Seiki Kato, presidente e diretor representativo da Korg, faleceu a 21 de fevereiro de 2025 aos 67 anos. Deixa um legado duradouro na inovação musical a nivel mundíal e no espírito da marca que ajudou a moldar.
Com profunda tristeza, a Korg Inc. anunciou o falecimento do seu presidente, Seiki Kato, ocorrido no dia 21 de fevereiro de 2025, pelas 20h00, após uma luta contra uma doença prolongada. Tinha 67 anos. Filho mais velho de Tsutomu Kato, fundador da Korg, Seiki Kato dedicou praticamente toda a sua vida à empresa e ao universo da música eletrónica e tecnológica, deixando uma marca profunda tanto na indústria como na comunidade de músicos que utilizam os instrumentos da marca em todo o mundo. Hoje, o mundo da música despede-se de um exímio pioneiro, cuja influência se sente em cada nota criada com um instrumento Korg.

Uma vida dedicada à inovação musical
Nascido em Tóquio a 28 de março de 1957, Seiki Kato formou-se na Universidade de Tokai, na área de Ciências Marinhas e Aquacultura. Em 1980, ingressou na então Keio Giken Kogyo Co., Ltd., que viria a tornar-se Korg Inc..
Começou na área de vendas domésticas de produtos Korg no Japão, mas rapidamente revelou o seu espírito visionário. Em 1985, tornou-se Chefe de Planeamento de Produto, tendo desempenhado um papel crucial no desenvolvimento de instrumentos inovadores — entre os quais se destaca o lendário Korg M1, um dos primeiros e mais influentes workstations da história da música eletrónica.
A sua visão não era apenas técnica — era também cultural. Em 1988, mudou-se para os Estados Unidos, assumindo a presidência da Korg USA no ano seguinte. Sob a sua liderança, a presença da marca expandiu-se de forma significativa no mercado norte-americano, consolidando o nome Korg como sinónimo de excelência sonora e inovação acessível.
Em 2003, Seiki Kato foi nomeado Presidente e CEO da Korg Inc., cargo que manteve até ao seu falecimento. Ao longo dessas duas décadas de liderança, foi muito mais do que um gestor. Foi um mentor, um construtor de pontes entre engenharia e arte, e uma figura respeitada por colegas, engenheiros, músicos e parceiros da indústria.
“Uma força motriz que, durante décadas, impulsionou o sucesso da marca, conquistando o respeito profundo e a confiança de todos os que com ele trabalharam”, Korg
Um legado que ressoa em estúdios e palcos de todo o mundo
Mais do que um executivo, Seiki Kato ajudou a construir a linguagem sonora de várias gerações. Através da sua liderança na Korg, esteve diretamente envolvido no desenvolvimento de instrumentos que marcaram eras — não apenas pela sua inovação tecnológica, mas pelo impacto artístico e emocional que proporcionaram a músicos de todo o mundo.
Korg MS-20 (1978)
O Korg MS-20 original foi lançado em 1978, sendo desenhado pelo engenheiro Fumio Mieda e a sua equipa – tornou-se rapidamente um dos sintetizadores analógicos mais icónicos e acessíveis da sua era. Com o seu design semi-modular, filtros agressivos, e uma arquitetura de patching altamente explorável, o MS-20 oferecia aos músicos e criadores sonoros um laboratório portátil de síntese a um preço relativamente baixo. O seu caráter sonoro cru, os filtros ressonantes e a facilidade com que se podia quebrar as regras da síntese tradicional tornaram-no um favorito entre artistas experimentais e produtores eletrónicos. Utilizado por nomes como The Chemical Brothers, Portishead, Daft Punk, Mr.Oizo, Jean-Michel Jarre e Aphex Twin, o MS-20 foi muito mais do que um produto de nicho: foi uma porta de entrada para gerações de músicos no mundo da síntese. Sob a liderança de Seiki Kato, a Korg viria a relançar este clássico em formato MS-20 Mini em 2013, mantendo o circuito analógico original e introduzindo-o a uma nova geração — um gesto que encapsula na perfeição o respeito pela história e o compromisso com o futuro que definiram a sua presidência.
