MXGPU Param o Tempo com “slow down”: Quando Travar é Acelerar

O mundo gira depressa demais. Scrolling infinito, notificações constantes, deadlines que se empilham – vivemos numa corrida desenfreada onde a velocidade virou dogma. Mas e se te dissermos para parares? Para respirares? Os MXGPU, projeto que une Moullinex e GPU Panic, acabam de lançar “slow down”, o quinto single do álbum de estreia “Sudden Light” (26 de setembro pela Discotexas), e é precisamente isso que fazem: obrigam-te a parar.

Depois defind unos ter atirado numa montanha-russa drum & bass que abraçava um pequeno caos controlado, “slow down” faz o contrário. É uma inversão total de energia, um travão brusco que não te deixa escolha senão abrandar. E funciona brutalmente bem. Há algo de genial nesta contradição: numa indústria obcecada com drops cada vez mais agressivos e BPMs cada vez mais insanos, os MXGPU escolhem sussurrar quando todos gritam. É filosofia aplicada à música eletrónica, e raramente a mensagem e o meio se fundem de forma tão orgânica.

Há uma pausa, e o tempo fica suspenso”, explicam. “A tua atenção atinge o auge, consegues ouvir o bater do teu próprio coração. Quando tudo o que ouves é gritaria, uma voz sussurrada sobressai.“, referem os MXGPU.

O Poder do Contraste

Luís Clara Gomes e Guilherme Tomé Ribeiro construíram com os MXGPU algo que vai muito além de mais um projeto paralelo. Desde que GPU Panic se juntou a Moullinex, a química entre os dois foi evidente. A primeira colaboração formal resultou no tema “Painting By Numbers” para o álbum “Hypersex” (2017), mas foi só o embrião do que viria a ser uma parceria transformadora.

“Slow down” mostra essa cumplicidade de forma cristalina. Onde Moullinex traz a experiência de três álbuns aclamados e remix duties para gigantes como Røyksopp e Cut Copy, GPU Panic adiciona essa textura experimental que nasceu de uma avaria informática transformada em arte. O resultado é uma faixa que respira, que deixa o silêncio falar tanto quanto o som.

Se “find u” era adrenalina, “slow down” funciona como o moment of clarity que vem depois da euforia. É o dancefloor às 7 da manhã, quando o sol se levanta devagar e toda a gente finalmente se vê.

MXGPU no Festival Mosaico em Viseu. Crédito Fotografia: Musica.com.pt
MXGPU no Festival Mosaico em Viseu. Crédito Fotografia: Musica.com.pt

Ritual 360°

Os MXGPU não são apenas mais um duo a fazer música eletrónica. As suas performances em formato 360°, posicionados no centro do público, transformam cada concerto num ritual coletivo. Já o provaram nas sessões esgotadas no MAAT e Casa da Música, onde quebraram literalmente a barreira entre palco e plateia.

Esta abordagem espacial não é truque de marketing – é extensão natural da sua filosofia artística. Influenciados por Suzanne Ciani, James Turrell e até pelos nostálgicos screens de loading da SEGA, os MXGPU constroem pontes entre o analógico e digital, entre o íntimo e o coletivo. “Slow down” encaixa perfeitamente nesta visão: é uma faixa feita para ser vivida em festa, mas que funciona igualmente bem nos auscultadores às 3 da manhã.

Portugal no Mapa Mundial

A trajetória ascendente dos MXGPU espelha o momento dourado da música eletrónica portuguesa. Com lançamentos por selos como Crosstown Rebels, Watergate e TAU, remixes assinados por pesos pesados como Patrice Bäumel e apoio de nomes como &ME e RÜFÜS DU SOL, o duo prova que é possível conquistar o mundo sem perder a identidade.

A digressão de 2025 marca precisamente esse salto global. Depois das datas de verão em Portugal – Vila Real de Santo António, Loulé, e Braga – seguem para terreno internacional com concertos na Cidade do México, Singapura e Londres. Mas é a estreia americana em outubro que representa o verdadeiro teste: Brooklyn e Los Angeles são mercados exigentes, habituados ao que há de melhor na música eletrónica mundial.

MXGPU, "Slow Down"
MXGPU, “Slow Down”

“Sudden Light”: Mais Que Um Album

Com cinco singles já revelados, “Sudden Light” promete ser mais que uma coleção de faixas, é um statement. Cada lançamento mostrou uma faceta diferente dos MXGPU: “take me home” estabeleceu as bases eufóricas, “find u” empurrou limites sonoros, e agora “slow down” prova que sabem quando é tempo de recuar para melhor avançar.

O album chega num momento perfeito. Num mundo saturado de estímulos, os MXGPU oferecem algo cada vez mais raro: espaço para respirar. “Slow down” não é apenas uma faixa, mas um convite à resistência. Resistir ao ritmo imposto, encontrar o teu próprio tempo, deixar que a música te transforme em vez de te consumir.

A 26 de setembro saberemos se “Sudden Light” cumpre a promessa. Mas, com singles como “slow down”, os MXGPU já provaram que têm algo único: coragem para ir contra a corrente quando toda a gente acelera. E talvez seja precisamente isso que o mundo precisa: alguém que nos lembre que, às vezes, abrandar é a forma mais radical de deixar marca.

No final, “slow down” funciona porque não tem medo de ser o que é: uma pausa necessária numa época que esqueceu como parar. E quando os MXGPU sussurram numa indústria que só sabe gritar, o resultado é música que fica. Que marca. E que transforma.

A tour continua, o album aproxima-se, mas “slow down” já cumpre: lembra-nos que numa corrida louca para lado nenhum, parar pode ser o movimento mais poderoso de todos.

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Pedro Ribeiro
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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro é o fundador do musica.com.pt. Como músico e produtor conta com mais de 25 anos de experiência no mundo da música, tendo participado em projetos como Peeeedro, Moullinex, MAU, entre outros, e tocando em venues como Lux, Maus Hábitos, Plano B, Culturgest, Glasgow School of Arts, entre muitas outras salas e locais em Portugal e no estrangeiro. Compôs música para teatro (Jorge Fraga, Graeme Pulleyn, Teatro Viriato), dança contemporânea (Romulus Neagu, Peter Michael Dietz, Patrick Murys, Teatro Viriato), TV (RTP2) e várias rádios.