conta ainda com a participação de Pedro Pimentel, Nuno Craveiro e Luís Correia, que contribuíram para a diversidade tímbrica do trabalho dos Tempo Livre.
O design visual ficou a cargo de AALTAR SYSTEM, enquanto a fotografia foi realizada por Elisa Azevedo. A edição é da responsabilidade da turva, com o número de catálogo TRV007, reforçando a ligação do projeto ao circuito independente nacional.
Apresentações ao vivo em outubro
“Terra Nova” é um disco que pede escuta atenta e repetida, onde cada audição revela detalhes que passam despercebidos à primeira, ocupando espaço e exigindo presença, mas que também se ouve bastante bem no background. O álbum será apresentado ao vivo em dois concertos: dia 16 de outubro no Passos Manuel, no Porto, e dia 18 de outubro na Casa Capitão, em Lisboa. Estas datas vão permitir perceber como “Terra Nova” se comporta fora do estúdio, num contexto onde a imprevisibilidade do palco pode adicionar novas camadas ao material gravado.”Terra Nova” está disponível em todas as plataformas digitais do costume, não percas!
Instagram: @_tempo.livre
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