Korg M1 (1988)
O Korg M1, lançado em 1988, quando Kato já liderava o planeamento de produto. Este music workstation tornou-se rapidamente um dos teclados mais vendidos da história, graças à sua combinação inédita de síntese digital, sampler, efeitos embutidos e sequenciador num só instrumento. Foi usado em centenas de faixas de sucesso dos anos 90, incluindo:
- “Show Me Love” de Robin S. – com o inconfundível organ preset do M1
- “Rhythm Is a Dancer” dos Snap! – outro clássico dance com sons derivados do M1
- “Dreams” de The Cranberries – com camadas atmosféricas típicas do som Korg
Além do M1, Kato supervisionou e apoiou o desenvolvimento de uma série de instrumentos icónicos:
Korg Trinity (1995)
Um sucessor espiritual do M1, com sampling, síntese PCM, sequenciador e efeitos profissionais. Usado por Vangelis, Peter Gabriel, Herbie Hancock e Rick Wakeman, o Trinity levou a workstation digital para o patamar da produção profissional.
Korg Triton (1999)
Um dos teclados mais usados nos anos 2000 por produtores de hip hop, R&B e pop. Sons do Triton aparecem em músicas de Dr. Dre, Timbaland, Neptunes, Alicia Keys e Jay-Z — com pads, leads e pianos que se tornaram assinatura de uma geração.
Korg Kaoss Pad (1999 em diante)
Embora mais associado à performance ao vivo, o Kaoss Pad foi usado em estúdio por nomes como Radiohead, Muse, Bjork e Brian Eno, pelas suas capacidades de manipulação em tempo real com o touchpad. Kato apoiou a filosofia de design que priorizava a intuição e experimentação.
Korg MS-20 Mini (2013)

Durante o período mais recente da sua presidência, Kato foi um defensor ativo da reedição analógica do MS-20, mantendo o espírito do original de 1978. Esta reinterpretação conquistou tanto os nostálgicos como uma nova geração de produtores da cena modular, lo-fi e techno.
Mais do que instrumentos, ferramentas criativas
Mais do que um executivo, Seiki Kato ajudou a construir a linguagem sonora de várias gerações. Os instrumentos desenvolvidos sob a sua orientação tornaram-se ferramentas indispensáveis para músicos de todos os estilos, desde o pop ao experimentalismo, da música de cinema à produção eletrónica underground. Os instrumentos desenvolvidos sob a liderança de Kato não se limitavam à inovação técnica — eles inspiravam composição, expandiam fronteiras e criavam identidade sonora. Foram — e continuam a ser — usados por artistas em todos os estilos:
- Hans Zimmer e Ryuichi Sakamoto usaram Korg para bandas sonoras marcantes
- Massive Attack e Tricky exploraram os pads e texturas nos anos dourados do trip-hop
- Aphex Twin e Four Tet integraram sons Korg nos seus sets experimentais
- Daft Punk usaram timbres derivados de workstations como o Triton e o Karma
Na nota oficial divulgada pela Korg, lê-se:
“Continuaremos comprometidos em levar adiante a sua paixão e espírito de inovação, esforçando-nos por criar produtos que inspirem. Agradecemos sinceramente o vosso contínuo apoio.”
A equipa da Korg reafirma, assim, o compromisso com a visão que Seiki Kato deixou — uma visão de criatividade, acessibilidade e excelência musical. Se hoje tantos músicos têm acesso a ferramentas expressivas e acessíveis, é em parte graças à visão de líderes como Seiki Kato, que acreditavam que a tecnologia musical devia estar ao serviço da arte — e não o contrário. O Musica.com.pt presta homenagem a Seiki Kato, um nome que ficará para sempre ligado à evolução da música eletrónica no século XXI.