Dez anos separam “Angorá” de “Mogno”, e entre o EP de estreia e este primeiro álbum a solo, Denise percorreu caminhos que a levaram de colaborações pontuais a construir uma voz e carreira em nome próprio na música portuguesa. O disco de Denise chegou a 7 de novembro às plataformas digitais e em edição física limitada a 100 CDs, reunindo nove faixas que atravessam neo-soul e rap sem se fixarem num único registo. A escolha do nome “Mogno” veio fácil segundo explica Denise.
“É quase como uma homenagem ao ponto de partida de todas as minhas composições“, refere Denise. “Eu costumo compor e criar debruçada numa mesa de madeira de mogno, portanto a escolha do nome foi automática, não houve assim grandes dúvidas.“. A artista descreve como o álbum como “uma obra intensa e coerente, onde cada faixa assume identidade própria, resistindo ao efémero e afirmando-se como matéria viva.”
“Mesmo Traço” abre portas ao universo do álbum
O single “Mesmo Traço”, lançado por Denise a 31 de Outubro, antecedeu o lançamento completo de “Mogno” e funciona como cartão de visita do álbum. “Mesmo Traço”, produzido por Lirys, é um bom retrato deste álbum e fala sobre inquietação e mudança, através de linhas vocais e instrumentais que cruzam elementos soul com batida hip hop. A letra desenvolve-se em torno de corações inquietos que não sabem quando vão parar, histórias que mudam conforme quem as vive também muda – “Eu gostava de saber como é que faço / Para sair deste lugar tão agitado“, canta Denise, antes de completar: “Mais uma história para contar / E tudo muda se eu também mudar.” Fica o vídeo em baixo:
“Mogno”: Um álbum que não foi pensado como álbum
“Mogno é o meu primeiro álbum, é um álbum que nasce sem ter sido pensado para nascer“, explica Denise. “Foi construído ao longo do tempo, mas depois de eu escutar todos os temas que tinha, percebi que fazia sentido tê-los juntos numa única obra, então nasceu assim, muito naturalmente, o álbum Mogno.“
Esta génese acidental não prejudica a coêrencia do resultado final. Os nove temas conversam entre si sem forçar uma unidade temática, deixando que o tom confessional das preocupações comuns surjam naturalmente: mudança, inquietação, relacionamentos que terminam, amores que persistem e dúvidas que não se resolvem.
“Este álbum conta com 9 temas, convidei vários beatmakers que admiro imenso, é um álbum com uma musicalidade que vai desde a neo-soul até o rap, tenho ali várias abordagens, retrato histórias minhas, histórias de pessoas próximas, é um álbum até um pouco biográfico“, resume Denise.
Nove temas entre o pessoal e o observado
“Ubíquo” abre o álbum com produção de TANB. O tema fala de amor que persiste mesmo quando parece ausente, de dúvidas sobre solidão que se revelam infundadas. “Este é o amor que tu falas / Transporto aqui sem tréguas / E se pensei que tu não estavas / Eu só mostrei que me sentia deserta“, canta Denise. Tal como o single “Mesmo Traço”, é um tema que atravessa as profundezas do soul e do hip hop sem carregar o peso de cada um dos géneros, e aproveitando apenas a luminosidade de cada um.
“Luz Negra”, com beat de Ruca SementeNegra, em contraste, trabalha densidade e escuridão como território de divagações e noites em branco. “Traz-me essa luz negra com devaneios nas minhas insónias / Enquanto essa luz negra brilha em todos os meus sonhos“, repete o refrão. A letra assume o dark side como opção, e o instrumental traz-nos isso mesmo, um pequeno piscar às profundezas mas sem nunca deixar a ligeireza que percorre o álbum. “Se Eu Não Souber” é uma slow-jam que coloca Pimenta na produção e desenha um mapa afetivo de quem reconhece fragilidades mas encontra razão para continuar com “Um amor para toda a vida“.
O tema “Purgas” continua com o tom confessional e questiona se as palavras são apenas um conto, enquanto Denise fala de causas sem costumes e consequências. A letra menciona dramas lúcidos como purgas necessárias, ao mesmo tempo que o instrumental de TK, acompanhado por um beat minimalista deixa a voz tomar a preponderancia necessária ao tema. “Leva-me Daqui Contigo” contrasta desejo de fuga com vontade de proximidade e transformação conjunta, ao mesmo tempo que nos introduz uma batida mais ritmada para constratar com as 2 anteriores.
