Há marcos na música portuguesa que merecem ser assinalados com pompa e circunstância. O concerto que Os Azeitonas dão esta noite no Coliseu do Porto é um desses momentos. Vinte anos depois de editarem “Um Tanto ou Quanto Atarantado”, Marlon, Nena e Salsa sobem ao palco da invicta para celebrar duas décadas de uma carreira que transformou a banda numa das mais queridas do panorama nacional.
Corria o ano de 2005 quando três amigos de Coimbra decidiram gravar um disco. O tal “álbum zerø”, como viria a ser carinhosamente tratado pelos fãs, podia ter ficado na gaveta como tantos outros projetos. Mas não ficou. Rui Veloso ouviu a maquete e não teve dúvidas: queria editar aquele trabalho. Tornou-se o padrinho da banda, abrindo-lhes portas e legitimando um som que misturava rock, pop e uma certa irreverência muito portuguesa.
Essa benção inicial revelar-se-ia fundamental. Os Azeitonas nunca se esqueceram do gesto e Rui Veloso estará esta noite no Coliseu do Porto, entre os convidados confirmados para um espetáculo que promete revisitar os momentos altos destas duas décadas. Deixamos o tema “20 Anos” em baixo, feito para comemorar este ano especial para a banda.
O Concerto: Duas Horas de Memórias
O alinhamento previsto para esta noite não se resume aos sucessos óbvios. Claro que “Quem és Tu Miúda”, “Tonto de Ti” ou “Ray Dee Oh” vão fazer vibrar as paredes do Coliseu do Porto. E seria impensável não ouvir “Guitarrista do Liceu” ou o inevitável “Anda Comigo ver os Aviões”, hino que acompanhou gerações de miúdos que hoje são pais de família.
Mas a banda preparou surpresas. Há canções que há anos não entram nos concertos e outras que nunca foram tocadas ao vivo. Para quem segue Os Azeitonas desde o início, essa promessa tem um sabor especial. É a oportunidade de ouvir temas esquecidos, b-sides ignorados, experimentações que ficaram em segundo plano mas que fazem parte da identidade do trio.
A presença de convidados especiais garante outro tempero à noite. Além de Rui Veloso, outros nomes que marcaram estes 20 anos juntam-se ao palco, embora a banda tenha mantido algum mistério sobre quem serão. Essa estratégia de reservar surpresas é típica d’os Azeitonas: gostam de manter uma relação próxima com o público, quase familiar, onde nem tudo precisa de ser anunciado com semanas de antecedência.

Mais do que Música: Uma Identidade
Os Azeitonas nunca tentaram ser o que não são. Não há pose, não há pretensiosismo. As suas canções falam de histórias comuns, desde amores falhados, noites perdidas, a memórias de adolescência, e com uma honestidade desarmante. Talvez seja por isso que funcionam tão bem: toda a gente já foi o tipo da “Guitarrista do Liceu” ou conheceu alguém assim.
Esta autenticidade construiu uma base de fãs leal. Não são necessariamente os que enchem estádios ou dominam as rádios comerciais, mas os que aparecem nos concertos, sabem as letras de cor e partilham as músicas como banda sonora das suas vidas. É um público que cresceu com a banda e que hoje leva os filhos aos espetáculos.
Para fechar este ano de celebrações, Os Azeitonas preparam o lançamento de um best-of em vinil duplo, edição limitada. Não será apenas uma compilação preguiçosa dos êxitos, pois a banda promete novas versões exclusivas de algumas canções e a inclusão de “20 Anos”, o single lançado este ano especialmente para assinalar a efeméride.

A escolha do vinil não é inocente. Numa era dominada pelo streaming, há algo de ritual em editar música neste formato. É uma declaração de intenções: os Azeitonas sabem que o seu público valoriza o objeto físico, a capa que se pode tocar, o disco que se coloca no gira-discos com cuidado. É música para ouvir, não para ter como ruído de fundo.
O Coliseu do Porto como Testemunha
O Coliseu do Porto é palco perfeito para esta noite. Uma sala com história, onde já passaram os maiores nomes da música portuguesa e internacional. Para uma banda de Coimbra, tocar no Coliseu da cidade vizinha tem um simbolismo extra. É o reconhecimento de que os Azeitonas ultrapassaram há muito a condição de banda de culto para se tornarem parte do património musical português.
Esta noite, às 21h00, quando as luzes se apagarem e os primeiros acordes ecoarem pela sala, haverá certamente quem se lembre da primeira vez que ouviu “Um Tanto ou Quanto Atarantado”. Vinte anos depois, Marlon, Nena e Salsa continuam a fazer aquilo que sempre fizeram: música honesta, sem truques, que fala diretamente ao coração de quem a ouve.
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