Rita Braga lança “Fado Tango” e anuncia álbum para 2026

Rita Braga. Crédito Fotografia: Sara Rafael

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Rita Braga acaba de revelar “Fado Tango”, o single que antecipa o lançamento de “Fado Tropical“, o seu quinto álbum de originais previsto para março do próximo ano e que explora as suas raízes através de uma lente contemporânea. Trata-se de um momento diferenciado na carreira de Rita Braga: pela primeira vez, canta exclusivamente em português e mergulha no universo do fado, género que explora a partir de registos históricos do início do século XX. O projeto mantém a assinatura minimalista que a caracteriza, mas expande-a através de arranjos cinematográficos e colaborações com músicos de formação erudita. Fica o vídeo de “Fado Tango” em baixo.

Arqueologia sonora e reinvenção

“Fado Tango” parte de uma gravação de Ercília Costa datada de 1930. Rita Braga recuperou esse tema esquecido e transportou-o para um território sonoro bem distinto, onde a sua voz e o ukulele dialogam em simbiose perfeita com a marimba de Ryoko Imai, o violoncelo de Bruna Moura e o saxofone de João Cabrita. Suse Ribeiro assinou a mistura e Tó Pinheiro da Silva ficou responsável pela masterização. O resultado afasta-se das convenções do fado tradicional sem perder o elo com as suas origens, criando uma ponte entre épocas através de texturas instrumentais pouco habituais no género.

A abordagem de Rita Braga ao fado não segue a ortodoxia. Em vez de reproduzir códigos estabelecidos, a cantora e compositora conduz uma investigação que passa por documentos históricos e gravações antigas, procurando compreender o que era o fado antes de se cristalizar nas formas que hoje conhecemos, e transforma essa informação no seu próprio caminho e interpretação. Esse exercício de pesquisa alimenta um disco que promete cruzar referências do passado com experimentação contemporânea.

Rita Braga, capa de "Fado Tango". Crédito Capa: Joana Linda
Rita Braga, capa de “Fado Tango”. Crédito Capa: Joana Linda

Videoclip celebra vozes femininas esquecidas

O single vem acompanhado de um videoclip realizado por Joana Linda, onde Rita Braga explora a dimensão performativa que tem vindo a desenvolver ao longo da carreira. O vídeo presta tributo às mulheres que ajudaram a moldar o fado nas suas primeiras décadas: cantadeiras de má fama que animavam as tabernas lisboetas oitocentistas e atrizes de revista que popularizaram o género nas primeiras décadas do século XX. Estas figuras, frequentemente apagadas da narrativa oficial, ganham visibilidade através de um trabalho visual que reforça a vertente histórica e feminista do projeto.

A escolha de destacar estas vozes pioneiras alinha-se com a trajetória de uma artista que sempre questionou fronteiras: musicais, performativas e geográficas. Rita Braga tem-se distinguido por não se deixar encaixar em categorias rígidas, transitando entre géneros e idiomas com naturalidade.

Agenda internacional e residência artística em Pombal

Nos últimos anos, Rita Braga tem mantido um calendário de concertos intenso fora de Portugal. Actuou recentemente na Alemanha, Bélgica, Polónia, Itália, Irlanda, Brasil, Reino Unido e Balcãs, consolidando uma presença regular nos circuitos europeus de música independente. O ukulele, instrumento que domina e que a distingue enquanto intérprete, levou-a a festivais especializados na Finlândia e Austrália, onde foi cabeça de cartaz.

Em novembro, a artista estará em residência na Casa Varela, em Pombal, ao lado de Rui Reininho e Leonardo Pinto. O trio vai desenvolver um espetáculo inédito que reúne música, performance e elementos audiovisuais, com estreia marcada para 28 de novembro no Auditório Municipal de Pombal. Em dezembro, Rita Braga segue para França, onde atuará em Bordéus, Limoges, Angoulême e Pau, apresentando já alguns temas do novo disco.

Rita Braga. Crédito Fotografia: Sara Rafael
Rita Braga. Crédito Fotografia: Sara Rafael

Informação prática: onde ver Rita Braga

Residência artística e espetáculo:

  • Data: 28 de novembro de 2025
  • Local: Auditório Municipal de Pombal
  • Participantes: Rita Braga, Rui Reininho e Leonardo Pinto
  • Formato: Espetáculo com música, performance e audiovisuais

Digressão francesa:

  • Dezembro de 2025
  • Cidades: Bordéus, Limoges, Angoulême e Pau

(Informações sobre bilhetes e locais específicos serão disponibilizadas nos canais oficiais da artista)

Rita Braga: Percurso de uma artista singular

Rita Braga é Licenciada em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa e pós-graduada em Performance Making pela Goldsmiths, University of London (com bolsa da Fundação Gulbenkian), tendo iniciado a carreira a solo em 2005. Desde então, construiu uma discografia eclética que cruza cabaré, jazz antigo, folk e eletrónica analógica, cantando em mais de dez idiomas.

O álbum de estreia “Cherries That Went To The Police” surgiu em 2011, o mesmo ano em que tocou a solo nos Coliseus do Porto e de Lisboa como primeira parte de The Legendary Tigerman. Seguiram-se o EP “Gringo in São Paulo “(2015), resultado de uma residência no Brasil, Bird on the Moon (2018), destacado pela revista Wire num top dedicado ao ukulele, “Time Warp Blues “(2020) e “Illegal Planet” (2023), este último elogiado pelo seu “tropicalismo retro-futurista“.

Para além da música, Rita Braga compõe bandas sonoras e apresenta desde 2022 o programa mensal Super Braguita FM na rádio online portuense Yé-Yé. Tem colaborado com nomes como Ana da Silva (The Raincoats) e Ian Svenonius (The Make-Up), reforçando uma rede de cumplicidades artísticas que atravessa fronteiras.

Fado sem amarras

Com “Fado Tango” e o anúncio de “Fado Tropical“, Rita Braga demonstra que é possível revisitar tradições sem estar presa a cânones ou regras formais fixas. O disco promete ser um exercício pessoal de liberdade criativa que honra o passado do fado enquanto o projeta noutras direções.

Ao escolher cantar pela primeira vez inteiramente em português e ao fazê-lo através de um género tão identitário, a carismática artista assume riscos calculados: não procura validação dos puristas, mas antes criar um espaço onde o fado possa respirar, ser diferente e transformar-se. Resta aguardar por março de 2026 para perceber como soa esse fado tropical, entre arquivos históricos, ukuleles e uma visão artística que nunca se contentou com o previsível. Ficamos à espera!

Site oficial Rita Braga: superbraguita.com | Instagram: @superbraguita

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.