“Encerramos O Nosso Caso” leva-nos a um território soul, escolha também transmitida pela progressão dos acordes do instrumental. É um tema sobre o fim de um “caso”, que termina através de mensagens apagadas e recados ignorados. “Desde ontem que eu não reparo se tens ligado / Já não me importo se me mandas algum recado / As mensagens que envias e apagas e depois dizes / Que foi engano“, canta Denise.
“#JNQM (Já Não Quero Mais)” e “Não Era Suposto” fecham o álbum com o cansaço acumulado perante discussões repetidas e dando ideia de que nada “disto” estava previsto. Entre questões, afirmações de limites e percursos partilhados, estes temas fecham o álbum com chave de ouro, onde a prestação vocal de Denise e trabalho dos demais convidados trazem-nos um conjunto de temas bastante sólido e bem produzido, sem cair em certos clichés da moda.
Tracklist do álbum “Mogno”, de Denise
- Ubíquo (prod. TANB)
- Mesmo Traço (prod. Lirys)
- Luz Negra (prod. Ruca SementeNegra)
- Se Eu Não Souber (prod. Pimenta)
- Purgas (prod. Tk)
- Leva-me Daqui Contigo (prod. Composto)
- Encerramos O Nosso Caso (prod. Dj Felllaz e Denise)
- #JNQM (Já Não Quero Mais) (prod. Composto, remake e arranjos Tayob J., vozes adicionais Rita Fialho)
- Não Era Suposto (prod. Tk)
Produção coletiva, visão individual
A lista de beatmakers convocados por Denise para “Mogno” atravessa diferentes gerações e estilos de produção. TANB, Lirys, Ruca SementeNegra, Pimenta, Tk, Composto e Dj Felllaz assinam as bases instrumentais, enquanto que todas as canções foram escritas e interpretadas por Denise. Zé Poças (Zé Menos) ficou responsável pela gravação, mistura e masterização na totalidade do disco, exceto “#JNQM”, que teve mistura de Tayob J., responsável também pelo remake e arranjos sobre base original de Composto. A ilustração da capa ficou a cargo de Jumas, com direção de arte partilhada entre o ilustrador e a própria Denise. A edição física do CD vai estar limitada a 100 unidades, portanto se quiseres comprar um… sê rápido!
Informação prática
Lançamento: 7 de novembro
Formato: Streaming e CD (edição limitada a 100 unidades)
Duração: 9 faixas
Produção: TANB, Lirys, Ruca SementeNegra, Pimenta, Tk, Composto, Dj Felllaz
Gravação/Mistura/Masterização: Zé Poças (Zé Menos), exceto “#JNQM” (mistura de Tayob J.)
Composição e interpretação: Denise
Ilustração: Jumas
Direção de arte: Denise e Jumas
Denise: De 2008 até aqui
Denise entrou no circuito musical português em 2008 e passou por colaborações com Barrako 27, Virtus, TNT, Beware Jack e Kaines antes de assumir a carreira a solo. Três mixtapes, um EP e diversos singles precedem este álbum, trajetória que mostra uma vontade constante em produzir e atingir outros patamares. A escrita de Denise equilibra intensidade soul com estrutura rap, território híbrido que a distingue dentro do panorama nacional. “Denise tem uma escrita afiada e destaca-se na cena portuguesa pelo seu cunho musical peculiar, uma abordagem híbrida que cruza a intensidade da Soul com a força do Rap, sempre com a qualidade e a personalidade que a caracterizam“, descreve a nota biográfica.
Recentemente, Denise apresentou na Feira do Livro do Porto o espetáculo “Ritmos e palavras com sotaque do Norte”, onde assumiu curadoria partilhada com Keso. O formato showcase e spoken word serviu de laboratório para testar alguns dos temas que acabariam em “Mogno”.
Transparência e honestidade
“Mogno” chega depois de uma década de amadurecimento, três mixtapes, um EP e colaborações várias. Não surge como resposta a expectativas alheias mas como resultado natural de um processo criativo próprio e que seguiu o seu próprio tempo. Dez anos podem parecer muito ou pouco, dependendo do que se constrói nesse intervalo, no caso de Denise, foram suficientes para perceber que tinha um álbum entre mãos sem sequer o ter planeado.
“É um álbum muito transparente, sem grandes artifícios e acima de tudo íntegro, ou seja, acaba por transparecer aquilo que eu realmente sou, enquanto pessoa, que não há assim tanta distinção enquanto Denise artista e Denise pessoa. E é isso, espero que gostem“, conclui a artista. “Mogno” já se encontra disponível nas diversas plataformas digitais do costume, não percas!
Instagram: @denise_soul | Facebook: @Denise.Soul
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